
Rafael dos Santos Rocha era um jovem trabalhador pobre da periferia da Grande Belo Horizonte at� que tudo aconteceu. Em uma emboscada policial, foi torturado com uma crueldade tremenda. A vida de Rafael nunca mais foi a mesma. Sabemos disso porque � o pr�prio quem conta todos os desdobramentos das sev�cias sofridas em uma noite qualquer do m�s de maio.
Sete anos em maio, novo filme de Affonso Uch�a, um dos nomes mais celebrados da chamada gera��o de Contagem (dirigiu os longas Ar�bia e A vizinhan�a do tigre), estrearia em mar�o nos cinemas. Chegaria ao circuito ao lado de outro m�dia-metragem mineiro, Vaga carne, de Grace Pass� e Ricardo Alves J�nior. A estreia ocorreria na semana em que teve in�cio o per�odo de isolamento social. Diante do impedimento, a distribuidora dos dois m�dias, Emba�ba Filmes, tamb�m de Minas Gerais, vai fazer o lan�amento on-line nesta quinta (14). A ideia � que quando os cinemas reabrirem, os filmes tamb�m cheguem � tela grande.
A for�a do filme de Uch�a est� tanto no depoimento de Rafael, que conta sua hist�ria em longo plano com uma sinceridade do�da, e na maneira engenhosa como o diretor construiu a narrativa. Uch�a era vizinho de Rafael no Bairro Nacional, em Contagem, desde garoto. Certo dia, recebeu a not�cia de que ele havia sumido. Muito tempo depois, houve o reencontro dos dois. Ao ouvir de Rafael a sua trajet�ria desde o desaparecimento, teve a ideia de fazer um filme.
“Para mim, foi muito chocante, pois � uma hist�ria superdram�tica, tr�gica. A hist�ria do Rafael � a de muitos, pois revela a tradicional rela��o de poder da pol�cia. A viol�ncia faz parte do jogo, � a forma com que a sociedade brasileira constrange e limita a periferia”, comenta o diretor.
Desde o in�cio – a primeira ideia do filme surgiu em 2012 –, Uch�a n�o queria uma narrativa simplista, “de ligar a c�mera e dizer: Fala a�”. “Queria adicionar algo � equa��o, trazer outros elementos de linguagem, fazer uma constru��o que s� o cinema pode.”
Misturar fic��o e realidade, algo que j� fez em A vizinhan�a do tigre, era parte da equa��o. “Queria come�ar a hist�ria com uma entrevista, a forma mais b�sica do document�rio, e no meio do caminho mudar para o di�logo ficcional, a forma mais b�sica da fic��o, que � o contraplano”, explica Uch�a.
Tal mudan�a ocorre, bem como a inteligente sequ�ncia final, ficcional, que o diretor chama de “jogo” (o nome dele seria um spoiler do filme). “Tive dificuldade de entender como terminar. O jogo foi uma ideia que veio no meio das filmagens”, conta. “Foi a forma encontrada para representar algo irrepresent�vel, que � uma trag�dia pessoal que n�o teve registro.”

ENSAIO
Tudo isso, no entanto, n�o surtiria efeito n�o fosse a for�a de Rafael em seu depoimento, exibido sem cortes. Para tal, revela Uch�a, os dois ensaiaram pelo menos 50 vezes. “No come�o da filmagem, pedi para ele contar a vida dele. N�o gostei do resultado, ficou solto, documental demais no mau sentido, sem dar o poder que a hist�ria tinha. Sentei com ele e escrevemos um texto baseado na vida dele. Fizemos um guia, escolhemos alguns acontecimentos e colocamos na ordem que ele tinha vivido. Rafael estava com vontade de ser desafiado e, � medida que repetia a cena, �amos trabalhando o olhar, a pausa, o ritmo, a postura do corpo”, acrescenta o diretor.Sete dias em maio tem pouco mais de 40 minutos, o que o configura como m�dia-metragem, o “limbo” do cinema, diz Uch�a. Isso porque muitos festivais n�o aceitam filmes com essa dura��o. Mas o filme acabou se dando bem. Sua premi�re ocorreu em abril de 2019 no festival Visions du R�el, na Su��a. J� foi exibido em quase 40 festivais, nacionais e internacionais.
“N�o d� para reclamar, pois a repercuss�o foi muito acima do que eu esperava. O mais legal � que o filme acabou passando em mostras de curtas e de longas.”, diz Uchoa.
Sete anos em maio foi eleito o melhor m�dia-metragem da mostra Novos Rumos, do Festival do Rio, e recebeu men��o honrosa no Festival de Curtas de Belo Horizonte. Em janeiro, foi exibido na Mostra de Cinema de Tiradentes, que geralmente n�o aceita m�dias-metragens.
SETE ANOS EM MAIO
O filme est� dispon�vel para loca��o no site da Emba�ba Filmes (embaubafilmes.com.br) pelo valor de US$ 1
VAGA CARNE
O filme est� dispon�vel no site embaubafilmes.com.br pelo valor de US$ 1. Tamb�m estar� dispon�vel por 30 dias pelo site SPCine Play (spcineplay.com.br)