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Estado de Minas

Conhe�a os filmes que disputam o Oscar com 'Democracia em vertigem'

Aplaudidos pela cr�tica, longas tratam de quest�es como o futuro do trabalho, a guerra da S�ria e a rela��o do homem com o planeta. Competi��o dever ser acirrada e sem favoritos


postado em 17/01/2020 04:00

Diretora síria filmou sua própria vida durante a guerra, produzindo uma espécie de diário cinematográfico dedicado à filha (For Sama)(foto: Channel 4/Divulgação )
Diretora s�ria filmou sua pr�pria vida durante a guerra, produzindo uma esp�cie de di�rio cinematogr�fico dedicado � filha (For Sama) (foto: Channel 4/Divulga��o )

Uma produ��o que acompanha as dif�ceis rela��es laborais globalizadas; um tratado cinematogr�fico sobre a rela��o do homem com o planeta, a partir da rotina de uma mulher solit�ria, que vive de apanhar mel nos confins do mundo; e duas narrativas que retratam, de diferentes maneiras, a guerra da S�ria. Todos aplaudidos pela cr�tica e com m�ltiplas premia��es em festivais. S�o esses os concorrentes de Democracia em vertigem, de Petra Costa, na disputa pelo Oscar de document�rio.

Para os brasileiros, pelo menos por ora, s� d� para conhecer um dos concorrentes. Distribu�do pela Netflix, assim como o longa brasileiro, Ind�stria americana tem como chamariz o fato de ter sido produzido pelo casal Michelle e Barack Obama. Os demais t�tulos n�o t�m previs�o de lan�amento no Brasil. 

Honeyland � um document�rio da Maced�nia do Norte e tamb�m foi indicado a melhor filme internacional, categoria em que Parasita � o favorito. J� The cave e For Sama s�o fruto de aguerridos realizadores s�rios que se aventuraram a contar hist�rias de esperan�a em meio � guerra civil que vem destruindo seu pa�s h� nove anos. 

Conclus�o: a disputa deve ser acirrada e � dif�cil prever o nome do vencedor, que ser� revelado em 9 de fevereiro.




For Sama

A Sama do t�tulo do document�rio de Waad Al-Kateab e Edward Watts � um beb�, filha da pr�pria Waad, uma jornalista s�ria. A primeira vez em que a crian�a aparece em cena � no meio da fuma�a que enche os corredores de um hospital em Aleppo.

O filme mergulha na vida das mulheres na guerra, a partir da trajet�ria pessoal da diretora. Ao longo de cinco anos, durante a guerra da S�ria, a jovem de Aleppo se apaixona, se casa e tem a primeira filha. Para al�m do mundo externo que vem abaixo, ela tamb�m sofre um conflito: caso decida fugir para proteger a si e a Sama, ela abrir� m�o da luta por liberdade, em nome da qual j� se sacrificou tanto.

Entre o horror da guerra e a esperan�a por dias melhores, Waad faz do filme uma esp�cie de di�rio. Sua inten��o �, no futuro, explicar para a filha Sama como resistiu aos ataques do ditador Bashar al-Assad, at� se ver obrigada a abandonar sua pr�pria cidade.

For Sama entrela�a uma narrativa pessoal com uma hist�ria pol�tica mais ampla. No material colhido por Waad h� imagens t�o fortes que levaram o Reino Unido (coprodutor do filme) a classificar o filme como impr�prio a menores de 18 anos – “cenas perturbadoras” e “imagens de corpos que podem causar sofrimento a alguns espectadores” est�o entre as advert�ncias do British Board of Film Classification.

A despeito disso, escreveu o The Guardian, s�o as cenas mais simples que atingem o espectador. “A camaradagem de mulheres preparando a comida enquanto o fogo cai do c�u; a resili�ncia das crian�as que ainda sorriem e brincam, mesmo quando suas vidas est�o amea�adas.”

Instalado em túneis na cidade de Ghouta, hospital que cuida dos feridos na guerra da Síria se tornou conhecido como The Cave(foto: National Geographic/Divulgação )
Instalado em t�neis na cidade de Ghouta, hospital que cuida dos feridos na guerra da S�ria se tornou conhecido como The Cave (foto: National Geographic/Divulga��o )

The cave

Depois de concorrer ao Oscar de 2018 com Os �ltimos homens em Aleppo (sem poder comparecer � cerim�nia, pois seu visto foi negado pelo governo Trump), o diretor s�rio Feras Fayyad acompanhou, em seu pa�s, um grupo de m�dicas que tratam sem descanso das feridas de guerra num hospital subterr�neo enquanto batalham contra o sexismo.

Em Ghouta, cidade pr�xima a Damasco, um hospital conhecido como The Cave foi instalado em uma s�rie de t�neis. Sem narra��o, o document�rio se concentra na rotina de algumas pessoas. Entre elas est� a jovem m�dica Amani Ballor, pediatra que trata um fluxo constante de crian�as feridas. H� tamb�m o m�dico Salim e a enfermeira Samaher, que luta para demonstrar otimismo.

O centro m�dico subterr�neo foi criado depois que ataques continuaram danificando os hospitais de Ghouta. Apesar de todo o improviso, o hospital subterr�neo est� devidamente equipado. Mas como a regi�o foi cercada por for�as militares, os medicamentos e suprimentos s�o escassos. Amani, a certo momento, conta que h� seis anos ela n�o sai da cidade.

The Cave foi rodado entre 2017 e 2018 – em mar�o de 2018, um ataque qu�mico atingiu a cidade, momento que o filme descreve com um aumento de tens�o. “The Cave �, ao mesmo tempo, intensamente real e uma obra de cinema cuidadosamente trabalhada. O filme � possivelmente mais emocionante e mais ambicioso em seu aspecto visual do que Os �ltimos homens em Aleppo”, descreveu o The Hollywood Reporter.

Mais impressionante � saber que Fayyad acompanhou as filmagens a dist�ncia. Por causa da presen�a militar, ele n�o p�de chegar a Ghouta. Convocou tr�s cinegrafistas de Damasco, com quem se comunicava remotamente.

Único entre os concorrentes disponível no Brasil, longa foi produzido pelo casal Michelle e Barack Obama para a Netflix(foto: Netflix/Divulgação)
�nico entre os concorrentes dispon�vel no Brasil, longa foi produzido pelo casal Michelle e Barack Obama para a Netflix (foto: Netflix/Divulga��o)

Ind�stria americana

Uma das maiores produtoras de vidros automotivos do mundo, a chinesa Fuyao inaugurou, em 2016, em Dayton, Ohio, seu primeiro bra�o norte-americano. Constru�da em uma antiga f�brica da General Motors, abandonada desde que sucumbiu � crise de 2008, deixando milhares de oper�rios desempregados, a Fuyao Glass America foi recebida como a esperan�a da regi�o.

Dirigido por Julia Reichert e Steven Bognar – ela em sua quarta indica��o ao Oscar; ele na segunda –, Ind�stria americana � um document�rio de observa��o. A c�mera est� presente o tempo inteiro (a narrativa come�a ainda no fechamento da GM) e sempre muito pr�xima dos personagens, sejam eles de baixo ou alto escal�o.
Basicamente, o que o longa mostra � o embate entre duas economias, sociedades e culturas. Centenas de funcion�rios chineses se mudam para Dayton, onde v�o trabalhar lado a lado com os americanos – que, sem emprego h� anos, comemoram os novos postos, mesmo recebendo a metade do que ganhavam antes.

Em mandarim, um funcion�rio explica � equipe chinesa como os americanos, mimados desde a inf�ncia, tornam-se adultos que n�o gostam de ser contrariados – gostam de conversar, t�m uma rela��o pr�xima com os chefes, sem muita hierarquia.

Mas o buraco � muito mais embaixo, o document�rio logo trata de mostrar. Na inaugura��o da f�brica, um senador americano fala que apoia os sindicatos, historicamente fort�ssimos nos EUA. Outra c�mera capta um funcion�rio americano graduado da Fuyao xingando o pol�tico. Ali, sindicato n�o vai entrar.

E este acaba sendo o grande problema. Os americanos tentam exigir seus direitos e a entrada do sindicato. Os chineses mostram que n�o v�o abrir a guarda. Levam um grupo de gerentes para a sede, na China, quando os americanos descobrem o modo chin�s de trabalhar: sil�ncio, horas extras sem descanso, postura quase militar.

No retorno, as tentativas de adequar o modo chin�s aos americanos se mostram infrut�feras. Come�am as brigas internas, as demiss�es por raz�es m�nimas. O medo se instaura. A rela��o se desgasta a tal ponto que o fundador da Fuyao, o magnata Cao Dewang, dono de uma fortuna de US$ 4 bilh�es, troca toda a diretoria americana por chineses.

Ind�stria americana � o primeiro filme do selo da Higher Ground, que o ex-presidente Barack Obama e sua mulher, Michelle, criaram em 2018 – depois de assistir ao longa, vale a pena acompanhar um v�deo de 10 minutos em que os Obama conversam com os diretores do document�rio. O que n�o deixa de ser ir�nico � que o filme de Obama de certa forma explica por que Donald Trump se elegeu.

Hatidze faz um pacto com as abelhas em nome do equilíbrio ecológico e cuida da mãe idosa e muito doente (foto: Apolo Media/Divulgação )
Hatidze faz um pacto com as abelhas em nome do equil�brio ecol�gico e cuida da m�e idosa e muito doente (foto: Apolo Media/Divulga��o )

Honeyland

Independente da antiga Iugosl�via desde 1991 e reconhecida como pa�s dois anos mais tarde, a Maced�nia do Norte, um pequeno peda�o de terra sem sa�da para o mar, entre Kosovo, Gr�cia e S�rvia, j� fez hist�ria neste Oscar. Honeyland n�o � apenas a primeira produ��o daquele pa�s indicada ao pr�mio. � tamb�m o primeiro filme de n�o fic��o a competir nas categorias de document�rio e filme internacional.

O projeto inicial dos documentaristas Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov era fazer um registro em v�deo da biodiversidade e sustentabilidade para a Sociedade Ecol�gica da Maced�nia, uma associa��o civil de preserva��o do meio ambiente. Tudo mudou quando conheceram Hatidze Muratova, mulher que vive sozinha com a m�e moribunda e quase cega em uma montanha isolada. O projeto inicial virou uma imers�o de tr�s anos e 400 horas de grava��o da personagem e sua rotina.

Hatidze � uma apicultora tradicional, a �ltima ca�adora de abelhas da Europa. Ela segue com rigidez a regra m�xima da atividade: deve-se apanhar somente a metade do mel; a outra parte deve ficar com as abelhas.

As duas mulheres vivem em quase total isolamento – em sua miser�vel casinha nas montanhas n�o h� luz ou encanamento. Mesmo nessas condi��es, as duas – e suas companheiras abelhas – vivem pacificamente, sem maiores problemas.

A chegada de uma fam�lia – pai, m�e, sete crian�as e 150 vacas – n�o parece atrapalhar a rotina de Hatidze. Ela s� d� uma conselho ao forasteiro, que pretende ingressar na profiss�o: “Metade para voc�, metade para elas”. Quando ele fura a regra, as abelhas come�am a atacar a col�nia de Hatidze. E n�o h� como evitar o conflito.

Filmando em locais bel�ssimos, mas de dif�cil acesso, os diretores enfrentaram tamb�m a barreira da l�ngua. Quando se comunica com a m�e, Hatidze fala em turco otomano, um dialeto que nem mesmo quem fala turco entende.

Ao editarem o material e finalmente conseguirem uma tradu��o para o antigo dialeto, os realizadores se surpreenderam. “A m�e se tornou um personagem completamente novo na hist�ria, porque ela se mostrou muito s�bia. Eu diria at� bem-humorada. Ela n�o estava com pena de si mesma; pelo contr�rio, era uma lutadora que sabia que sua hora havia chegado”, afirmou Ljubomir Stefanov ao IndieWire, que considera Honeyland “uma obra-prima cinematogr�fica deste Oscar”.


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