
Em tempos bem menos conectados que os atuais, no in�cio dos anos 2000, quando tudo era menos compartilh�vel, Denise Fraga fez sucesso com o humor�stico Retrato falado. No programa exibido semanalmente pela revista dominical Fant�stico (Globo), ela interpretava hist�rias pitorescas vividas pelo p�blico, que as enviava ao programa.
Quase 20 anos depois, a atriz tem as narrativas do dia a dia novamente como mat�ria-prima de um trabalho seu, mas desta vez no palco e com uma perspectiva mais profunda. O mon�logo Eu de voc�, com o qual ela est� em turn� pelo pa�s desde o ano passado, chega nesta sexta-feira (6) a Belo Horizonte para uma temporada que ir� at� o pr�ximo dia 22, no CCBB, na Pra�a da Liberdade.
Apesar da inevit�vel lembran�a do quadro televisivo, que rendeu at� um livro na �poca, publicado pela Editora Globo, a atriz afirma que s�o propostas diferentes, embora tenham o mesmo ponto de partida. Segundo Denise, Eu de voc� n�o consiste em hist�rias completas, com come�o, meio e fim, contadas separadamente por seu car�ter c�mico ou desfecho inusitado.
“Nossa real proposta � falar sobre se colocar no lugar do outro e sobre ouvir o outro”, diz ela, que, em 80 minutos em cena entrela�a com trechos de literatura, m�sica e poesia os 25 relatos selecionados entre 300 que recebeu de pessoas comuns narrando as pr�prias hist�rias.
“Como atriz, me colocar no lugar do outro � o meu of�cio. O que queremos � propor isso a quem assiste. A palavra empatia j� est� at� desgastada, mas, diante de um pa�s t�o dividido, com discursos acirrados sobre diferen�as, o que nos une? O que arrebata todos n�s? O que temos em comum?”, questiona a atriz.
Em vez de “uma hist�ria engra�ada de algu�m que perdeu a mala no aeroporto, contamos sobre vulnerabilidades”, afirma Denise, que teve colabora��o de Cassia Conti, Andr� Dib, Fernanda Maia e Rafael Gomes na concep��o da dramaturgia, al�m do marido, Luiz Villa�a, que dirige o espet�culo.
''Como atriz, me colocar no lugar do outro � o meu of�cio. O que queremos � propor isso a quem assiste. A palavra empatia j� est� at� desgastada, mas, diante de um pa�s t�o dividido, com discursos acirrados sobre diferen�as, o que nos une? O que arrebata todos n�s? O que temos em comum?''
Denise Fraga, atriz
As hist�rias em cena, enviadas � equipe por texto, v�deo ou mensagem de voz depois de uma campanha publicada em um jornal e nas redes sociais, incluem narrativas extremamente cotidianas. Uma professora sobre um de seus alunos, um psicanalista sobre uma paciente ou o caso de um amor abusivo, sem que haja um tema central em comum.
“Notamos nelas uma amostra de uma melancolia que assola o pa�s. Pessoas falando de suas solid�es, como quem pede para ser ouvido”, avalia a atriz. Apesar desse vi�s, a montagem se aproxima da com�dia, g�nero que consagrou Denise Fraga.
“Nossa grande bandeira foi falar com leveza do terr�vel, da trag�dia cotidiana. Essa � minha grande bandeira sempre, de procurar esse lugar onde seja poss�vel chorar e rir ao mesmo tempo”, afirma ela, que passou a enxergar a pe�a como “um laborat�rio antropol�gico”. “Sempre falei que uma pessoa vive melhor quando acompanhada da arte. Quem l� Dostoi�vski ou Fernando Pessoa, no m�nimo, sofre mais bonito, se tem a obra deles para se agarrar. Essa � a grande fun��o da arte, fazer voc� se sentir pertencente a um todo, entender que n�o est� sozinho e se reconhecer como pertencente a essa coisa chamada humanidade. � isso que tentamos fazer ao tran�ar pequenas hist�rias com a m�sica, poesia e literatura. O que a Cl�udia pensava quando o Chico Buarque escreveu tal m�sica? E quem estava chorando pelo amor perdido enquanto Clarice Lispector ganhava um pr�mio?”
Segundo ela, houve um cuidado com a montagem para “n�o virar um drama, nem uma com�dia, que n�o �”. A chave do espet�culo � “conseguir ver o ‘extra’ no ordin�rio e criar algo extraordin�rio”. “Atualmente, parece repetitivo quando fazemos essa defesa pessoal da atividade art�stica, em fun��o de como as coisas est�o no Brasil, mas, quando me perguntam, � o que respondo: quem vive perto da arte tem mais instrumentos para compreender melhor a imperfei��o da vida, justamente porque pegamos uma hist�ria cotidiana e a devolvemos iluminada pela arte”, diz.
''Nossa grande bandeira foi falar com leveza do terr�vel, da trag�dia cotidiana. Essa � minha grande bandeira sempre, de procurar esse lugar onde seja poss�vel chorar e rir ao mesmo tempo''
Denise Fraga, atriz
Denise Fraga come�a e termina a pe�a no meio da plateia e tem outros momentos de intera��o com o p�blico ao longo do espet�culo. Excepcionalmente neste domingo, dia 8 de mar�o, data internacionalmente dedicada �s mulheres, haver� um bate-papo entre a atriz e o p�blico antes da sess�o.
Embora esse tipo de conversa seja comum na turn�, desta vez ter� a ver com a tem�tica da data. Sobre isso, ela avisa que ser� tamb�m “um momento para tratar dessa necessidade de aumentar nosso grau de escuta sobre o outro”. O encontro ser� �s 15h, no CCBB.
Eu de voc�
Mon�logo com Denise Fraga. Desta sexta (6) a 16/3 e de 20 a 22/3, de sexta a segunda, sempre �s 20h, no CCBB Belo Horizonte – Teatro I (Pra�a da Liberdade, 450 – Funcion�rios). Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), � venda na bilheteria local e no site Eventim. Classifica��o indicativa: 12 anos. Mais informa��es: (31) 3431-9400.