
Di�logo, forma��o de parcerias e muito trabalho para valorizar os tesouros culturais de Minas. Com essa determina��o, a nova superintendente em Minas do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan), D�bora do Nascimento Fran�a, vai tomar posse este m�s, num ato que poder� ser virtual, dependendo da evolu��o do novo coronav�rus. N�o importa, pois o que ela mais quer � estar presente – o tempo todo e em equipe – na busca de solu��es. Arquiteta, urbanista, mestranda em patrim�nio e com larga experi�ncia em Diamantina, a belo-horizontina, de 40 anos, ser� gestora de um dos maiores acervos culturais brasileiros – atrativos tur�sticos que, no momento, est�o fechados � visita��o devido � pandemia. Nesta entrevista, ela fala dos desafios que enfrentar�, da articula��o com as prefeituras, de nomea��es pol�micas para a autarquia federal e da conduta t�cnica em tempos de alta ebuli��o pol�tica."As pessoas devem ser avaliadas por seu trabalho e n�o por sua liga��o ou prefer�ncia pol�tica"
"Quero deixar a marca de uma gest�o t�cnicaque valorize t�cnicos de carreira dediferentes forma��es"
A senhora afirmou que far� uma gest�o eminentemente t�cnica no Iphan-MG. O que isso significa, neste momento em que todas as decis�es ganham forte tom pol�tico?
Trabalho na Prefeitura de Diamantina h� 15 anos, dos quais 12 como concursada. Durante esse tempo, ocupei cargos de coordena��o e diretorias. A marca da minha atua��o sempre foi ouvir as equipes t�cnicas. E tenho certeza de que no Iphan n�o ser� diferente. A superintend�ncia � composta por uma equipe altamente qualificada e competente, vamos trabalhar juntos. Acredito que a conduta t�cnica � um caminho que mant�m vivo o compromisso com as institui��es. O di�logo tamb�m ser� fundamental.
Muitos setores ligados ao patrim�nio respiraram aliviados diante da nomea��o de uma profissional com forma��o na �rea para ocupar a superintend�ncia do Iphan em Minas. Qual ser� o maior desafio?
Com certeza, um dos grandes desafios, entre tantos, ser� corresponder a toda essa expectativa. Fico feliz pelo apoio e reconhecimento. Entretanto, acho que n�o existe o maior desafio. Todos ser�o igualmente importantes e me dedicarei, com compromisso e seriedade, para que o Iphan continue sendo respeitado e atue de maneira efetiva, como sempre foi. O momento atual � desafiador, estamos vivendo uma pandemia mundial. � preciso atuar com seguran�a e responsabilidade neste momento cr�tico, pensando em formas alternativas que mitiguem os grandes danos sociais, econ�micos e culturais que todos j� estamos sofrendo.
Recentemente, o ministro do Turismo, Marcelo �lvaro Ant�nio, nomeou para a superintend�ncia em Minas pessoas consideradas sem qualifica��o para os cargos. Houve at� representa��o de parlamentares na Procuradoria-Geral da Rep�blica questionando essa decis�o. Como a senhora pretende administrar isso?
Discordo dessa afirma��o. Afinal de contas, as pessoas t�m qualifica��o t�cnica. As pessoas devem ser avaliadas por seu trabalho, e n�o por sua liga��o ou prefer�ncia pol�tica. Meu foco � apenas o Iphan. Na minha gest�o, espero manter uma equipe coesa, determinada a valorizar e trabalhar pelo Instituto.
"Considero fundamental obras para al�m de restaura��o das igrejas. Investir em infraestrutura de espa�os p�blicos � estrat�gico"
Como espera conduzir projetos como o PAC Cidades Hist�ricas, iniciativa de governos anteriores e de extrema import�ncia para a requalifica��o dos s�tios? Haver� continuidade ou contingenciamento das a��es?
Sinto-me muito � vontade para falar do PAC, pois estou envolvida com o programa desde o lan�amento. Pretendo intensificar o di�logo com a administra��o do Iphan em Bras�lia para que as a��es sejam mantidas e possivelmente ampliadas para interven��es urbanas de maior robustez. Todos sabemos que Minas Gerais � parte fundamental da hist�ria do Brasil. Para se ter uma ideia, este m�s, a Prefeitura de Diamantina vai licitar a obra de requalifica��o urban�stica do Largo Dom Jo�o, uma das a��es do PAC na cidade. Considero fundamental obras para al�m de restaura��o das igrejas. Investir em infraestrutura de espa�os p�blicos � estrat�gico, pois isso melhora a ambi�ncia urbana e potencializa a qualidade de vida da popula��o. N�o podemos nos esquecer do patrim�nio imaterial, t�o presente em Minas.
A senhora assume o cargo de superintendente do Iphan neste momento dominado pelo novo coronav�rus e de duras cr�ticas ao setor cultural. Planeja alguma iniciativa para a recupera��o do patrim�nio de Minas, que representa grande parte dos bens tombados no pa�s?
Como disse anteriormente, Minas det�m grande parte da hist�ria do Brasil. Mas todos n�s reconhecemos que este n�o � um momento f�cil. Estamos passando por uma turbul�ncia mundial, uma pandemia inimagin�vel at� poucos meses atr�s. Mas n�o podemos ficar esperando. Temos de agir dentro do que a realidade nos oferece. Para isso, vou conversar com representantes dos governos federal, estadual e municipal, do Iphan e das cidades detentoras de bens tombados. Acredito que juntos seremos capazes de planejar a��es efetivas, mesmo em tempos de crise.
Como o Iphan � atualmente vinculado ao Minist�rio do Turismo, e as cidades com potencial para receber visitantes est�o �s moscas, j� � poss�vel tra�ar estrat�gias conjuntas para tentar reerguer essas localidades? Afinal, o patrim�nio cultural, especialmente o acervo barroco, � o grande atrativo delas.
N�o s� as cidades mineiras com potencial para receber turistas est�o enfrentando dificuldades. Isso � uma ocorr�ncia mundial. O turismo � um dos setores mais afetados pela pandemia. No caso de Minas Gerais, temos um dos maiores acervos culturais do pa�s, o que contribui para o reerguimento do turismo. Temos de usar esse potencial quando chegar o momento da retomada. Vou trabalhar muito em busca de parcerias com os poderes p�blico e privado para que essa dificuldade seja ultrapassada e consigamos, o mais rapidamente, voltar ao lugar que nos � devido por merecimento.
A falta de recursos � sempre a maior queixa das autoridades e comunidades para manter um patrim�nio que inclui igrejas, capelas, mosteiros, museus, grutas e tantos outros tesouros. A criatividade vence essa barreira? � poss�vel fazer parcerias? Com quem?
A criatividade � sempre fundamental. Parcerias s�rias e comprometidas ser�o sempre bem-vindas. Como estou acabando de chegar, quero, junto com a equipe, identificar e entrar em contato com esses poss�veis parceiros, sejam eles p�blicos ou privados.
Quais ser�o as suas prioridades, assim que assumir o cargo?
Ainda � cedo para falar em prioridades. Quero ouvir toda a equipe da superintend�ncia e estreitar o di�logo com os escrit�rios t�cnicos. Acredito que eles conhe�am a fundo a demanda de cada local. Pretendo estar em contato constante e alinhada com a presid�ncia do Iphan em Bras�lia e nas demais localidades do Brasil. Todos temos de remar o barco para o mesmo lado. Dia ap�s dia, vamos avan�ar muito.
Quais boas experi�ncias de sua gest�o em Diamantina, patrim�nio da humanidade, poder�o ser aplicadas, de forma ampla, em Minas?
Cada cidade tem suas especificidades, demandas e car�ncias. Certamente, minha experi�ncia em Diamantina contribuir� para o desenvolvimento do meu trabalho na superintend�ncia. Agrade�o aos meus colegas de Diamantina por tudo o que fizemos juntos, quero contar com eles. Uma experi�ncia de sucesso que acredito poder� ser aplicada a outras cidades � o conv�nio entre Iphan e prefeituras para a manuten��o de pr�dios p�blicos. A equipe de restaura��o atuou com �xito nesse trabalho em Diamantina.
Qual ser� a marca de sua gest�o?
Vou me dedicar com afinco ao meu trabalho. As marcas ser�o consequ�ncia de uma gest�o participativa, focada e determinada. Sabemos da import�ncia das constru��es coletivas na prote��o do patrim�nio cultural. Hoje, temos instrumentos capazes de trazer a comunidade para o centro das discuss�es. Invent�rios participativos e educa��o patrimonial s�o exemplos disso. O di�logo e as parcerias institucionais ser�o constantes. Precisamos de um olhar multidisciplinar para o patrim�nio. Gosto muito do que fa�o, sou arquiteta, urbanista e mestranda do Iphan por escolha e amor. A experi�ncia do mestrado me possibilitou tirar quest�es reflexivas da pr�tica patrimonial. Darei continuidade aos programas existentes e pretendo desenvolver a��es para salvaguardar o patrim�nio, seja ele material ou imaterial. O Iphan � um �rg�o importante, respeitado e s�rio. Quero deixar a marca de uma gest�o t�cnica que valorize t�cnicos de carreira de diferentes forma��es, que sempre se atualizam. � um orgulho estar chegando. Conto com toda a equipe para alcan�ar �xito.