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Estado de Minas

F�, calma e sabedoria contra o caos: o que recomenda este l�der ind�gena

Autor de 'Ideias para adiar o fim do mundo', Ailton Krenak debateu-as em BH, durante o Encontro Internacional Arte, Cultura e Democracia no S�culo 21


postado em 25/08/2019 06:00 / atualizado em 25/08/2019 07:59

(foto: Neto Gonçalves/Divulgação)
(foto: Neto Gon�alves/Divulga��o)

Em 1987, no contexto das discuss�es da Assembleia Constituinte, o l�der ind�gena, ambientalista e escritor Ailton Krenak fez um gesto que entrou para a hist�ria. Em sinal de luto pelo retrocesso na tramita��o dos direitos ind�genas, ele pintou o rosto de preto com pasta de jenipapo enquanto discursava no plen�rio do Congresso Nacional, em Bras�lia. “Se for para repetir esse gesto, tomara que seja com mais gente. Um homem sozinho n�o consegue nada. Mas n�o adianta ficar estressado, angustiado. Mesmo diante desse caos, precisamos n�o perder a f� e a calma. � preciso resolver as coisas com sabedoria”, afirma Krenak, que esteve em Belo Horizonte na quinta-feira passada (22), como convidado do Encontro Internacional Arte, Cultura e Democracia no S�culo 21, promovido pela Prefeitura.


Apesar do tom sereno, Krenak n�o esconde a preocupa��o, sobretudo com rela��o �s mais recentes trag�dias ambientais, como as queimadas em curso na Amaz�nia. “A Amaz�nia � um bioma complexo e regulador do clima e distribui chuvas, al�m de reciclar e limpar o oxig�nio do planeta. Os governos europeus sabem dessa import�ncia e por isso est�o se manifestando, preocupados com a situa��o”, observa Krenak. Para os povos ind�genas, no entanto, a rela��o � outra. “� como se fosse uma entidade � qual muitos povos se sentem vinculados e na obriga��o de proteg�-la.”

''Um homem sozinho n�o consegue nada. Mas n�o adianta ficar estressado, angustiado. Mesmo diante desse caos, precisamos n�o perder a f� e a calma. � preciso resolver as coisas com sabedoria''

Ailton Krenak, l�der ind�gena e escritor

Embora valorize a preocupa��o dos governantes europeus, o l�der ind�gena avalia que eles deveriam ter tomado decis�es em rela��o � prote��o da Amaz�nia h� muito tempo, como a suspens�o das importa��es de carne de boi, de frango, soja e min�rio. “A pecu�ria, a minera��o, tudo isso est� devastando nossas paisagens, nosso meio ambiente. Fran�a, Alemanha e outros pa�ses deveriam colocar alguma restri��o na hora de importar esses produtos. J� que nosso presidente decidiu avacalhar tudo, ele mesmo poderia fazer algo nesse sentido. Proibir a venda dessas mercadorias, por exemplo”, sugere.

Krenak � pessimista com as perspectivas do governo de Jair Bolsonaro. Particularmente, ele se refere ao presidente como Nero, o imperador romano famoso por ter incendiado Roma. “Vivemos um per�odo cr�tico, com amea�as aos direitos humanos, � ideia do Estado de direito. Enquanto existir esse governo agredindo o senso comum, desrespeitando tudo e todos, desmantelando a infraestrutura de governan�a que recebeu, a gente n�o tem esperan�a nenhuma de melhorar. Mas temos que seguir firmes, fortes e resistentes”, afirma.

Ideias para adiar o fim do mundo, o mais recente livro de Ailton Krenak, lan�ado neste ano pela Companhia das Letras, tenta trazer um pouco de alento, apesar de seu t�tulo ter apavorado muita gente, como observa o autor. “N�o � no sentido de amedrontar, mas para ampliar nossas vis�es, nossas perspectivas de vida. Temos que sonhar mais, ampliar os horizontes da exist�ncia da Terra. Essa obra � uma convocat�ria para se ter uma postura diante do futuro. Qual � o mundo que queremos deixar para as novas gera��es?”

Krenak celebra o fato de autores ind�genas estarem conquistando espa�o no mercado editorial. “� muito importante (os editores) se interessarem e valorizarem n�o s� o que os ind�genas t�m feito, mas os quilombolas tamb�m. Temos que ampliar essas vozes”, diz.

Atualmente morando em Resplendor (MG), �s margens do Rio Doce, regi�o de origem dos Krenak, ele lamenta as condi��es a que seu povo est� submetido, principalmente ap�s o rompimento da barragem da Samarco, em 2015. “Ainda estamos sentindo os efeitos. Estamos refugiados dentro de casa, como se fosse um acampamento dentro do nosso pr�prio territ�rio. Temos caminh�o-pipa trazendo �gua, os animais sendo alimentados com ra��o. Infelizmente, o Rio Doce ainda vai demorar muito para voltar a ser uma fonte de subsist�ncia. Ouso dizer que ele est� pior do que o Arrudas.”

Enquanto isso, o l�der ind�gena segue a filosofia de sua etnia, com a “cabe�a na terra”, que � o significado da palavra Krenak. “Cada cultura tem a sua maneira de orar. No nosso caso, a gente se ajoelha e coloca a cabe�a na terra para se ligar a ela, fazendo contato com esse planeta t�o maravilhoso. � assim que temos que continuar.”


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