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Estado de Minas

Elia Suleiman roda o mundo em busca de sua Palestina

No longa 'O para�so deve ser aqui', em cartaz em BH, diretor interpreta um cineasta palestino que viaja por diversos lugares em busca de financiamento para rodar um filme


postado em 26/12/2019 04:00

Elia Suleiman filma em diversas cidades, incluindo Paris, onde roda cenas num café. Longa recebeu o Prêmio Especial do Júri em Cannes (foto: Imovision/Divulgação)
Elia Suleiman filma em diversas cidades, incluindo Paris, onde roda cenas num caf�. Longa recebeu o Pr�mio Especial do J�ri em Cannes (foto: Imovision/Divulga��o)

O cineasta palestino Elia Suleiman veio ao Brasil em outubro passado, quando foi homenageado com o Pr�mio Humanidade pela Mostra de S�o Paulo. Suleiman teve direito a uma retrospectiva de seus filmes e apresentou o mais recente deles, O para�so deve ser aqui, que recebeu o Pr�mio Especial do J�ri no Festival de Cannes, em maio, e agora entrou em cartaz no circuito comercial brasileiro. Em BH, est� em cartaz no Cine Belas Artes (Sala 3, 19h30). O filme tem a participa��o do ator mexicano Gael Garc�a Bernal.

Suleiman faz o pr�prio papel, o de um cineasta que viaja pelo mundo falando sobre a Palestina e buscando financiamento para a pr�xima produ��o. De um produtor franc�s, ouve a p�rola: "O filme n�o � suficientemente palestino". Mas se � dele, com ele, um filme j� � palestino por natureza. Com base numa decis�o da Academia de Artes e Ci�ncias Cinematogr�ficas de Hollywood, o diretor ganhou o direito de concorrer ao Oscar, embora a Palestina n�o seja reconhecida como pa�s. Suleiman pode dizer: "A Palestina sou eu".

Em Bel�m, Paris ou Nova York, o Suleiman de O para�so deve ser aqui � sempre um observador do absurdo do mundo. Ele quase n�o fala. Olha, e nisso seu cinema se aproxima de outros artistas tamb�m considerados inclassific�veis – o franc�s Jacques Tati, criador do emblem�tico M. Hulot, o georgiano Otar Iosseliani, cuja obra em grande parte se desenvolve na Fran�a.

Suleiman � um autor de filmes considerados pol�ticos, mas relativiza essa afirma��o. "Fa�o filmes para compartilhar o prazer pelas imagens, n�o em prol da educa��o pol�tica. Sempre acreditei que o diretor que se coloca na posi��o de quem vai ensinar est� destinado ao fracasso. N�o sou professor, sou um artista. E tenho outra cren�a: nenhum filme termina com a palavra ‘Fim’."

O ideal � que ele continue com o espectador e, para atingir seu objetivo – criar uma imagem que o p�blico tenha prazer em compartilhar –, Suleiman vale-se de uma narrativa epis�dica. O rep�rter arrisca uma pergunta durante a entrevista que o cineasta lhe concede: os esquetes s�o t�o independentes que poderiam ser mostrados em outra ordem, n�o?. "Acredite, chegar ao filme como est� me deu muito trabalho. � uma quest�o de ritmo, mais que de linearidade narrativa. Mas se acha que poderia montar de forma diferente, v� em frente. Tente!"

CAF� 

Um homem (o protagonista) acompanha a movimenta��o de policiais sentado num caf�, em Paris. Briga com um passarinho que invade seu apartamento. Assiste, meio perplexo, � movimenta��o das pessoas tentando achar cadeira vaga num parque. Tanques e helic�pteros invadem Paris. Por qu�? Fam�lias num supermercado v�o �s compras armadas. Policiais comparam os respectivos �culos de sol, e os gestos concentram o foco, at� que se percebe, no banco de tr�s, uma mulher amorda�ada. O mundo � absurdo, e Suleiman sabe disso.

Mas h� uma sutil diferen�a em rela��o a filmes anteriores, como Interven��o divina e O que resta do tempo. "Cresci numa fam�lia muito amorosa. N�o apenas meus pais, meu irm�o mais velho tamb�m era protetor. E a gente, apesar de tudo, se divertia muito. Sempre fui muito curioso. Gosto de olhar, reparar, mas sinto que hoje experimento uma melancolia maior pelo estado das coisas." O rep�rter aproveita a deixa. O israelense Amos Gitai tamb�m esteve na Mostra de S�o Paulo, tamb�m foi homenageado. E eles s�o amigos, apesar das diferen�as. "J� fomos mais (amigos). Vou lhe confessar uma coisa, e talvez o surpreenda. Est� cada vez mais dif�cil encontrar um espa�o para di�logo na sociedade israelense sob o premi� Benjamin Netanyahu. Essa direita n�o quer saber do outro. Infelizmente, Amos � uma exce��o em Israel. Provavelmente, com seu discurso de toler�ncia, � um interlocutor t�o isolado quanto eu."

De volta ao filme, e ao personagem, Suleiman admite que a melancolia crescente tamb�m � acompanhada de uma dose de desespero. "O que sinto, e tento passar, � que ele est� mais fr�gil, num mundo de institui��es cada vez mais hostis. Escrevi o roteiro e, na hora de filmar, percebi que o fato de ele ser um observador fragilizado deveria dar o tom, ser o pr�prio conceito. Mais do que qualquer outro filme, ou personagem meu, sinto que estamos nos agarrando na esperan�a."

� um filme de estrada, de deslocamentos entre pa�ses, cidades. Mas, curiosamente, Suleiman, em cena, est� quase sempre parado. � metaf�rico. Essa Palestina que busca, e quer colocar na tela, Suleiman carrega com ele. Para demonstr�-lo, cria duas bel�ssimas cenas, na abertura e no encerramento. Uma encena��o religiosa sobre a paz que termina em manifesta��o de viol�ncia. No final, outra manifesta��o – uma mulher que retira o v�u, e jovens numa festa, confraternizando, inclusive um par gay. A Palestina de Suleiman � esse sonho. Um para�so que abriga toda a diversidade. � um bel�ssimo filme. (Ag�ncia Estado)


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