
O que de bom pode sair deste momento de incerteza enfrentado pela humanidade? Para Sara N�o Tem Nome, a resposta � clara: reflex�o. “Outros problemas at� mais graves do que o coronav�rus j� aconteciam e n�o d�vamos aten��o a eles. N�o podemos mais fugir de v�rias quest�es, como a desigualdade social”, afirma a artista visual e cantora.
Para ela, � dever de todos refletir sobre as consequ�ncias da pandemia. “O v�rus coloca em xeque muitas coisas, como o valor da vida humana e a forma como o mercado e a economia lidam com essa vida”, observa.
A possibilidade de questionar a realidade � um privil�gio. “Muita gente est� �s voltas com a sobreviv�ncia, tem de se preocupar com as coisas mais b�sicas”, lembra Sara, citando a expressiva parcela da popula��o que perdeu as fontes de renda.
A ang�stia, a incerteza e a indigna��o da artista inspiraram Agora, a nova m�sica da cantora. “Ela surgiu no meio de um processo de pesquisa. Estava lendo muitas not�cias e fiquei angustiada, passando por v�rias emo��es.” A can��o est� dispon�vel no YouTube e em plataformas de streaming.
A letra critica a forma como �rg�os p�blicos e privados, em todo o mundo, v�m lidando com a vida das pessoas. O refr�o “Ningu�m segura a m�o de ningu�m” remete a “Ningu�m solta a m�o de ningu�m”, slogan da campanha que ganhou as redes sociais recentemente.
“Lembrei-me de que est�vamos no mesmo sentido, mas de forma inversa. 'Ningu�m segura a m�o de ningu�m' vale n�o apenas para evitar a contamina��o, mas para o fato de muitos n�o terem solidariedade com quem precisa”, explica.
SOF�
Sara ressalta a import�ncia da empatia. Antes da pandemia, o “ativismo de sof�”, por meio da internet, era criticado por muita gente. Mas, agora, essa � uma postura revolucion�ria, acredita ela.“� um contraste. Apesar de voc� precisar de algu�m para te ajudar, voc� n�o pode ter contato com as pessoas. Mas a ajuda pode vir de qualquer lugar. Estamos no momento de deixar mais amplas as formas de se manifestar”, afirma. Sara diz que um simples telefonema ou mensagem j� representa ajuda.
Previsto para o fim de maio, o clipe de Agora ser� anima��o em 3D baseada em not�cias e memes sobre a pandemia. “� bem ilustrativo. Tem uma carreata de BMWs que se transformam em caminh�es carregando caix�es. Ser� o recorte resumido daquilo que vemos at� agora. � como uma linha do tempo.”
RISCO
Sara e o namorado, Pedro, decidiram se isolar antes de o confinamento social ser recomendado pelas autoridades. A decis�o se deveu ao fato de o casal conviver com muitas pessoas que fazem parte do grupo de risco.“N�o mudou tanto, porque eu j� trabalhava em casa. O mais dif�cil � a instabilidade mental: num dia voc� est� pior, no outro melhor. E tem o fato de a gente n�o saber at� quando a pandemia vai durar”, comenta.
Al�m do trabalho, Sara se dedica a cuidar da casa e das plantas. “Procuro uma minirrotina de coisas b�sicas, pois isso me ajuda a ter estabilidade emocional m�nima”, revela. No in�cio do isolamento, ela ficou deprimida. Depois, passou a se questionar sobre o que poderia fazer para ajudar os outros.
“�s vezes, a gente se sente muito pequena. Se cada um fizer o que pode, a gente vai passando por isso”, afirma. “� importante ver o presente, dar valor a cada segundo, a cada hora e a cada dia.” Para ela, terapias alternativas, medita��o e ch�s s�o importantes, assim como os pequenos prazeres da vida.
*Estagi�ria sob supervis�o da editora-assistente �ngela Faria