
No ver�o de 1980, John Lennon pegou, em Rhode Island, um pequeno barco rumo �s Bermudas. Alugou uma casa com a inten��o de passar um per�odo preparando um �lbum que marcaria seu retorno – desde o nascimento do filho Sean, cinco anos antes, ele se dedicava mais � fam�lia com Yoko Ono do que � m�sica. O manuscrito de Grow old with me � datado de 5 de julho.
Inspirado pelo poema Rabbi ben Ezra, do brit�nico Robert Browning, e tamb�m como uma resposta � letra de Let me count the ways, que Yoko havia escrito havia pouco, Lennon criou versos como “Grow old along with me/The best is yet be” (Envelhe�a junto comigo/O melhor ainda est� por vir). Nas Bermudas, chegou a gravar uma demo. Seu assassinato, em 8 de julho daquele ano, interrompeu o �lbum. Grow old with me veio a aparecer quatro anos mais tarde, no disco p�stumo Milk and honey.
Trinta e nove anos mais tarde, Ringo Starr, de 79 anos, recupera tal can��o. Grow old with me � um dos destaques de What's my name. Lan�ado ontem (25), o 20º �lbum do baterista dos Beatles � uma continuidade do que ele vem fazendo h� tr�s d�cadas, desde que criou a All Starr Band, uma esp�cie de jam session de luxo (vista em BH em novembro de 2011, no KM de Vantagens Hall).
Em seu est�dio em Roccabella West, Los Angeles, ele convidou seus amigos para tocar e gravar. Assumindo as baquetas e a produ��o, neste trabalho Ringo contou com as colabora��es de Joe Walsh (guitarrista que integrou os Eagles, entre outras bandas), Dave Stewart (ex-Eurythmics), Colin Hay (l�der do Men at Work), Steve Lukather (fundador do Toto), Edgar Winter, todos m�sicos que em algum momento tocaram na All Starr.

PAREDE DE VIDRO
"N�o quero mais estar em um est�dio de grava��o antiquado", afirmou o baterista quando houve o an�ncio do lan�amento de What's my name – o t�tulo foi tirado da can��o que fecha o disco, m�sica que Colin Hay, em uma das participa��es com o All Starr, enviou para ele. "J� tive o suficiente da grande parede de vidro e da separa��o”, acrescentou ele, dando prefer�ncia aos encontros pr�ximos com velhos companheiros.
Desta vez, ele foi ainda atr�s de Paul McCartney, que gravou o baixo de Grow old with me. Os arranjos de cordas foram de Jack Douglas, produtor que esteve envolvido em Milk and honey antes de entrar em lit�gio com Yoko Ono. Grow old with me, vale dizer, foi uma das demos de John Lennon que Yoko enviou aos Beatles para serem registradas nos anos 1990. Na �poca, os tr�s remanescentes decidiram trabalhar em Free as a bird e Real love.
Ringo admitiu que n�o se lembrava da can��o das Bermudas. “Fiz o meu melhor. N�s fizemos o nosso melhor. John est� de certa forma na m�sica. E as cordas que Jack criou, se voc� realmente prestar aten��o, t�m a mesma linha de Here comes the sun (de George Harrison). Ent�o, de certa forma, somos n�s quatro.”
What's my name traz ainda outro momento Beatle. Ringo gravou uma vers�o eletr�nica (um tanto estranha e dispens�vel) de Money (That's what I want), can��o da Motown composta por Berry Gordy e Janie Bradford que os Fab Four transformaram em hit em 1963.
As oito faixas restantes, de autoria de v�rios dos colaboradores da All Starr, t�m bons e maus momentos. Can��o de abertura do �lbum, Gotta get up to get down (Richard Starkey/Joe Walsh) � um blues rock com letra que tenta brincar com a tecnologia. “Todo mundo est� na internet/O que h� com isso?”, canta Joe Walsh, de forma mais do que dispens�vel.
O lugar de coadjuvante de Ringo nos Beatles trouxe, de certa forma, conforto. "Quando era adolescente, minha m�e sempre dizia: 'Filho, voc� fica mais feliz quando est� tocando.' E ainda � verdade at� hoje”, ele afirmou recentemente. Pois ao longo de tantas d�cadas de atividade, sem precisar provar muita coisa para algu�m, ele vem tocando com os amigos. N�o deixa de impressionar tamb�m que, a cada dois anos, ele lance um novo disco.
Os momentos em que Ringo n�o sai de sua zona de conforto s�o os melhores de What's my name. Magic (Richard Starkey/Steve Lukather), Better days (Sam Hollander), Life is good (Richard Starkey/Gary Burr) e Thank God for music (Richard Starkey/Sam Hollander) exploram, de diferentes maneiras, mensagens positivas. O Beatle paz e amor (n�o h� imagem mais relevante de Ringo do que fazendo o s�mbolo com os dedos) espalha palavras de ordem nestas can��es. S�o m�sicas que bebem na fonte do pop rock, com coros, alguns solos e um sotaque sessentista.
Mais elaborada, mas na mesma toada, em Send love spread peace (Richard Starkey/Gary Nicholson) Ringo pede, acompanhado de um bonito arranjo de cordas, para imaginar um mundo maravilhoso que viria por meio do amor e da paz. � ut�pica, por vezes anacr�nica para os tempos atuais, mas funciona.

Fiz o meu melhor. N�s fizemos o nosso melhor. John est� de certa forma na m�sica. as cordas que Jack criou, se voc� realmente prestar aten��o, t�m a mesma linha de ere comes the sun de George Harrison). Ent�o, de certa forma, somos n�s quatro”
Ringo Starr,
sobre a grava��o de Grow old with me