Aguarda-se para esta segunda-feira (20) a resposta de Regina Duarte ao convite de Jair Bolsonaro (sem partido) para assumir a Secretaria Especial da Cultura. O presidente, que estar� hoje no Rio de Janeiro – tem encontro oficial com o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) e com o comandante da Marinha, almirante Ilques Barbosa J�nior –, dever� conversar pessoalmente com a atriz, a pedido dela.
A pasta est� em aberto desde a demiss�o do diretor de teatro Roberto Alvim, na sexta-feira (17), devido ao discurso com refer�ncias nazistas proferido por ele para anunciar o Pr�mio Nacional das Artes – iniciativa que destinaria R$ 20 milh�es a projetos de todo o pa�s, cuja p�gina j� foi suprimida do site da secretaria.
Aposto que Regina Duarte n�o aceitar� o cargo. Ter� que pedir licen�a ou demiss�o da Globo. Se ainda fosse ministra, mas secret�ria � pequeno demais
Jos� de Abreu, ator
Na noite de s�bado (18), ao sair do Pal�cio da Alvorada para cumprimentar turistas, Bolsonaro se esquivou da imprensa ao ser questionado sobre o convite � atriz. “Namoradinha do Brasil. Est� respondido. Valeu”, limitou-se a dizer.
Foi um fim de semana de especula��es sobre o destino que o governo federal dar� � cultura. H� quem avalie que o nome de Regina Duarte seria grande para apenas secretaria. Aventou-se a hip�tese de Bolsonaro voltar com o Minist�rio da Cultura – o �rg�o poderia retornar via Medida Provis�ria (MP), caso haja aprova��o do Congresso Nacional. Outra d�vida � sobre a perman�ncia do grupo levado para o governo por Alvim. H� at� quem aponte que caso Regina recuse o convite, Carlos Vereza, outro ator que apoia o presidente, pode ocupar o cargo.
Bolsonarista de primeira hora, Regina Duarte, em entrevista � R�dio Jovem Pan, confirmou o convite: “N�o � a primeira vez que eu sou convidada para esse cargo. Me assusta muito, porque tem um minist�rio complicado a�.”
Desde novembro, a secretaria est� vinculada ao Minist�rio do Turismo, comandado por Marcelo �lvaro Ant�nio (PSL-MG), indiciado pela Pol�cia Federal por suspeita de envolvimento em esquema de candidaturas laranja. At� dois meses atr�s, ela estava abrigada no Minist�rio da Cidadania.
A transfer�ncia foi o artif�cio de Bolsonaro para p�r Alvim como secret�rio e evitar novos conflitos entre ele e o ministro Osmar Terra (MDB), que j� haviam se estranhado.
Na situa��o de desmonte total da cultura que estamos vivendo, ter Regina Duarte pode ajudar. Ela � de direita, mas n�o � nazista
Paula Lavigne, produtora cultural
Em sua conta no Instagram, com 1,7 milh�o de seguidores, Regina Duarte republicou, no s�bado, a fala do general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Seguran�a Institucional: “Fant�stica, e at� emocionante, a rea��o de intelectuais, artistas, historiadores, professores, estudantes, militares e da na��o como um todo, ao infeliz resgate de pensamentos nazistas. Mostra uma face da convic��o e do apego de nosso povo � democracia e �s liberdades individuais.” Em resposta, internautas criaram a hashtag #AceitaRegina.
Por sinal, no fim de semana, essa hashtag foi utilizada v�rias vezes pelo ator Jos� de Abreu em sua conta no Twitter – mas de forma ir�nica. O ator e Regina, que atuaram juntos em novelas da Globo – foram, inclusive, marido e mulher em Desejo de mulher (2002) –, j� protagonizaram confrontos virtuais por quest�es ideol�gicas. “Aposto que Regina Duarte n�o aceitar� o cargo. Ter� que pedir licen�a ou demiss�o da Globo. Se ainda fosse ministra, mas secret�ria � pequeno demais.” Mais tarde, Abreu voltou � carga: “A mulher ideal para participar do governo nazista-homof�bico-miliciano”.
AJUDA A empres�ria e produtora cultural Paula Lavigne afirmou que a eventual nomea��o da atriz poderia “ajudar” a classe art�stica. “Acho que na situa��o de desmonte total da cultura que estamos vivendo, ter Regina Duarte pode ajudar. Ela � de direita, mas n�o � nazista: redu��o de danos”, disse Lavigne, organizadora da campanha 342 Artes, contra a censura e a difama��o.
O escritor Paulo Coelho, tamb�m via Twitter, postou que Regina Duarte “ou qualquer outro n�o faz diferen�a – quem manda no governo � o L�der e seus filhos”.
O presidente e a ministra podem, se quiserem, definir novos par�metros e fazer com que a cultura brasileira seja finalmente respeitada
�ngela Gutierrez, diretora dos museus do Orat�rio e de Sant'Anna
Em Minas, o tom das rea��es � semelhante. A falta de experi�ncia em gest�o p�blica foi destacada por Chico Pel�cio, ator, diretor e um dos fundadores do Grupo Galp�o. “Do ponto de vista ideal, ela est� longe de ser a pessoa que responderia � altura, pois nunca teve envolvimento com pol�ticas p�blicas sobre cultura. Acho que ela n�o � capaz de desmontar a equipe e os pensamentos neoliberais e de censura sobre a cultura j� existentes neste governo. Tamb�m creio que ela n�o considera a cultura como obriga��o constitucional do Estado.”
Ela n�o � capaz de desmontar a equipe e os pensamentos neoliberais e de censura sobre a cultura j� existentes neste governo
Chico Pel�cio, diretor do Grupo Galp�o
O m�sico Thiago Delegado destacou que o “desmanche” que o setor cultural vem sofrendo por parte da administra��o federal independe de a atriz aceitar ou n�o o cargo. “N�o me surpreendi com o convite. Para mim, ela foi convidada n�o por m�rito, n�o porque pense a cultura como algo para todos, mas por seu posicionamento pol�tico. A Regina Duarte se posicionou contra todos os governos de esquerda do Brasil. A mim parece que existe uma diretriz neste governo que coloca a cultura como inimiga.” Para Delegado, o caminho para o setor cultural “� se preparar para tr�s anos, no m�nimo, de resist�ncia”.
Presidente do Instituto Cultural Fl�vio Gutierrez e diretora dos museus do Orat�rio e de Sant'Anna, �ngela Gutierrez preferiu n�o comentar os fatos, “pois eles falam por si”. “Prefiro mandar uma mensagem ao presidente Jair Bolsonaro e � consagrada atriz Regina Duarte: Nossa cultura � soberana. � o que nos difere, nos legitima e nos fortalece enquanto na��o. N�o se pode pensar em progresso, desenvolvimento, democracia ou liberdade sem considerarmos a riqueza de nossas verdadeiras ra�zes culturais. O presidente e a ministra podem, se quiserem, definir novos par�metros e fazer com que a cultura brasileira seja finalmente respeitada.”
J� o diretor de teatro Pedro Paulo Cava acredita que, caso aceite, a atriz “n�o vai aguentar um m�s num cargo como esse”. “Ela n�o tem nenhum preparo para assumir, mas como neste governo ningu�m tem preparo, vai ficar na m�dia da ignor�ncia de todos.”
Para Cava, a possibilidade da volta do Minist�rio da Cultura, extinto por Bolsonaro no in�cio de sua gest�o, n�o far� diferen�a. “Minist�rio, secretaria, isso n�o importa mais, pois est� claro que este governo n�o quer ver isso (a cultura) funcionando”, conclui o diretor. (Com ag�ncias)