Depois de chegar ao topo no Royal Ballet, Thiago Soares se despede da companhia
Brasileiro ingressou no prestigioso grupo londrino em 2002 e rapidamente chegou a primeiro bailarino. Aos 38, ele seguir� carreira solo como bailarino, core�grafo e professor
postado em 29/02/2020 04:00 / atualizado em 28/02/2020 14:53
O bailarino Thiago Soares ensaia a coreografia de Dom Quixote, em montagem de 2013 do Royal Ballet de Londres (foto: Johan Persson/ Royal Opera House)
H� um ano, o bailarino Thiago Soares come�ou a tra�ar um plano cujo momento mais emocionante vai ocorrer na noite deste s�bado (29), quando ele se despede do Royal Ballet, de Londres, uma das mais importantes companhias do mundo.
Ser� o final de um ciclo e o in�cio de um novo. Afinal, foi l� que Soares ingressou em 2002, depois que suas atua��es internacionais impressionaram os membros do Royal. Apresenta��es t�o especiais que apenas quatro anos mais tarde, em 2006, ele assumiu o cobi�ado posto de primeiro-bailarino da companhia inglesa.
"Minha carreira se assemelha � de um rapaz que entra em uma empresa como porteiro e logo chega a CEO", diz o brasileiro, cuja despedida � assunto dos principais jornais brit�nicos – o Financial Times, por exemplo, dedicou-lhe uma generosa mat�ria, na qual destaca as interpreta��es inteligentes que Soares conferiu a pap�is complexos, al�m de resumir a acertada decis�o de parar: "A vida de um pr�ncipe de bal� � cruelmente curta e, ainda no auge, com seus 38 anos, ele faz sua �ltima rever�ncia em Covent Garden para iniciar uma nova vida como int�rprete, core�grafo e professor", diz o jornal.
"Sim, decidi parar de dan�ar quando ainda estou em um �timo momento da minha carreira, mas continuarei no palco, agora como um dan�arino aut�nomo", afirma. Na apresenta��o deste s�bado, Soares decidiu dan�ar Onegin, coreografia criada por John Cranko em 1965, com m�sica de Tchaikovski – n�o a conhecida partitura criada em 1878 para a �pera hom�nima, mas com obras menos conhecidas do compositor russo. "Escolhi Onegin porque � um trabalho com diversos duetos e que me permite apresentar varia��es do meu trabalho."
De fato, a coreografia une t�cnica primorosa a um forte trabalho de interpreta��o, justamente as duas qualidades mais marcantes na dan�a executada por Soares. Com suas particularidades latinas depuradas pela t�cnica, o brasileiro levou novos elementos ao consagrado corpo de baile brit�nico. Foi um casamento perfeito.
"Ao longo dos anos, percebi que no Royal existia um jeito pr�prio de dan�ar, muito pr�ximo da atua��o teatral. O personagem fala atrav�s do corpo, com forte carga dram�tica – certamente h� algo da tradi��o de Shakespeare. E, gra�as � minha experi�ncia com street dance, consegui me adaptar com facilidade."
Diferentemente dos grandes bailarinos, que vestem sapatilhas ainda crian�as, Soares teve um in�cio tardio. Nascido em Niter�i, em 1981, ele ingressou no Centro de Dan�a do Rio quando estava com 16 anos, para dan�ar jazz. Na �poca, gra�as � insist�ncia de uma professora, iniciou o aprendizado de bal� cl�ssico. Logo, descobriu sua aptid�o: em 1998, ganhou medalha de prata no Concurso Internacional de Dan�a de Paris e, ao retornar ao Brasil, foi convidado a integrar o corpo de baile do Teatro Municipal do Rio.
O brasileiro interpreta o pr�ncipe Rudolf em Mayerling, de Kenneth Macmillan. Lauren Cuthbertson faz o papel de Mary Vetsera no ballet da temporada 2018/2019 (foto: Helen Maybanks/The Royal Ballet)
''Ao longo dos anos, percebi que no Royal existia um jeito pr�prio de dan�ar, muito pr�ximo da atua��o teatral. O personagem fala atrav�s do corpo, com forte carga dram�tica %u2013 certamente h� algo da tradi��o de Shakespeare. E, gra�as � minha experi�ncia com street dance, consegui me adaptar com facilidade''
Thiago Soares, bailarino
R�SSIA
Soares j� revelava as qualidades que o destacavam, uma fisicalidade e um carisma inatos. "Era um gladiadorzinho", brinca. Em 2001, participou do Concurso Internacional de Ballet do Teatro Bolshoi, na R�ssia, e conquistou a medalha de ouro. Mais que isso: chamou a aten��o de Makhar Vaziev, ent�o diretor do Mariinsky Ballet, que o convidou para ficar. Vaziev ficara impressionado com um detalhe: as aterrissagens assustadoramente macias feitas por Soares depois dos saltos, conseguindo pousar na ponta dos dedos e vagarosamente at� descer o calcanhar.
Precisou de pouco tempo para chegar ao Royal Ballet, no qual ingressou como Primeiro Artista em 2002, iniciando uma r�pida ascens�o: promovido a Solista em 2003, Primeiro Solista no ano seguinte at� chegar a Principal em 2006, posi��o que deixou no ano passado, quando passou a ser o principal bailarino convidado.
Ap�s a apresenta��o de hoje, Soares vai focar em sua carreira solo. E a agenda j� est� recheada: no pr�ximo dia 8 de maio, ele inicia em Lisboa a turn� de Roots, em que resgata o in�cio da sua vida art�stica no Rio, dan�ando break e hip-hop aos 12 anos, nas ruas e festas da Zona Norte. O espet�culo vai, em seguida, para Berlim.
No meio do ano, Thiago Soares come�a a dar aulas na escola de ver�o do Royal Ballet e ainda n�o descarta uma montagem de Yerma, de Villa-Lobos, para o Municipal do Rio, cidade onde n�o abandona seus alunos – hoje s�o 12. Tamb�m prepara um livro sobre sua trajet�ria. "Faz um ano que trabalho nesse projeto, � quase terap�utico relembrar hist�rias t�o boas." (Ag�ncia Estado)
Thiago Soares e a bailarina Marianela Nu�ez em apresenta��o de After the Rain, de Christopher Wheeldon, da temporada 2015/2016 do Royal Ballet (foto: Bill Cooper/The Royal Ballet
)