Um astro do rock brit�nico homossexual, que dominou as paradas nos anos 1970 e 1980, com s�rios problemas de relacionamento e abuso de �lcool e drogas. Esse � o resumo, curto e grosso, de Freddie Mercury. Mas cai como uma luva para Elton John.
N�o v� aos cinema tentando encontrar em Rocketman, que estreia nesta quinta-feira (30), uma vers�o com mais plumas de Bohemian rhapsody. O novo filme, lan�ado com estardalha�o no Festival de Cannes, n�o � nem de longe uma cinebiografia. � um musical sobre a trajet�ria de Elton John, com costura para l� de inteligente da s�rie de hits que o cantor, compositor e pianista lan�ou em 50 anos de carreira.
Mas, v� l�: se quiser insistir, o “filme do Elton John” tem outros pontos em comum com o “filme do Queen”. Diretor de Rocketman, foi Dexter Fletcher quem terminou Bohemian rhapsody depois da demiss�o do cineasta Bryan Singer.
Os longas t�m um personagem em comum: John Reid, o antagonista de Rocketman (ex-amante e empres�rio de Elton John), aparece num pequeno papel em Bohemian rhapsody (chegou a empresariar o Queen). Os dois atores que interpretaram os astros tiveram que fazer arranjos na arcada dent�ria: Rami Malek colocou implantes para ficar com tantos dentes quanto Mercury; Taron Egerton sofreu uma “maquiagem dental” para exibir o diastema � la Elton John.
Fora isso, esque�a. Sente-se na poltrona e se prepare para duas horas de desvario kitsch, uma deliciosa sess�o de terapia para l� de barroca. Rocketman muito bem poderia ter sido dirigido por Baz Luhrmann (de Moulin Rouge).
“Quando voc� vai me abra�ar?”, pergunta o garoto Reginald Dwight ao pai ausente que nunca foi capaz de am�-lo. A pergunta, logo no in�cio da narrativa, vai nortear todo o filme. Reggie, filho de um casamento sem amor, torna-se Elton John e, a todo tempo, parece nos dizer que sua hist�ria � mais simples do que parece, a de algu�m que sempre quis ser amado.
Com uma fantasia rid�cula de diabo, Elton John, j� adulto, aparece numa sess�o dos alco�licos an�nimos. A partir do momento em que se apresenta para o grupo, o flashback dispara. Acompanhamos a hist�ria do menino com talento muito acima de m�dia que conhece um letrista e com ele comp�e v�rias p�rolas do cancioneiro pop.
Inteligentemente, Dexter Fletcher n�o construiu o filme de forma linear – Rocketman � uma fantasia de cunho biogr�fico em que as situa��es v�o se sucedendo sem obedecer � ordem cronol�gica (e n�o h� problema algum nisso). Dessa maneira, as can��es de dupla Elton John/Bernie Taupin aparecem descoladas da �poca original (veja nesta p�gina). As letras caem como uma luva para as situa��es espelhadas na tela – e n�o a seu tempo real.
Resolvida (e muito bem) essa quest�o, acompanhamos a trajet�ria de Elton, seu crescimento na m�sica, seu envolvimento amoroso e profissional com um empres�rio mau car�ter, sua amizade com Bernie Taupin. E todos os excessos que cometeu.
� um ponto de vista interessante, pois o filme deixa de lado a imagem mais recente do cantor. Desde que ficou s�brio, em 1991, Elton John se tornou benfeitor mundial, amigo de estrelas (Lady Di a maior delas). Pois a produ��o s� menciona isso nos minutos finais. Ao longo de duas horas fren�ticas, o longa constr�i a imagem do homem cheio de problemas que se tornou astro da m�sica.
Taron Egerton apresenta uma performance arrebatadora (inclusive cantando, vale dizer). Com elenco bem dividido – a egoc�ntrica m�e de Elton � defendida com brilho por Bryce Dallas Howard, assim o Bernie Taupin de Jamie Bell –, o filme conquista pela costura eficiente de uma trajet�ria interessante com m�sicas brilhantes.
Elton John, que acompanhou toda a produ��o (� produtor-executivo do longa), afirmou que “os baixos foram bem baixos, mas os altos tamb�m foram bem altos” em sua trajet�ria. Rocketman explora exatamente isso, mas com muita liberdade para ir al�m dos fatos.
VIDA E FILME
ROCKET MAN
>> Neil Armstrong pisou na Lua em 1969. Rocket man foi lan�ada tr�s anos mais tarde, ainda em plena corrida espacial. No entanto, a inspira��o maior veio do conto sci-fi The rocket man, de Ray Bradbury. A can��o foi produzida por Gus Dudgeon, que trabalhou com David Bowie em Space oddity. N�o faltou gente dizendo que Elton tentava copiar Bowie. Quando Elton se apresentou na ent�o Uni�o Sovi�tica, em 1979, ela foi nomeada Cosmonaut.
>> No filme, Elton John tenta se matar durante uma festa em sua casa, em Los Angeles. Chapado de �lcool e drogas, ele se joga na piscina e se encontra, no fundo, com sua vers�o crian�a vestida como astronauta.
TINY DANCER
>> Em 1970, Bernie Taupin acompanhou Elton John em sua primeira turn� pelos EUA. Ficou impressionado com as garotas da Calif�rnia. Conheceu Maxine Feibelmann, que se tornou sua primeira mulher. Inclu�da na trilha do filme Quase famosos (2000), a can��o renasceu quase 30 anos depois de lan�ada.
>> No filme, logo depois da estreia no Troubadour, em Los Angeles, Elton e Bernie v�o parar numa festa. O letrista, que havia combinado de explorar a cidade com o amigo no dia seguinte, conhece uma garota e desmarca o encontro.
THE BITCH IS BACK
>> Num dia em que Elton John estava de p�ssimo humor, Maxine, mulher de Taupin, teria dito: “The bitch is back” (a cadela est� de volta). O termo, por sinal, fez com que as r�dios demorassem a toc�-la. Mas quando a m�sica vingou, todas tiveram que faz�-lo – algumas emissoras introduziram efeitos sonoros no momento da palavra bitch, repetida in�meras vezes.
>> No filme, � o primeiro n�mero musical. Elton, ainda crian�a, canta a m�sica na rua com os vizinhos.
DON’T LET THE SUN GO DOWN ON ME
>> Fortemente influenciada pelos Beach Boys (Brian Wilson � um dos �dolos de Elton John), tanto que Carl Wilson e Bruce Johnston fizeram vocais junto da cantora Toni Tennille. A balada passa a ideia de perd�o, pois o narrador implora, melodram�tico, pela volta do amor perdido. T�pica can��o que cresce em apresenta��es ao vivo, foi quase surrupiada por George Michael depois
de seus duetos com Elton em 1985 (no Live aid) e em 1991.
>> No filme, Elton est� no est�dio e faz dueto com a engenheira de som Renate Blauel. Na cena seguinte, os dois aparecem casados.