
“Sabemos que vai acontecer, s� n�o sabemos como”, repetem os cientistas da s�rie. � um ponto de partida para investigar se o mundo estaria preparado para uma pandemia dessa envergadura e o que trabalhadores da �rea de sa�de est�o fazendo a t�tulo de medidas preventivas.
Gravada em quatro pa�ses e idealizada por um grupo de produtores que inclui dois m�dicos, Pandemic chegou ao streaming com um timing impressionante, praticamente no mesmo momento em que o coronav�rus, surgido na China, come�ava a assustar o mundo. Quando ouviu falar dos primeiros casos, a m�dica Sheri Fink, uma das produtoras de Pandemic, pensou em duas coisas.
A s�rie acompanha v�rios profissionais de sa�de que est�o na linha de frente na luta contra as epidemias de gripe, especialmente as causadas pelo v�rus H1N1, respons�vel pelo surto de influenza em 2009. Na �ndia, um m�dico dedica a vida a pacientes de uma �rea rural com pouqu�ssimos recursos: o grande drama do profissional � conseguir que os diagn�sticos sejam precoces, j� que isso aumenta em muito as chances de cura.
Em Nova York, Syra Madad, especialista em sistemas de preven��o, luta para conseguir recursos para um programa de treinamento de profissionais de sa�de para eventuais surtos de pat�genos desconhecidos. Ela fez parte da equipe que lidou com a poss�vel chegada do ebola aos Estados Unidos durante a epidemia no Congo, em 2014.
Na Calif�rnia, Sarah Yves trabalha em laborat�rio para desenvolver uma vacina universal para a gripe enquanto Holly Goracke enfrenta a temporada de gripe sozinha como a �nica m�dica da equipe de um hospital no interior dos Estados Unidos.

A c�mera acompanha os personagens durante suas rotinas di�rias nos hospitais, laborat�rios, nos criadouros de aves, nos tribunais e no campo em campanhas de vacina��o contra a gripe. Produzida pela Zero Point Zero Productions (ZPZ), Pandemic foi oferecida a v�rios canais, mas foi a Netflix que decidiu apostar na produ��o. Para Jeremiah Crowell, produtor-executivo da ZPZ e um dos idealizadores da s�rie, essa estrat�gia deixa o document�rio mais real e concreto do que se investissem em entrevistas no modo tradicional.
“Seria um caminho f�cil fazer um document�rio sobre a pandemia de gripe com um grupo de especialistas falando sobre a doen�a, mas ningu�m nesse projeto queria imagens de arquivo e um monte de gr�ficos. Quer�amos fazer algo com as pessoas que est�o nas linhas de frente, que representasse o agora, o que est� sendo feito. Ach�vamos que seria a melhor forma de as pessoas entenderem o que � a pandemia de influenza e as armadilhas que ela carrega, mas tamb�m sab�amos que seria mais atraente de assistir”, diz Crowell.
Formada em medicina e com experi�ncia de campo, Sheri Fink, que tamb�m escreve para o di�rio The New York Times, est� acostumada com o caos nas temporadas de gripe. Hospitais cheios, operando no limite, e altos �ndices de contamina��o formam uma combina��o perigosa. Se o pat�geno for altamente letal, a situa��o pode sair de controle. Esse limite serviu de est�mulo para trabalhar no roteiro da s�rie.
“Fomos muitos a idealizar esse projeto”, diz. “E vimos as fragilidades do sistema. Mas tamb�m h� um trabalho heroico e fascinante que as pessoas fazem nas linhas de frente para impedir o surtos de doen�as infecciosas.
Ent�o, em vez de fazer uma s�rie sobre bastidores, n�s quer�amos mostrar os pontos de vista com as pessoas que trabalham todos os dias e arduamente para prevenir o ataque desses pat�genos”, conta Sheri. “Para n�s, termos hist�rias para mostrar, em vez de contar, � muito mais atraente. Voc� pode entender melhor quando assiste. Voc� est� vendo algo e n�o ouvindo algu�m te contar algo.”
Para Jeremiah Crowell, trabalhar no roteiro e na produ��o de Pandemic foi muito instrutivo. Ele conta que, como algu�m leigo e que n�o sabia nada sobre epidemias de gripe, ele se sentiu, ao mesmo tempo, desanimado e inspirado pelo que aprendeu.
“Descobri que boa parte do mundo, incluindo eu antes desse projeto, n�o sabe nada sobre a pandemia da influenza ou como uma pandemia pode acontecer e o qu�o s�o aterrorizantes como armadilhas reais para a comunidade. � assustador e desanimador. Mas tamb�m aprendi que h� um pequeno grupo de pessoas ao redor do mundo que sabe um monte sobre esse assunto e est� trabalhando para nos manter seguros. E isso � inspirador”, afirma o produtor.
TR�S PERGUNTAS PARA...
SHERI FINK,
m�dica e produtora da s�rie
O mundo est� preparado para uma pandemia?
Estar perfeitamente preparado � imposs�vel. Sempre haver� desafios. Muito do nosso document�rio � sobre se preparar. � uma luta constante que as pessoas que fazem esse trabalho empreendem para poder convencer os outros a confiar neles. E podemos ver mundo afora que, �s vezes, h� muito medo e p�nico, ou ent�o que pessoas n�o confiam nas autoridades p�blicas. Claro que n�o estamos perfeitamente preparados, h� muitas lacunas, mas tamb�m h� muitas pessoas arriscando a pr�pria vida para fazer esse trabalho. Essa � a parte boa.
Alguns entrevistados da m�dia internacional e pessoas que est�o na China reclamaram de uma rea��o exagerada do Ocidente ao coronav�rus. O que voc� acha disso?
Acho que h� muito que n�o sabemos sobre esse v�rus, como o qu�o letal ele �, por exemplo. Sabemos que pode causar uma doen�a respirat�ria grave, que pode ser transmitido entre humanos, mas ainda h� muitas perguntas sem resposta. � algo para ser levado a s�rio e acho que � dif�cil para quem trabalha com pol�ticas e sa�de p�blicas se equilibrar entre decis�es para proteger as pessoas e a��es que poderiam causar desorganiza��o nas economias, causando mais problemas, como de log�stica. Para o p�blico de forma geral, eu acho que � muito importante procurar boas fontes de informa��o, n�o confiar em declara��es de proced�ncia desconhecida que circulam nas redes sociais, por exemplo, e tentar ouvir o que dizem as autoridades. � importante levar a s�rio e n�o entrar em p�nico. N�o h� m�gica na maneira como se proteger de v�rus, h� alguns m�todos que reduzem os riscos e isso depende de todos n�s.
Uma frase repetida por todos os especialistas no document�rio � que sabemos que uma pandemia ocorrer� novamente, mas n�o sabemos quando. O mundo est� sempre � espera de um evento apocal�ptico?
Nossos especialistas e n�s mesmos concordamos que haver� sempre um novo pat�geno que pode causar uma doen�a nos homens. E tamb�m temos muitas ferramentas hoje em dia para lutar contra eles, como trabalhar com a ci�ncia, trabalhar em diagn�sticos e em vacinas. Claro, sempre existe um medo existencial e uma das boas coisas para se investir � na preven��o, porque o risco existe e, sim, as pessoas s�o muito passionais quando se trata de prevenir e mitigar.