
Com 50 anos de carreira, Bob Wolfenson, destaque da fotografia brasileira, revela os desafios de seu of�cio em um “curso-document�rio” on-line. “A ideia � mostrar minha experi�ncia, como � dolorosa, o quanto � dif�cil. � olho, repert�rio, cora��o, disciplina”, diz Bob, autor de cultuados ensaios femininos, especialmente na revista Playboy, e de registros em preto e branco de personalidades.
Grava��es do curso Em busca do retrato perfeito – parceria dele com Roberto Cecato e Fotoweb Academy – traz pr�ticas ministradas a 12 alunos. As 20 aulas se destinam a profissionais e iniciantes. “Convidamos pessoas que se inscreveram para ser fotografadas e montamos um set de filmagens, com debates e questionamentos muito interessantes”, explica. O v�deo est� dispon�vel em www./fotowebacademy.com/inscreverbob.
Wolfenson diz que o retrato � um momento entre duas pessoas. “Tenho uma c�mera fotogr�fica, a luz que vou montar e a imponderabilidade do encontro. Tenho o set fotogr�fico, mas h� ali o outro, eu, o dia, a conjuntura, o hor�rio. Por isso, rejeito a ideia de que retrato � a capta��o da alma. Isso � pretens�o muito grande, pois o fot�grafo � um especialista em breves encontros. Voc� n�o precisa saber de toda a vida da pessoa para fazer um belo retrato”, argumenta.
Ao comentar as inova��es de seu of�cio, afirma que a fotografia digital � “uma revolu��o”, que “cont�m o melhor e o pior de suas possibilidades”. “Nunca houve tanta foto ruim como hoje, mas nunca houve tanta possibilidade de alcance para as pessoas como espectadoras e autoras. Antes, era preciso muito dinheiro para ser fot�grafo. Equipamento era caro, tinha filme, revela��o. Hoje, franqueou-se a possibilidade de construir todo um trabalho com uma boa ideia.”
O nu tamb�m � contemplado no curso-document�rio. O auge da Playboy nos anos 1990, acredita, foi “divisor de �guas” tanto para a revista quanto para ele e as mulheres fotografadas. Ele as chama de “personagens” dos ensaios. “Isso facilita a autoexposi��o, pois ajuda bastante estar travestida de alguma coisa que n�o � voc� exatamente. Deixa-se de vender o corpo � toa para estar envolvida em uma trama, uma narrativa.”
TIRA!
O estilo conceitual de ensaios com Alessandra Negrini (2000), Mait� Proen�a (1996) e Nanda Costa (2013), entre outras mulheres, fez com que Bob fosse detestado. “Masturbadores de plant�o me queriam fora da revista. Via as cartas dos leitores: ‘Tira esse Bob da�!’. Se um dia fizer uma exposi��o com as fotos da Playboy, ela vai se chamar Tira esse Bob da�”, brinca ele, consciente das discuss�es sobre a representatividade feminina e pol�micas envolvendo o nu e a objetifica��o do corpo da mulher.
“Muitas coisas se interpunham entre mim e a fotografada. Acho interessantes as discuss�es e o feminismo que afloram hoje, porque na �poca da Playboy usava-se um espa�o de objetifica��o supermachista, com v�rias piadas horr�veis na revista. Por�m, v�rias modelos, grandes atrizes e a pr�pria Fernanda Young, por exemplo, foram statements a respeito da liberdade. Estavam ali porque podiam e porque queriam, sem se submeter a nada”, defende.
Bob lamenta a morte de sua amiga Fernanda, h� pouco menos de um m�s, em Minas. “Ela era t�o jovem, t�o solar, t�o necess�ria. Foi embora, pluft, sem combinar com ningu�m. � uma das coisas que a profiss�o de fot�grafo me deu: conhecer pessoas t�o interessantes”, conclui.