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Estado de Minas

Nei Lopes biografa 100 personalidades negras do Brasil

Autor diz que inten��o � ressaltar 'o protagonismo negro n�o com exemplos isolados, sem consequ�ncia, mas coletivamente'


postado em 04/03/2020 04:00 / atualizado em 03/03/2020 19:08

(foto: TV brasil/Divulgação)
(foto: TV brasil/Divulga��o)

Mesmo em uma sociedade majoritariamente negra, a popula��o afrodescendente no Brasil � invisibilizada. Os negros continuam fora dos grandes cargos. T�m menos espa�o nas prestigiadas institui��es de ensino. E, at� hoje, s�o pessoas que n�o aparecem com devida import�ncia na hist�ria brasileira. Para fazer um contraponto a isso, o cantor, compositor e escritor Nei Lopes se prop�s a escrever o livro Afro-Brasil reluzente: 100 personalidades not�veis do s�culo XX, lan�ado pela editora Nova Fronteira.

Com quase 500 p�ginas, a obra � um comp�ndio da trajet�ria de 100 personalidades afro-brasileiras, muitas delas desconhecidas do grande p�blico, apesar de sua relev�ncia e import�ncia em diferentes aspectos e �reas, por terem sido “apagadas” com o passar dos anos. Nei fez quest�o de buscar nomes que conversassem tanto com o passado quanto com o presente. O processo de produ��o do livro durou seis meses, um tempo pequeno, mas que p�de ser conclu�do gra�as �s pesquisas anteriores do escritor, que, em 2004 e em 2011 lan�ou vers�es da Enciclop�dia brasileira da Di�spora Africana.

Inicialmente, o autor chegou a 150 nomes, que, depois, foram reduzidos para 100. “Os nomes dos que ficaram de fora est�o guardados, para, quem sabe, um segundo volume”, afirma. Sobre a decis�o de escrever o livro, ele diz: “� importante salientar o protagonismo negro n�o com exemplos isolados, sem consequ�ncia, mas coletivamente, para dar mais for�a a essa presen�a e aumentar a autoestima do povo negro, sobretudo nos mais jovens”.

Na obra, perfis de Concei��o Evaristo, Cartola, Alzira Rufino, M�e Stella de Ox�ssi, Maju Coutinho, Martinho da Vila, entre outros. Na entrevista a seguir, Nei Lopes explica a concep��o da obra e a import�ncia da publica��o, al�m de comentar a conjuntura do pa�s.



O senhor fala logo na introdu��o do livro Afro-Brasil reluzente que a ideia partiu de dar import�ncia aos negros e negras not�veis que costumam ser ignorados e invisibilizados na hist�ria brasileira. Qual � a import�ncia da representatividade e de saber a pr�pria hist�ria?

Nos curr�culos do ensino de hist�ria prioritariamente adotados no Brasil, a �frica ainda ocupa um lugar obscuro, sendo sempre objeto e nunca sujeito. Mas se n�o houvesse �frica, n�o teria havido a Revolu��o Industrial e nenhum pa�s europeu nem os Estados Unidos existiriam como grandes pot�ncias. Quando os primeiros europeus l� chegaram, o continente j� tinha constru�do civiliza��es muit�ssimo importantes. Enquanto o conhecimento disso continuar sonegado, a �frica vai continuar sendo vista por meio dos estere�tipos difundidos nos filmes de aventura e pelas hist�rias em quadrinhos. No Brasil, ap�s toda a viol�ncia do escravismo, os direta ou indiretamente atingidos ainda foram submetidos a procedimentos verdadeiramente genocidas, como os que tinham como objetivo “embranquecer” a popula��o brasileira. E com esses procedimentos foi se apagando, at� a invisibilidade, a import�ncia das civiliza��es africanas na forma��o do Brasil. A partir da�, moldou-se uma imagem de inferioridade dos afrodescendentes. Por isso � importante salientar o protagonismo negro n�o com exemplos isolados, sem consequ�ncia, mas coletivamente, para dar mais for�a a essa presen�a e aumentar a autoestima do povo negro, sobretudo nos mais jovens.

Como foi o processo de decidir quem seriam essas 100 pessoas?

O primeiro crit�rio foi o das hist�rias de vida. O segundo foi o da singularidade das atua��es dos focalizados, �reas fora daquelas do “lugar de negro”, tais como m�sica, esportes e entretenimento em geral. Depois, tentamos o equil�brio por g�neros, mas o n�mero de personagens biologicamente masculinos ainda permaneceu.

Entre os nomes, h� personalidades bastante conhecidas, mas tamb�m algumas que tiveram menos proje��o. Houve uma inten��o sua de buscar nomes que fossem extremamente conhecidos e aqueles que foram mais invisibilizados ao longo da hist�ria?

Houve, sim, porque o livro tamb�m � um item de consumo. Mas n�o h�, para mim, nenhum exemplo em que a import�ncia do focalizado suscite alguma d�vida.

Como foi o processo de pesquisa para escrever sobre cada uma das personalidades? O senhor chegou a fazer entrevistas com as personalidades ainda vivas?

Desde mais ou menos 2000, quando comecei a produzir a Enciclop�dia brasileira da Di�spora Africana, lan�ada em 2004 por Edi��es Selo Negro, reuni um banco de dados biogr�ficos bastante significativo, que alimento a cada dia com vistas a atualiza��es, j� que a edi��o mais recente � de 2011. Parte desse acervo foi utilizada agora, mas fui tamb�m ajudado por algumas pesquisas complementares de que a Editora Nova Fronteira se encarregou.

O senhor teve que deixar gente de fora? Gostaria, por exemplo, de fazer uma sequ�ncia?

A listagem inicial reuniu quase 150 nomes. Da� tivemos que ir excluindo, a partir, principalmente, daqueles que, embora tivessem curr�culos de atividade expressivos, n�o tinham hist�rias de vida conhecidas. E, como o tempo de prepara��o do livro era curto, cerca de seis meses apenas, n�o conseguir�amos, naquele momento, fazer pesquisas mais demoradas. Os nomes dos que ficaram de fora est�o guardados, para, quem sabe, um segundo volume.

Na sua carreira, h� um equil�brio entre a m�sica e a literatura. Como o senhor faz para equilibrar esses dois lados art�sticos?

Na atualidade, tenho publicado mais livros do que gravado can��es, mas n�o estou parado. Em 2016, por exemplo, recebi um Pr�mio Shell pela trilha sonora do espet�culo Bilac v� estrelas, de Heloisa Seixas e Julia Romeu, encenado no Rio de Janeiro e em S�o Paulo. Al�m disso, em meus 48 anos de carreira como compositor popular, reuni um repert�rio de can��es ainda in�ditas maior ou quase do mesmo tamanho do muito que gravei at� hoje, com int�rpretes de grande prest�gio. Ent�o, tudo se equilibra: h� o tempo para o livro e h� o tempo para a m�sica...

O senhor � uma figura extremamente importante na luta contra o racismo e pela visibilidade negra. E, apesar de alguns avan�os nos �ltimos anos, temos vivido tempos dif�ceis com o aumento da intoler�ncia. Como o senhor avalia esse momento? O que podemos fazer para ir contra essa mar�?

O que est� acontecendo, s� n�o v� quem n�o quer. O que cabe a cada um de n�s, que n�o concordamos com esse estado de coisas, �, brandindo a Constitui��o Federal em vigor desde 1988, nos fortalecermos na defesa do que l� est� escrito, sobretudo nos cap�tulos relativos aos direitos humanos, ao meio ambiente e � cultura. O direito, como aprendi, � a arte de garantir a cada um o que efetivamente lhe pertence. E os ancestrais africanos da p�tria brasileira foram o alicerce sobre o qual se construiu este pa�s, pelo menos at� o advento da Rep�blica. E, por isso, n�s afrodescendentes temos direito, pelo menos a parte do que diz respeito a essa constru��o, que n�o � nem um pouquinho desprez�vel. A civiliza��o brasileira n�o � t�o judaico-crist� como andam dizendo por a�.

Ap�s Afro-Brasil reluzente, o que o senhor tem em vista lan�ar neste ano?

Para este ano j� tenho no prelo o segundo volume do Dicion�rio de hist�ria da �frica, parceria com Jos� Rivair de Macedo, da UFRGS; um livro sobre If�, uma das vertentes da religiosidade africana nas Am�ricas; e estou desenvolvendo com o magn�fico ilustrador Rui de Oliveira – ali�s, um dos 100 focalizados em Afro-brasil reluzente – um livro sobre uma das maiores personalidades da cultura afro-brasileira entre os s�culos 19 e 20. Est� previsto para este ano.




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