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Estado de Minas DE VOLTA

Fernanda Porto supera depress�o e grava disco ap�s intervalo de 11 anos

Cantora lan�a primeiro no meio digital e aos poucos as 14 faixas de 'Corpo el�trico e alma ac�stica', previsto para agosto


16/05/2020 04:00

Depois de 11 anos sem gravar, cantora lança primeiro no meio digital e aos poucos as 14 faixas do disco, previsto para agosto (foto: Millena Rosa/divulgação)
Depois de 11 anos sem gravar, cantora lan�a primeiro no meio digital e aos poucos as 14 faixas do disco, previsto para agosto (foto: Millena Rosa/divulga��o)

Foram 11 anos desde o �ltimo �lbum de uma carreira com uma proposta sonora bem definida, que chegou solit�ria de turmas, mas conseguindo aceita��o de cr�ticos e um espa�o respeit�vel no mercado europeu que identificava na m�sica brasileira que Fernanda Porto fazia uma esp�cie de atualiza��o por sua eleg�ncia eletroac�stica. Muitas vezes mais el�tricas do que ac�sticas, o que a levou a ser identificada logo com o drum'n' bass em alta, j� no estouro do disco de 2002, e a ganhar um certo r�tulo de drum'n'bossa.

Quatro discos se passaram desde sua origem e, ent�o, Fernanda se retirou de cena por motivos mais pessoais do que art�sticos. Agora, ela voltou alinhada com o novo tempo, em que os discos rodam mais devagar, uma faixa a cada 15 dias. Seu trabalho se chama Corpo el�trico e alma ac�stica, com dois singles sendo lan�ados por m�s, cada um com um v�deo produzido em short film, que estar� na semana seguinte dispon�vel no canal oficial do YouTube e nas redes sociais da artista, sempre �s sextas-feiras. Isso ser� feito at� se completarem as 14 faixas in�ditas que ela comp�s e gravou em um per�odo aproximado de dois anos. As vers�es f�sicas, em CD e em LP, sair�o em agosto.

Quando se observa o que Fernanda Porto fez, a sensa��o � de que as mudan�as est�o por todos os lados. O som de origem, mais trabalhado no eletr�nico do que no org�nico, vem mais equilibrado, justificando o nome que balanceia corpo e alma com as ideias de el�trico e ac�stico. A gravadora � ela mesma, e n�o mais a Universal (para onde migrou todo o patrim�nio de sua ex-EMI) e todos os instrumentos, composi��es e execu��es s�o assinados apenas por ela, Fernanda.

Para tudo h� uma hist�ria, mas a principal pergunta nesse momento talvez seja sobre o que levou a cantora a deixar os palcos por tanto tempo, e num momento em que sua carreira parecia estar sedimentada, mesmo com altos e baixos, com quatro discos lan�ados. Uma s�rie de acontecimentos, ela conta, a levaram a uma depress�o daquelas que surgem silenciosamente, ganham territ�rio f�sico sem dar maiores sinais, at� que algo aparentemente corriqueiro a deflagre. “Fiquei ao todo seis meses com essa depress�o, tomando rem�dios fortes, mas com um m�dico me dizendo que eu sairia dessa.”

PROBLEMAS

Fernanda conta que teve problemas s�rios com o seu empres�rio em 2004, algo que a desestabilizou. Mais tarde, em 2009, seu terceiro �lbum, Auto retrato, n�o foi nada bem se comparado aos n�meros oficiais dos anteriores. A estreia de 2002 havia vendido 20 mil discos; Giramundo, de 2004, faturou 50 mil; um Ao vivo, de 2006, caiu para 5 mil; e, enfim, Auto retrato, de 2009, ficou nos 3 mil. O pai sofreu um abalo profissional, as d�vidas da fam�lia aumentaram, seu est�dio foi a leil�o e um choro convulsivo passou a frequent�-la entre duas e tr�s horas por dia. “Muita coisa desandou”, ela diz. Depois de deixar a medica��o sob orienta��o m�dica, a m�sica voltou.

O �lbum � curioso por aquilo que soa e tamb�m aquilo que silencia. E o que soa nunca traz esse hist�rico de agonias na primeira camada. Sua voz est� cristalina, precisa, ajustada com folga em tudo o que se prop�e a fazer sem grandes recursos eletr�nicos e, apesar de sua ideia de equil�brio eletroac�stico, est� mais humana e pr�xima do que qualquer robotiza��o.

A m�sica que abre o disco pode ser interpretada como biogr�fica. “Tempo vou pedir pra voc� vir comigo/ Se acelero � porque te sigo/ N�o quero estar nem antes nem depois/ O teu compasso muda e eu n�o sei”, e ent�o pede, no refr�o: “Tempo, tempo me ensina a hora certa de chegar”. Apesar da emo��o que ela pode levar a quem conhece a hist�ria vivida por Fernanda, est� longe de ser uma can��o triste.

O �lbum quase nunca � triste. Melodia infinita faz at� o caminho contr�rio ao abrir assim: “Vou cantar pra voc� melodia infinita/ Pra tentar lhe dizer uma coisa bonita/ Dia a dia vem voc� de novo no meu pensamento/ Nessa vida a gente sempre volta no melhor momento/ Eu enrosco sempre a minha m�o no teu cabelo desfeito”.

Outra que parece biogr�fica � Paulistana de verdade. “Eu n�o nasci aqui, de onde foi que eu vim?/ Mais eu quero ficar nessa imensid�o/ Preciso desse ch�o pra ser meu lugar.” E nem mesmo Corpo el�trico, a can��o, � assim t�o el�trica. Sem sinais do peso do drum'n' bass de outros tempos, ela diz: “Do meu corpo sai fa�sca afinal/ Carne e osso, tudo pisca no momento especial/ O meu corpo � el�trico ex�tico arsenal/ O meu corpo � magn�tico um �m� tropical.”

Fernanda tem um �lbum de can��es apaixonadas preciosas, curiosamente lan�adas em um tempo em que essas paix�es n�o parecem mais poss�veis. � um raro �lbum n�o inspirado em dias de confinamento e em amores distantes que n�o tem, mesmo com toda a autoridade nos arranjos programados que a legitimaria fazer o que quisesse com isso, as texturas que poderiam deixar tudo no campo dos sons et�reos e dos sonhos.

Ele � real, palp�vel, s�lido, com um ch�o bem marcado, de harmonias definidas e de uma estrutura arrebatadoramente pop. E que se torna tamb�m um �lbum dos tempos modernos, ou p�s-modernos, j� que os modernos ela j� havia inaugurado em 2002 com seu olhar e suas pesquisas, colocando no melhor lugar do novo mil�nio o samba e o maracatu.

Corpo el�trico foi feito inteiramente por ela, em toda a cadeia de produ��o. Poderia ser chamada de centralizadora demais ao dispensar sua banda para fazer tudo a seu jeito, mas a passagem que ela mesma conta reflete que a solid�o no feitio artesanal mesmo dos sons eletr�nicos n�o foi uma quest�o ditatorial. “Um dia, alguns m�sicos que tocam comigo vieram em casa, ouviram as m�sicas e tentaram colocar algo. Depois de um tempo, depois de fazer dois ou tr�s arranjos, disseram que a forma que eu havia feito era a melhor mesmo.”

AMARGO

O que fica mais � frente agora, depois de 11 anos a mais de vida, com todo o doce e o amargo que Fernanda viveu, � sua can��o. Ela estava tamb�m l� nos discos dos anos 2000, mas o deslumbramento com a descoberta de um novo jeito de fazer as coisas pode t�-la direcionado para seguir as armadilhas de um pensamento que, um dia, havia dado certo.

Uma depress�o depois n�o deixaria mesmo as coisas serem como eram. “Quando descobri o drum'n'bass, fiz o disco todo pautado por ele, mas a verdade � que sempre fui mesmo da can��o. Naquela �poca eu queria defender um argumento musical, usar os ritmos brasileiros com sons eletr�nicos, e me sinto ainda representada por isso.” O lado bom de um disco feito em casa � o fato de ele ser tamb�m um disco apresent�vel em casa. Ainda n�o est� certo, mas Fernanda j� pensa em como mostr�-lo em forma de live. (Ag�ncia Estado)


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