
Do alto da Serra da Piedade, no Santu�rio mantido pela Arquidiocese de BH, a 52 quil�metros de Belo Horizonte e a 1.746 metros de altitude, observa-se um “um mar de montanhas”, at� onde a vista alcan�a. Tamanha beleza, entretanto, esconde a devasta��o causada pela atividade mineradora na Regi�o Central do Estado.
Excepcionalmente neste s�bado (31), esse lado triste, �s vezes oculto, das nossas paisagens estar� escancarado na exposi��o � Minas Gerais - Paisagens transit�rias, montada no local pela fot�grafa belo-horizontina Julia Pont�s. Premiado internacionalmente, o trabalho mostra um registro a�reo dos principais pontos de extra��o mineral em Minas Gerais, mas tamb�m mergulha no interior do problema que afeta milhares de pessoas e a natureza ao redor.
A exposi��o de hoje, na Serra da Piedade, � fruto da colabora��o de J�lia Pont�s com o projeto Paix�o e f�, criado em 2017, no qual o pianista e compositor T�lio Mour�o e a cantora Titane apresentam um repert�rio formado por can��es que remetem � cultura de Minas e � valoriza��o socioambiental do estado. Entre elas, Ponta de areia (Milton Nascimento e Fernando Brant), Promessas de sol (Milton Nascimento e Fernando Brant), D�o du� (dom�nio p�blico, do Vale do Jequitinhonha), Terer� (Kanatyo Patax�), Quanto vale (Djamb�), al�m de poemas de Drummond, como O maior trem do mundo.
O espet�culo musical j� passou por v�rias localidades mineiras e neste s�bado integra a programa��o da 6ª Peregrina��o Mineira do Ter�o dos Homens ao Santu�rio da Serra da Piedade. Ainda neste s�bado, Titane se apresenta em Belo Horizonte, num espet�culo em homenagem ao diretor Jo�o das Neves (1935-2018), de quem � vi�va.

No entanto, atuar na administra��o p�blica foi uma decep��o para a mineira, que viu na fotografia, apenas um hobby at� ent�o, uma possibilidade mais potente de promover as a��es que desejava.
“Eu j� morava fora h� alguns anos e, sempre que ia pousar em Confins, ficava incomodada com os buracos que via na paisagem. S�o tr�s minas pr�ximas � cabeceira da pista. J� pensava em registrar aquilo, j� que ningu�m falava dessa transforma��o do estado em um ‘queijo-su��o’. Quando aconteceu (o desastre ambiental de) Mariana (em novembro de 2015), percebi como o risco das barragens era muito maior do que compreend�amos. Ent�o, comecei uma investiga��o antropol�gica dessas barragens, consegui um piloto de avi�o que topou e iniciei o processo”, conta a fot�grafa, que afirma ter em seu arquivo fotos de 70% das minas do estado, num processo que, segundo ela, n�o se encerrou.
Antes de iniciar os registros em sua terra natal, J�lia migrou de vez para a fotografia, formando-se ainda em 2015 pelo International Center of Photography de Nova York, onde alterna sua resid�ncia atual com S�o Paulo. Ela avalia que atrav�s das lentes sua atua��o social � mais satisfat�ria.
“Dentro do governo eu n�o tinha voz. Trabalhar l� foi muito decepcionante. Com a fotografia consigo dar uma repercuss�o bem maior �quilo em que acredito, com mais liberdade”, diz a fot�grafa, premiada no exterior com o Planetary Health Alliance, da Universidade de Harvard, e pela plataforma online Visura.co, voltada para hist�rias visuais empoderadoras.
O reconhecimento em premia��es dedicadas a propostas fotogr�ficas associadas a algum engajamento foi poss�vel porque Pont�s n�o exibe a situa��o das montanhas mineiras apenas sob o ponto de vista est�tico em seus sobrevoos. Ativista da causa ambiental e atuante no Movimento pela Soberania Popular na Minera��o, ela visitou por terra as regi�es fotografadas para realizar pesquisas sobre os impactos no meio ambiente e nas popula��es locais.

“Minha inten��o � ter um atlas visual. Um testemunho para o futuro de que esses lugares existiram. � um trabalho feito com muita pesquisa. N�o tenho distanciamento dessa realidade, sempre procurei uma abordagem al�m do visual, com informa��es que coleto em campo para criar as minhas legendas”, diz Pont�s. Segundo ela, as experi�ncias pessoais que mais a impactaram nesse processo foram sua primeira ida a Bento Rodrigues, no come�o de 2016, e os quatro meses de trabalho volunt�rio em Brumadinho, no primeiro semestre deste ano.
Em exposi��es e em seu site (www.juliapontes.com), as imagens do projeto s�o acompanhadas de informa��es relacionadas ao impacto socioecon�mico ou ambiental provocado pela minera��o naquela �rea.
“Escolhi usar a abstra��o da imagem para pegar as pessoas com a defesa baixa. Procurei uma estrat�gia que fizesse um di�logo universal sobre a minera��o, que penetrasse em distintas esferas da imagem, tanto em exposi��es em museus quanto em revistas, porque � um trabalho sobre a mensagem que ele leva, n�o sobre mim, nem sobre as imagens em si.”
Segundo a fot�grafa, “foi muito importante, ao longo desses anos mostrando esse trabalho no exterior, destacar que o Brasil n�o era s� a Amaz�nia. Essa era uma preocupa��o desde o in�cio. � sobre o lugar de onde venho e � um problema em rela��o ao qual todos somos respons�veis, em qualquer lugar do mundo, pela forma que consumimos, que torna necess�rio extrair uma tonelada de min�rio para se produzir 18 celulares. N�o podemos ter essa economia totalmente baseada no extrativismo. � preciso repensar nossas responsabilidades como cidad�os, eleitores e consumidores”, afirma Pont�s, que destina 20% das vendas de impress�es fotogr�ficas de seu trabalho para comunidades atingidas por barragens em Minas Gerais.
6ª Peregrina��o Mineira do Ter�o dos Homens ao Santu�rio da Serra da Piedade
Espet�culo Paix�o e f�, com Titane e T�lio Mour�o, e exposi��o � Minas Gerais - Paisagens transit�rias, de J�lia Pont�s. S�bado (31), �s 13h, no Santu�rio Bas�lica Nossa Senhora da Piedade (Alto da Serra da Piedade s/n Zona Rural, Caet�, MG).