
Allan Kardec, pseud�nimo adotado pelo educador e autor franc�s Hippolyte L�on Denizard Rivail (1804-1869), viveu e atuou na Fran�a. Iniciou em 1857 a publica��o das obras fundamentais da doutrina esp�rita, sendo O livro dos esp�ritos o primeiro deles. A partir de 1860, seu trabalho atravessou o Atl�ntico, chegando ao Brasil por meio de publica��es e se disseminando com a prolifera��o de centros esp�ritas. Maior pa�s cat�lico do mundo, o Brasil � tamb�m a na��o com o maior n�mero de seguidores da doutrina.
Nesta d�cada, uma s�rie de produ��es de cunho esp�rita chegou aos cinemas, muitas vezes em grandes lan�amentos. Nosso lar (2010), adapta��o do livro hom�nimo psicografado por Chico Xavier (1910-2002), � o campe�o dessa seara. Levou 4 milh�es de pessoas ao cinema. Foi dirigido por Wagner de Assis. Antes da sequ�ncia dessa hist�ria, que o diretor promete para daqui a alguns anos, Assis assumiu um projeto mais ambicioso: fazer a cinebiografia do pr�prio Kardec. A ideia era explicar como um homem da ci�ncia se tornou o codificador da doutrina.
Kardec – A hist�ria por tr�s do nome, que chega nesta quinta-feira (16) a 430 salas em todo o pa�s, � um recorte biogr�fico de Rivail. O filme tem in�cio no come�o da d�cada de 1950, quando ele se aposenta da sala de aula (como pedagogo, era disc�pulo do su��o Johann Pestalozzi) e decide investigar um fen�meno que tomava conta da Paris da �poca: as mesas girantes, onde grupos de pessoas se reuniam para se comunicar com supostos esp�ritos.
Rivail n�o demora a deixar o ceticismo de lado ao se envolver com esse universo e conhecer m�diuns que atuavam como porta-vozes de esp�ritos. Empreende uma investiga��o e d� in�cio � publica��o dos livros. No meio do caminho, claro, encontra v�rias pedras. No filme, a principal delas assume a forma da Igreja Cat�lica.
Leonardo Medeiros interpreta o personagem-t�tulo. Sandra Corveloni vive sua mulher, Am�lie-Gabrielle Boudet, que tem uma atua��o determinante no trabalho. O filme foi rodado em Paris e no Rio de Janeiro. O roteiro, assinado pelo pr�prio Wagner de Assis, em parceria com L.G. Bay�o, foi feito a partir do livro Kardec – A biografia (2013), do jornalista Marcel Souto Maior. A editora Record aproveita a ocasi�o do lan�amento do filme para colocar nas livrarias uma nova edi��o do volume, com a capa inspirada no longa-metragem.
TRANSFORMA��O “Com Nosso lar, experimentamos a tem�tica no cinema por meio de um drama. Agora, mostramos a transforma��o heroica de um homem, que deixa de ser um professor reconhecido por seus pares para atuar em algo em que n�o acreditava”, comenta Assis. Com a repercuss�o de Nosso lar (que foi vendido para 40 pa�ses), a expectativa de Kardec � alta. “Eu, particularmente, tento bloquear qualquer expectativa”, diz o diretor. Mesmo assim, ele fez o filme visando ao p�blico em geral e n�o necessariamente a comunidade esp�rita. “Kardec � um nome reconhecido, mas o quanto ele � conhecido aqui � uma grande d�vida”, comenta.
Leonardo Medeiros foi o primeiro ator que veio � cabe�a de Assis para interpretar o papel-t�tulo. E o ator tem no filme um projeto caro por causa de sua hist�ria pessoal. “Minha m�e � de Sacramento (Tri�ngulo Mineiro), sobrinha de Eur�pedes Barsanulfo (1880-1918), m�dium reverenciado por Chico Xavier. Mesmo que de Kardec s� exista uma fotografia, ele sempre foi muito presente na vida familiar”, conta o ator, que diz ter tido uma “responsabilidade tripla” ao fazer o papel. “Ele foi uma figura hist�rica muito importante, e eu tive que encontrar a figura humana para fazer o filme. Al�m disso, tive uma responsabilidade com a hist�ria da minha fam�lia.”
Sandra Corveloni afirma que precisou pesquisar muito para encontrar o tom de Am�lie. “A biografia do Marcel foi nosso grande guia, mas, na verdade, ele n�o deu a devida aten��o a Am�lie no livro. Fui descobrindo-a depois, quando passei a frequentar centros, museus e a Federa��o Esp�rita”, conta a atriz. Kardec come�ou a ser filmado exatamente um ano antes de seu lan�amento. Em 16 de maio de 2018, tiveram in�cio as grava��es em Paris. Depois de uma semana na capital francesa, a equipe voltou para o Brasil, onde rodou por mais quatro semanas e meia.
A reconstitui��o de �poca foi grande no filme, rodado principalmente com luz natural – de velas ou de lampi�es (a luz el�trica s� chegaria a Paris anos mais tarde). A dire��o de arte cuidadosa, no entanto, esbarra no tom um tanto solene e arrastado que a narrativa ganhou.
Dois edif�cios hist�ricos que foram destru�dos pelo fogo no �ltimo ano t�m destaque na tela. A catedral de Notre- Dame, em Paris, aparece no fundo de meia d�zia de cenas, j� que a Pont de la Tournelle, muito pr�xima da catedral, foi loca��o de importantes momentos da trama. J� no Rio, o Museu Nacional aparece em uma cena externa, numa sequ�ncia em que crian�as m�diuns s�o cercadas pela popula��o.
De volta a Paris, outro ponto de destaque � o Palais-Royal. “Esta � uma loca��o em que o Kardec viveu muito, pois o Palais-Royal foi a primeira sede oficial da Sociedade de Estudos Esp�ritas de Paris. Numa das salas do local, que hoje j� n�o existe como antes, foi lan�ada a primeira edi��o de O livro dos esp�ritos”, diz Wagner de Assis.
M�diuns brasileiros na telona
Com previs�o de estreia em 12 de setembro, Divaldo – O mensageiro da paz, de Cl�vis Mello, � uma cinebiografia do m�dium baiano Divaldo Franco. Hoje com 92 anos, ele ainda atua na Mans�o do Caminho, obra social do Centro Esp�rita Caminho da Reden��o, fundado em Salvador, nos anos 1950. Publicou 270 livros. O filme recupera a trajet�ria de Divaldo desde a inf�ncia – ele descobriu a mediunidade com apenas 4 anos – at� a idade adulta. No elenco est�o Bruno Garcia, Regiane Alves e Marcos Veras.Outro m�dium brasileiro que ter� sua vida levada para o cinema � o mineiro Jos� Pedro de Freitas, o Z� Arig� (1922-1971). Rodado em 2018, em Congonhas (cidade natal do m�dium), Rio Novo e Cataguases, o longa Arig� � dirigido por Gustavo Fernand�z e traz Danton Mello no papel-t�tulo. O filme ainda n�o tem previs�o de estreia.
ORA��O NO SET
No Rio de Janeiro, uma das loca��es de Kardec – A hist�ria por tr�s do nome foi um casar�o do s�culo 19 no Bairro da Gl�ria. No dia em que a equipe estava fazendo uma visita para preparar o local, t�cnicos encontraram na antiga caixa de luz da resid�ncia uma carta em um papel amarelado. “Era uma pequena ora��o que pedia para que o trabalho que ia ser executado fosse aben�oado”, conta Sandra Corveloni. Wagner de Assis tirou v�rias c�pias da ora��o. A cada novo dia de filmagem, uma pessoa da equipe do longa iniciava os trabalhos lendo a ora��o.