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Estado de Minas POL�TICA P�BLICA

Novo secret�rio de Cultura de Minas fala sobre planos anticrise

Le�nidas de Oliveira foi nomeado nesta quarta (13) para o cargo e diz que situa��o dos trabalhadores da cultura sem sustento, como os artistas de circo, tem lhe tirado o sono


postado em 14/05/2020 04:00

Leônidas de Oliveira em registro de 2016, quando comandava a Fundação Municipal de Cultura, que diz ter sido sua mais recompensadora experiência profissional até hoje(foto: Jair Amaral/EM/D.A.Press)
Le�nidas de Oliveira em registro de 2016, quando comandava a Funda��o Municipal de Cultura, que diz ter sido sua mais recompensadora experi�ncia profissional at� hoje (foto: Jair Amaral/EM/D.A.Press)

“A arte, assim como a medicina, salva. Salva a alma e, neste momento, precisamos todos dessa salva��o.” Esse � o pensamento do novo secret�rio de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, o mineiro de S�o Gotardo (Regi�o do Alto Parana�ba) Le�nidas de Oliveira. Nomeado oficialmente pelo governador Romeu Zema na quarta-feira (13), o arquiteto, urbanista e historiador vai cuidar do patrim�nio, das artes e de projetos para alavancar o turismo nas regi�es corro�das economicamente pela pandemia do novo coronav�rus.

Para o novo titular da pasta, o maior desafio � chegar ao interior. “Somos um estado imenso e que ressente historicamente da fraca a��o da Secretaria de Cultura no interior, sobretudo na quest�o dos incentivos. Vamos descentralizar recursos e a��es. Sabemos todos que � preciso e assim faremos.”

Adiantando que o governo lan�ar� em breve “uma grande rede de solidariedade e de pol�ticas para o setor”, j� que muitos artistas de circo, por exemplo, est�o vivendo em situa��o prec�ria, Le�nidas acredita ser essencial buscar a sustentabilidade econ�mica das institui��es que s�o pilares da cultura mineira. “Isso no sentido de sairmos da esfera estadual e buscar recursos complementares no governo.”

Na entrevista a seguir, o secret�rio fala sobre seus projetos, a necessidade de parcerias e comenta a recente entrevista da secret�ria Especial de Cultura, Regina Duarte.


O senhor trabalhou na Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, como presidente da Funda��o Municipal de Cultura e da Belotur, e est� vindo do governo federal, em cargos de dire��o na Funarte e na Embratur. Considera o novo posto, na gest�o estadual, um desafio ou uma oportunidade para fazer o que precisa ser feito?
Os trabalhos anteriores foram um aprendizado imenso. Na Funda��o Municipal de Cultura tive, at� hoje, minha maior alegria de realiza��o enquanto profissional da cultura. Junto com seu corpo t�cnico, com os conselhos, coletivos e a iniciativa privada de Belo Horizonte, tivemos bons e gratificantes resultados em pol�ticas p�blicas. Embratur e Funarte me mostraram um mundo novo da gest�o p�blica no �mbito federal. Conheci funcion�rios comprometidos e isso me fez entender ainda mais a import�ncia do corpo t�cnico efetivo de uma institui��o. � nossa seguran�a. Foi um aprendizado intenso da m�quina da cultura em n�vel federal, extremamente diferente das minhas experi�ncias anteriores. Uma escola complexa, dura �s vezes, mas que me trouxe uma bagagem essencial para meu aperfei�oamento profissional. Aprendi muito.

De que forma o senhor pretende conciliar cultura e turismo no momento em que as cidades mineiras amargam um preju�zo enorme com a falta de visitantes, devido � pandemia do novo coronav�rus, e o setor cultural sofre com o permanente problema da falta de recursos?
� um acerto cultura e turismo juntos, sobretudo no que se refere � economia. S�o in�meras conjun��es, mas a maior delas reside no fato de que 70% do turismo mineiro � cultural, incluindo a� a gastronomia e os patrim�nios hist�ricos e ambiental. Ent�o, juntar as duas pot�ncias num projeto de imagem de Minas para Minas, de Minas para o Brasil e o mundo � meta a ser cumprida. No entanto, chegamos hoje a um momento cr�tico para a duas �reas, quem sabe o maior dos �ltimos 100 anos. Isso desencadeou um processo danoso em que falta o b�sico para muitos de nossos guias tur�sticos, artistas, cultura popular, circo, profissionais da “graxa”, ou seja, aqueles que montam palcos e fazem a coisa girar, do m�sico do bar, dos casamentos, do artista de rua e at� mesmo para grandes nomes da nossa arte, que, impossibilitados de trabalhar, n�o t�m condi��es de se manter. Para a cultura, mais que a falta de incentivos, falta estrutura��o da sustentabilidade econ�mica do setor e faltam solidariedade e amor aos nossos artistas de uma parte da nossa sociedade, pois soma-se a isso a campanha massiva de discrimina��o do artista, dos fazedores de cultura nos �ltimos anos. Isso me deixa profundamente preocupado e � algo que precisamos reverter, pois arte, assim como a medicina, salva. Salva a alma e, neste momento, precisamos todos dessa salva��o para elevarmos nosso pensamento. S� um dado real do que digo: em Minas, temos hoje 65 circos com dezenas de fam�lias que n�o possuem nada al�m de seu fazer art�stico e sua tenda. Muitos n�o possuem sequer documentos. Nesse caso, a situa��o � de fome, e faltam recursos para pagar �gua e luz. Isso tem nos tirado o sono. Precisamos agir e essa est� sendo nossa primeira grande miss�o na secretaria. Estamos criando uma grande rede de solidariedade e de pol�ticas para o setor. Tudo isso num projeto que o governo lan�ar� em breve.

Sob o guarda-chuva da Secretaria de Cultura e Turismo est�o muitas institui��es importantes, como o Instituto Estadual do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico (Iepha), a Funda��o Cl�vis Salgado, a Orquestra Filarm�nica de Minas Gerais, a Funda��o de Arte de Ouro Preto (Faop), teatros, museus, etc. De que forma pretende garantir essa m�quina cultural em funcionamento e com produ��o de qualidade?
O primeiro a ser feito � buscar a sustentabilidade econ�mica dessas institui��es, que s�o pilares da cultura mineira. Isso no sentido de sairmos da esfera estadual e buscar recursos complementares no governo federal, sobretudo aproveitando o oportuno momento de termos um ministro mineiro, Marcelo �lvaro Ant�nio, sempre sens�vel e acess�vel. � preciso buscar parceiros privados. � preciso analisar a renda que cada institui��o gera, � preciso usar o experiente e idealista funcionalismo p�blico da cultura e seus equipamentos para centrar esfor�os na criatividade, na solidariedade e no governo, agir de forma transversal, compreendendo a cultura como indutor da economia criativa e sua representa��o no PIB do estado. E, claro, o turismo cultural promovendo esse sistema num grande projeto de pertencimento � nossa terra, de amor � nossa cultura. Minas tem todos os ingredientes para ser o estado em que o turismo cultural, do carnaval ao nosso insuper�vel patrim�nio hist�rico, passando pelas nossas �guas e gastronomia, seja exemplo da uni�o dessas duas ind�strias complementares – a cultura e o turismo. Est� tudo a�, o que temos que fazer agora � planejar com nossos conselhos, coletivos, f�runs, depois abrir nossos lugares com seguran�a para o turista e promover as duas �reas. Tudo passa e vamos sair melhores e mais fortes ap�s a pandemia. Tenho profunda confian�a nisso.

Como a secretaria pretende dar continuidade aos programas de fomento e incentivo � cultura (Lei Estadual de Cultura, Fundo Estadual de Cultura, pr�mios, editais, etc.) em meio � grave crise financeira que vivemos?
O governo de Minas compreende a cultura como pot�ncia sensorial e econ�mica. Esse � o tom da conversa leve, equilibrada e sensata que estamos tendo. Nada me anima mais que isso neste novo momento pessoal. O governo j� descontingenciou o Fundo Estadual de Cultura, nosso adjunto Bernardo (Bernardo Silviano Brand�o) � uma m�quina de articula��o e estamos todos trabalhando em mutir�o para lan�ar em breve o edital emergencial. Estou com ele em m�os, no entanto, Bernardo e eu solicitamos uma simplifica��o ao m�ximo, para dar amplo acesso, sobretudo a quem precisa. Todos concordamos nisso. A Funarte faz isso de forma magistral, como sabemos, portanto � um bom exemplo a seguir. A secretaria n�o s� pretende dar continuidade aos programas e projetos existentes, em especial os pactuados com o governo, como soterrar a ilumina��o p�blica das cidades hist�ricas. � preciso aperfei�oar mais a participa��o da sociedade nas discuss�es e as parcerias p�blico-privadas. No entanto, � preciso formar os agentes culturais para a autossustentabilidade, sobretudo os consolidados e que possuem mercado no campo da arte. � preciso chegar ao interior, eis nosso maior desafio. Somos um estado imenso e que ressente historicamente da fraca a��o da Secretaria de Cultura no interior, sobretudo na quest�o dos incentivos. Vamos descentralizar recursos e a��es. Sabemos todos que � preciso, e assim faremos.

O senhor fala muito na import�ncia das paisagens culturais de Minas. O que isso significa na pr�tica e qual a melhor forma de valoriz�-las?
Nosso imagin�rio cultural ou ideia coletiva de pertencimento � nossa terra em grande parte reside na mem�ria. E essa mem�ria ou entendimento de mineiridade est� intimamente relacionada com a paisagem cultural, que, por sua vez, � um conjunto de sensa��es. � a amplid�o do cerrado e sua mesa farta e nosso sotaque tropeiro... S�o as montanhas e serras do Sul, com suas �guas e luz sublimes... � sua gastronomia assombrosamente refinada... � o Vale do Jequitinhonha e sua enlouquecedora arte que nos toca as fibras do cora��o... � o Barroco das cidades hist�ricas... � rio, � mar, � bar, � fog�o a lenha... � imensid�o de paz... � Pampulha patrim�nio paisagem cultural da humanidade. Minas s�o muitas, como diz Guimar�es Rosa, mas precisamos extrair s�nteses para promover o estado como destino tur�stico, e nisso nossa paisagem cultural tem papel fundante. Se nos perguntarmos por que vir a Minas, certamente um dos aspectos citados aflora na mente e se torna objeto de desejo. S� vendemos no turismo o desejo de conhecer, e Minas � desej�vel, pois tem o que ningu�m no pa�s tem. Reside aqui cerca de 60% do patrim�nio cultural do Brasil. Minas � hist�rica, sim. Nossas cidades hist�ricas possuem valores incalcul�veis na hist�ria da humanidade, sim. A inova��o � instrumento, e n�o fim em si mesma. No entanto, no conceito de paisagem cultural cabem todos. Todos estamos inseridos nessa paisagem que chamamos de Minas Gerais.

Minas tem um dos patrim�nios culturais (igrejas, capelas, mosteiros, etc.) mais ricos do Brasil, e muitos monumentos est�o degradados. O senhor j� teria um plano, juntamente com o Iepha, para recuperar esses bens?
Al�m de termos aqui o maior conjunto barroco das Am�ricas, nossas cidades possuem uma forma��o muito peculiar, a igreja e o adro como elementos fundantes da nossa hist�ria urbana. Portanto, a import�ncia do nosso patrim�nio hist�rico vai al�m. Ela � parte essencial da nossa compreens�o de quem somos, de onde viemos. � preciso fincar p� no futuro, sabemos, mas nossa hist�ria � e deve ser preservada. Temos v�rios planos, mas quero destacar dois: o cuidado com a parte el�trica desses bens – e o Iepha j� vem trabalhando nisso –, e o soterramento da fia��o que interfere na visibilidade dos bens. S�o projetos que devemos estender. Por outro lado, � preciso unir o patrim�nio imaterial de forma din�mica com a economia da cultura e do turismo. Isso significa promover o patrim�nio para atrair turistas e fortalecer a cadeia produtiva do queijo, do caf�, da cacha�a, do p�o de queijo, dos doces, ou seja, da manufatura, e potencializar a venda no estado e para fora, fortalecendo a cadeia e gerando emprego e renda. Iepha, Empresa Mineira de Comunica��o, cadeia da produ��o da gastronomia precisam andar juntos. Vamos investir nisso, bem como vamos assiduamente buscar recursos e parcerias para continuar cuidando da nossa arquitetura hist�rica, repito, singular, tanto � que somos o estado com maior n�mero de bens reconhecidos pela Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e a Cultura (Unesco) como patrim�nios mundiais.

Nos seus encontros, na semana passada, com o governador Romeu Zema e o vice-governador Paulo Brant, que � um homem muito ligado � cultura, o senhor apresentou, de imediato, projetos que j� podem deslanchar?
Paulo Brant � um homem singular. A cultura mineira deve muito a ele e � sua fam�lia. � sempre uma del�cia discutir cultura e turismo com ele. Apresentei em linhas gerais a ele e ao governador Romeu Zema a ideia da proposta, em especial a transversalidade das cadeias produtivas da cultura com a economia criativa e o turismo, que alinhava tudo para o crescimento econ�mico do estado. O governador Romeu Zema est� muito preocupado com a cultura e o turismo. Ele me disse, de forma clara e objetiva, que entende os dois setores como os mais afetados pela crise da COVID-19. Deu ideias interessantes para o marketing tur�stico, que j� come�amos a operar. Interessante a conversa com os dois. S�o profissionais complementares e a equipe de governo � �tima. Vejo uma equipe coesa, disposta e p� no ch�o. � tudo de que Minas precisa neste momento. Isso me tranquiliza e aumenta minha responsabilidade.

O senhor viu a recente entrevista da secret�ria nacional de Cultura, Regina Duarte? Acha que as declara��es sinalizam um retrocesso na cultura?
Ainda n�o entendi bem essa conturbada entrevista no contexto de tudo o que vivemos e � preciso ser feito pela cultura hoje no pa�s. Quero e proponho isso para os meus pares – falar em gest�o de resultados e deixar de lado as ideologias. Um pacto pela a��o e n�o pela fala��o, como diz nosso governador Romeu Zema. E arte � tamb�m t�cnica. Cuidar da cultura � restaurar nosso patrim�nio. Cultura � criatividade em sua ess�ncia, t�o fundamental para a economia brasileira neste momento. Cultura � forma��o, ent�o precisamos cuidar da Funda��o de Arte de Ouro Preto (Faop) e do Centro de Forma��o Art�stica e Tecnol�gica (Cefart) da Funda��o Cl�vis Salgado. Na verdade – e isso me tranquiliza – a cultura � t�o forte e profunda que vive com ou sem o estado, por�m, � fun��o do governo criar condi��es, junto � sociedade, de termos um ambiente livre, renovado, onde reine a cultura da paz e, com ela, o pleno desenvolvimento da pessoa humana em todas as suas dimens�es sensoriais. E, claro, gerem bem- estar social, como produ��o de emprego e renda. Ent�o, vamos juntos por uma cultura da paz, que ganhamos todos, seremos mais felizes e precisamos!


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