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Estado de Minas

Soci�loga decifra a imagem da mulher ao longo dos s�culos

Isabelle Anchieta lan�a em BH nesta quinta (12) o livro que � resultado de oito anos de pesquisa sobre o tema e mostra a complexidade da representa��o do feminino


postado em 11/03/2020 04:00

A atriz Jane Fonda no filme Barbarella (1968), do francês Roger Vadim, no qual ela interpreta o papel-título, de uma heroína futurista(foto: Edusp/Reprodução)
A atriz Jane Fonda no filme Barbarella (1968), do franc�s Roger Vadim, no qual ela interpreta o papel-t�tulo, de uma hero�na futurista (foto: Edusp/Reprodu��o)
Bruxas, deusas, divas. As mulheres foram representadas de v�rias maneiras nas artes ao longo dos s�culos. A soci�loga mineira Isabelle Anchieta dedicou oito anos de estudos ao tema. O resultado est� no livro A imagem da mulher no Ocidente moderno, tema do Sempre Um Papo desta quinta-feira (12), em BH.

Dividida em tr�s volumes, num total de 692 p�ginas, a obra lan�ada pela Edusp aborda a complexidade dessas representa��es. A pesquisa que originou o livro, material da tese de doutorado em sociologia de Isabelle Anchieta na Universidade de S�o Paulo (USP), abrange desde as ilustra��es das bruxas e �ndias canibais, feitas na Idade M�dia, at� as estrelas de Hollywood.

O caminho investigativo atravessa panfletos, gravuras, obras de arte, al�m do cinema. Segundo a autora, “o norte, a linha dorsal do trabalho era mostrar um crescente processo de humaniza��o e individualiza��o, que n�o � s� da mulher, mas de todo o Ocidente, em que os estere�tipos v�o se enfraquecendo, acabando com hierarquias justificadas nesses marcadores, como o de g�nero”.

O foco na mulher, segundo a pesquisadora, deve-se � “ambiguidade da personagem”. “Ao mesmo tempo em que � marginal, ela � muito atrativa nas representa��es. S�o sentimentos amb�guos muito modernizantes. A mulher foi a primeira a entrar na modernidade, foi a primeira a ascender socialmente, justamente por esses reveses sociais. Ela tem um papel interessante na reorganiza��o da sociedade, quando coloca o projeto autobiogr�fico � frente, redefinindo a ideia de fam�lia e assumindo outros protagonismos”, afirma Isabelle.

Dessa forma, ainda que boa parte das obras analisadas no livro sejam de autoria masculina, a soci�loga evidencia em suas conclus�es que isso n�o significa necessariamente um posicionamento inferior ou fragilizado da mulher ao longo dos tempos. “Fui percebendo isso. Ela sempre lutou por autodetermina��o, negociou, subverteu e usou a imagem a seu favor. Muitas pesquisas apontam os homens como donos dos meios de representa��o e que por isso determinavam um silenciamento e uma posi��o subalterna da mulher. Mas h� muita ast�cia, jogos de poder, nem sempre a mulher saiu perdendo. Procurei separar v�rios casos para mostrar processos longos sobre isso”, explica.

A tela Olympia (1863), de Édouard Manet, é uma das imagens analisadas pela autora no livro(foto: Reprodução)
A tela Olympia (1863), de �douard Manet, � uma das imagens analisadas pela autora no livro (foto: Reprodu��o)
DIABOLIZA��O

 Esse ponto fica patente j� no primeiro volume, Bruxas e tupinamb�s canibais. “Destacarei que, a despeito do processo descentralizado que as forja, essas imagens t�m como denominador comum a constru��o da 'sobressubumanidade' das mulheres. Elas est�o, ao mesmo tempo, acima e abaixo dos homens”, escreve a soci�loga.

Isabelle elucida o contexto dizendo que “no caso das bruxas, havia uma diaboliza��o, mas porque eram mulheres que incomodavam, n�o porque eram inferiores. Elas tinham muito poder nas comunidades rurais, eram parteiras, curandeiras e amea�avam o poder salvacionista da Igreja. O reconhecimento social que tinham incomodou e gerou persegui��o. Mesmo caso das mulheres que fugiam das normas, como as vi�vas de sexualidade livre. As imagens s�o armas simb�licas, legitimam a percep��o dos atores que representam. � um longo processo”.

Nesse primeiro livro da trilogia, as p�ginas compreendem ilustra��es dos s�culos 15 e 16, com a vis�o europeia do que eram as bruxas no continente, como a obra Tr�s bruxas, do pintor alem�o Hans Baldung Grien. Nela, duas jovens e uma mulher mais velha aparecem nuas numa esp�cie de ritual libidinoso. Tamb�m aparecem ilustra��es do livro Hist�ria verdadeira e descri��o de uma terra de selvagens (1557), do alem�o Hans Staden, que passou nove meses preso no rec�m-descoberto Brasil presenciando a rotina dos ind�genas nativos. No retorno � Europa, ele retratou o que viu por aqui, especialmente as mulheres.

A pesquisadora conta que, ao longo do trabalho, procurou ver as imagens documentadas em suas publica��es originais, recorrendo a acervos europeus ou nacionais para embasar melhor suas an�lises. “Meu crit�rio era o eco da imagem. Quanto mais repetida, mais ind�cio da for�a dela como estere�tipo. S�o imagens que universalizam, ganham capacidade de reprodu��o, se tornam refer�ncia e s�o reinterpretadas”, diz.

Entretanto, ela deixa claro que se trata de “sociologia da imagem” e n�o de “hist�ria da arte”. “Claro que tem pesquisa te�rica, n�o sou especialista em arte e tive que estudar. Por�m, eu abordo a imagem como documento hist�rico, at� porque ela muda a hist�ria, n�o � s� testemunha. Al�m disso, muitas dessas imagens no livro n�o eram consideradas arte. Algumas eram panfletos informativos da �poca, por exemplo, que alertavam sobre o suposto perigo das mulheres, n�o eram objetos de frui��o art�stica”, esclarece.

SAGRADO 

Dessa forma, a tese escrita em torno das imagens n�o exibe nenhum eruditismo. “Quis dar acessibilidade e um aspecto humano a essa hist�ria, como forma de entender as ambiguidades tratadas”, argumenta a autora, que tamb�m � jornalista de forma��o. Sobre o segundo volume, Maria e Maria Madalena, que aborda um outro momento hist�rico em que representa��es femininas alternam entre o sagrado e o pecado, ela diz se tratar da “constru��o de uma idealiza��o em que a mulher est� t�o sobrehumana quanto as bruxas”.

“� a �poca da imposi��o de um padr�o moral, de castidade, que determinou a vida de muitas mulheres. Esses reveses s�o mostrados, mas h� tamb�m a figura da prostituta cortes�, que tinha liberdades que as outras mulheres n�o tinham at� ent�o, inclusive da representa��o art�stica, que era privil�gio da nobreza e do papa”, afirma. Uma das imagens analisadas nesse contexto � a pintura Olympia (1863), de �douard Manet.

No �ltimo volume, dedicado �s estrelas hollywoodianas do s�culo 20, a pondera��o sobre a ambiguidade das representa��es tamb�m � esclarecida. “Elas est�o inseridas na sociedade de consumo, existe a quest�o est�tica rigorosa, s�o mulheres que podem ser objetificadas, mas s�o tamb�m subversivas. Representam pap�is que n�o eram legitimados – elas fumam, se divorciam, promovem mudan�as. Elas trouxeram um lugar plural para a mulher. Por mais que pare�am refor�ar estere�tipos, ampliaram as possibilidades femininas ao quebrar pap�is �nicos vistos at� ent�o”, afirma Isabelle, que cita, por exemplo, Theda Bara, Greta Garbo e Jane Fonda.

O encontro com o p�blico na edi��o de amanh� do Sempre Um Papo ter� tamb�m a presen�a da jornalista M�nica Waldvogel.

“O norte, a linha dorsal do trabalho era mostrar um crescente processo de humaniza��o e individualiza��o, que n�o � s� da mulher, mas de todo o Ocidente, em que os estere�tipos v�o se enfraquecendo, acabando com hierarquias justificadas nesses marcadores, como o de g�nero”

“Ela sempre lutou por autodetermina��o, negociou, subverteu e usou a imagem a seu favor. Muitas pesquisas apontam os homens como donos dos meios de representa��o e que por isso determinavam um silenciamento e uma posi��o subalterna da mulher. Mas h� muita ast�cia, jogos de poder, nem sempre a mulher saiu perdendo. Procurei separar v�rios casos para mostrar processos longos sobre isso”

“Elas (as estrelas de Hollywood) est�o inseridas na sociedade de consumo, existe a quest�o est�tica rigorosa, s�o mulheres que podem ser objetificadas, mas s�o tamb�m subversivas. Representam pap�is que n�o eram legitimados – elas fumam, se divorciam, promovem mudan�as. Elas trouxeram um lugar plural para a mulher. Por mais que pare�am refor�ar estere�tipos, ampliaram as possibilidades femininas ao quebrar pap�is �nicos vistos at� ent�o”

Isabelle Anchieta,
soci�loga e autora de Imagens da mulher no Ocidente moderno


Imagens da mulher no Ocidente moderno

Isabelle Anchieta
Bruxas e tupinamb�s canibais (224 p�gs. R$ 60, separadamente) Maria e Maria Madalena (220 p�gs. R$ 60, separadamente)  e Stars de Hollywood (248 p�gs. R$ 60, separadamente) 
Editora Edusp 
R$ 170 (a caixa com os tr�s volumes)
Edi��o do Sempre um Papo com a autora e a participa��o da jornalista M�nica Waldvogel. Nesta quinta-feira (12), �s 19h30, na Sala Juvenal Dias do Pal�cio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Entrada franca. Aceita-se doa��o de livros liter�rios novos ou usados, que ser�o encaminhados �s bibliotecas comunit�rias. Mais informa��es: (31) 3261-1501.


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