
Ela � a Regina da atual temporada de Malha��o, na Globo. E tamb�m a Lolita de Hebe – A estrela do Brasil, a forasteira de Bacurau e a locutora de No cora��o do mundo, tr�s representantes da boa safra do cinema brasileiro.
Natural de Petr�polis (RJ), a atriz Karine Teles, que dedicou 27 de seus 41 anos ao of�cio, comemora o bom momento. “Foi uma feliz coincid�ncia todos esses projetos chegarem ao p�blico agora, sobretudo os filmes. Fa�o cinema h� 10 anos, mas de uns tempos pra c� ele ficou ainda mais presente na minha vida. Rodei No cora��o do mundo h� uns dois anos, Bacurau h� um ano e meio, e Hebe em 2018. Os tr�s aconteceram ao mesmo tempo, e ainda tem Malha��o. � muito bacana”, ressalta.

A televis�o � algo relativamente novo para Karine. Sua primeira a participa��o na TV foi justamente em Malha��o, em 2000. “Era muito nova, inexperiente, foi uma coisa bem pequena. Agora � diferente”, comenta. Na atual temporada do seriado teen, a atriz interpreta a decoradora Regina. Casada com o machista e grosseir�o Max (Roberto Bomtempo), � m�e de Guga (Pedro Alves) e lida com uma situa��o delicada, pois acaba de descobrir que o filho � gay.
“Acho importante discutir temas como esse, ainda mais em tempos de homofobia. A TV aberta tem alcance muito grande no Brasil, � a �nica fonte de informa��o para muitas pessoas. Ao mesmo tempo, � uma op��o de entretenimento e traz assuntos que devem ser debatidos. Muita gente vai se identificar com a situa��o que a fam�lia da Regina est� atravessando”, acredita.

Karine fez participa��es nas novelas A regra do jogo (2015) e Tempo de amar (2017), al�m da s�rie Filhos da p�tria (2017). Desta vez, ela atua do primeiro ao �ltimo cap�tulo de uma trama televisiva. Malha��o – Toda forma de amar estreou em abril e deve ficar quase um ano no ar. “Em todos os trabalhos que fiz na TV e no cinema, sabia o que aconteceria com o personagem. Agora � diferente, a gente vai descobrindo ao longo do processo. �s vezes, o autor surpreende com coisas que voc� nunca imaginou. Estou achando um exerc�cio incr�vel, fora que a equipe e meus colegas s�o maravilhosos. Adoro contracenar com o Roberto (Bomtempo), um supercompanheiro que tem muita experi�ncia e talento”, revela.
Em janeiro, ela vai aparecer em dose dupla na Globo. Al�m de Malha��o, estar� na s�rie Hebe, desdobramento do longa dirigido por Maur�cio Farias e estrelado por Andr�a Beltr�o. No filme, Karine interpreta Lolita Rodrigues. Participa apenas de uma cena ao lado de Andrea e Cl�udia Missura (Nair Bello). “O seriado ter� mais coisas, inclusive maior espa�o para a amizade das tr�s. N�o cheguei a ter contato com a Lolita, minha pesquisa foi toda por internet. O diretor n�o queria que a imitasse, mas que ela fosse uma inspira��o”, explica.
CINEMA Karine estreou na telona fazendo uma ponta em Madame Sat� (2002). Mas a paix�o pelo cinema veio com Riscado, longa que protagonizou e escreveu em parceria com Gustavo Pizzi, seu marido na �poca, diretor da produ��o. O filme conquistou pr�mios importantes nos festivais do Rio (melhor atriz/ 2010) e de Gramado (dire��o, atriz, roteiro/ 2011).
“Riscado representou uma vontade muito grande de fazer cinema. O mercado estava come�ando a aquecer, mas n�o sabia como entrar ali. O Gustavo me ajudou muito, tinha conhecimento mais t�cnico da linguagem de roteiro. Eu me meti a escrever. Na verdade, escrevia desde adolescente, � uma v�lvula de escape. A partir dali n�o parei mais.”
Outro filme que Karine estrelou e escreveu, tamb�m em parceria com Pizzi, foi o premiado Benzinho (2018). Ela contracena com os filhos, os g�meos Francisco e Artur Teles Pizzi, e � dirigida pelo ex. “Estamos separados como casal, mas somos parceiros de trabalho e tamb�m na cria��o dos nossos filhos, j� que temos guarda compartilhada. Respeito muito o Gustavo como pessoa e como profissional”, frisa.
A grande virada de Karine veio com Que horas ela volta, escrito e dirigido por Anna Muylaert. O filme trata da desigualdade social e da complexa rela��o entre empregadas dom�sticas e patr�es no Brasil. Val (Regina Cas�) trabalha para B�rbara (Karine Teles) e Jos� Carlos (Louren�o Mutarelli), casal de classe m�dia alta. “Assim que li o roteiro, quis fazer o filme de todo jeito. Tive a sensa��o de que seria importante levar aquelas quest�es para o cinema. At� hoje as pessoas me reconhecem por conta desse trabalho. Sem d�vida, foi o divisor de �guas na minha vida”, destaca.
MINAS H� pelo menos cinco anos Karine mant�m rela��o pr�xima com “os meninos” da Filmes de Pl�stico, de Contagem. Trabalhou em tr�s curtas da produtora – Quinze (2014), Constela��es (2016) e Nada (2017), al�m de fazer participa��o especial�ssima no longa No cora��o do mundo (2019), como a locutora de um carro de mensagens.
A parceria se estreitou ainda em Princesa, o novo projeto cinematogr�fico de Karine. “Ia mensalmente a BH ou Contagem ter a consultoria deles. A produ��o acabou sendo do Thiago Mac�do Correia (integrante da Filmes de Pl�stico) e da Tatiana Leite. Com seu jeito especial, �nico e muito aut�ntico de fazer cinema, eles t�m chamado a aten��o dentro e fora do Brasil”, observa.
Com roteiro e dire��o de Karine, Princesa conta a hist�ria de uma mulher que v� o relacionamento com o marido amea�ado pelo v�rus que faz com que as pessoas regridam moralmente. “A inspira��o veio dessa sensa��o de retrocesso e conservadorismo que vivemos no mundo inteiro”, revela.
Princesa conta com a consultoria de roteiro de um profissional com quem Karine sempre teve o desejo de trabalhar: o cineasta pernambucano Kleber Mendon�a Filho. “Fiquei muito feliz de ele me convidar para Bacurau. � uma personagem muito diferente de tudo que j� fiz. Foi muito dif�cil, ainda mais com esse lado da viol�ncia. Nunca imaginei que fizesse algo matando ou morrendo”, revela.
Karine diz que Bacurau est� intimamente ligado � hist�ria do pa�s. “Ele fala de uma quest�o ancestral do Brasil. Fomos col�nia durante muito tempo e ainda somos explorados por estrangeiros. � maravilhoso ver a trajet�ria desse filme, como ele vem sendo aclamado em v�rios lugares. Cannes foi um feito enorme. Tudo isso � um recado do universo”, comemora. O longa ganhou o Pr�mio do J�ri do festival franc�s.
No entanto, nem tudo � festa. Karine Teles teme pelo futuro do audiovisual brasileiro, ao comentar a pol�tica adotada pelo governo Jair Bolsonaro para o setor. “S�o anos de trabalho cont�nuo gerando impostos e empregos, rodando festivais internacionais e conquistando premia��es importantes. Sem contar os filmes que levam milh�es de pessoas �s salas de exibi��o do pa�s. Tudo o que est� acontecendo faz com que a gente pense em desistir. Mas temos que resistir”, conclui.
CARREIRA
2010 – Riscado
2013 – O lobo atr�s da porta
2014 – Quinze
2015 – Que horas ela volta?
2017 – Fala comigo

2017 – Quando o galo cantar pela terceira vez renegar�s tua m�e
2018 – Benzinho

2019 – No cora��o do mundo
2019 – Bacurau
2019 – Hebe: a estrela do Brasil
2019/2020 – Malha��o: toda forma de amar
2020 – Hebe (s�rie)