
Com a agenda de shows suspensa em decorr�ncia da pandemia do novo coronav�rus, Silva aproveitou os dias em casa para mergulhar nos arquivos de seu computador. Ao encontrar as grava��es da turn� que realizou em Portugal, no ano passado, o cantor e compositor capixaba resolveu divulgar esse material na forma do disco Ao vivo em Lisboa, que chega nesta sexta-feira (22) �s plataformas digitais e ser� a base do show on-line que ele realiza no domingo (24), �s 18h, em seu canal no YouTube.
“Desde o final de 2018, tenho gravado quase todos os shows que fa�o. Quando parei para escutar esse material, logo que entramos na quarentena, percebi que ele estava muito bem gravado. Preparei-me para me apresentar em algumas cidades de Portugal um pouco depois do carnaval de 2019. Em Lisboa, foram seis shows em tr�s dias, com duas sess�es por dia”, conta o m�sico.
''Continuo bem preocupado com o rumo que as coisas no nosso pa�s v�o tomar com essa pandemia. � triste ver tantas pessoas morrendo todo dia pelo v�rus e, ao mesmo tempo, � revoltante saber que um garoto chamado Jo�o Pedro foi baleado esta semana, aos 14 anos, no meio desse caos, por causa de outros problemas grav�ssimos que ainda nem come�amos a consertar''
Silva, cantor e compositor
CAPIT�LIO
Realizadas no Cineteatro Capit�lio, as apresenta��es foram uma vers�o minimalista do show do disco Brasileiro (2018). “Naquele momento, era nova a experi�ncia de me apresentar s� com viol�o e percuss�o, acompanhado de meu amigo e percussionista Hugo Coutinho. Imaginei que as pessoas que gostam da minha m�sica iriam gostar de ouvi-la nessas vers�es mais intimistas.”No repert�rio, al�m dos temas autorais, Silva reserva um espa�o especial para can��es compostas por Pixinguinha, Martinho da Vila e Caetano Veloso. O cantor ainda inclui vers�es de (There is) No greater love, cl�ssico associado � cantora norte-americana Billie Holiday (1915-1959); Um girassol da cor do seu cabelo, de L� e Marcio Borges; e Que maravilha, de Jorge Ben e Toquinho.
Este � o segundo disco ao vivo que Silva lan�a em seis meses e o quarto de sua carreira. Em novembro passado, ele liberou Bloco do Silva ao vivo, registro do espet�culo com m�sicas de carnaval que ele apresentava pelo Brasil desde janeiro de 2019, at� ser interrompido pela pandemia. Antes disso, o capixaba lan�ou Silva canta Marisa ao vivo (2017) e Vista pro mar ao vivo (2015).
No novo �lbum, Silva acentua a fun��o de cantor e int�rprete que assumiu mais recentemente. Sem a parafern�lia eletr�nica comum aos seus tr�s primeiros discos – Clarid�o (2012), Vista pro mar (2014) e J�piter (2014) –, ele tem encarado a fun��o com mais conforto, o que se revela nos discos Silva canta Marisa (2016) e Brasileiro.
“Foi um processo longo para que eu chegasse na m�sica que fa�o hoje. Eu me via mais como um m�sico e produtor do que propriamente um cantor”, afirma. “Com o tempo, fui gostando mais da minha voz e sentindo que esse era o jeito que mais gostava de me expressar. Tive um superprivil�gio de nascer numa fam�lia que, embora simples, ama m�sica e arte mais do que qualquer coisa. Gra�as a eles, tive a chance de estudar violino, piano, viol�o e baixo. Isso me deu autonomia para fazer meu som, sem depender dos grandes produtores. Considero um privil�gio poder ser livre para fazer a m�sica que quero. Talvez seja por isso que mudo tanto, porque enjoo de fazer as coisas do mesmo jeito.”
Incans�vel, ele n�o tira f�rias desde que assinou com o selo Slap, da gravadora Som Livre, em 2012, e tem aproveitado os dias em casa para come�ar a trabalhar no pr�ximo projeto, ainda sem previs�o de lan�amento. “Neste momento, eu e meu irm�o, Lucas, que al�m de meu empres�rio � tamb�m meu maior parceiro de composi��o, j� escrevemos juntos umas 20 m�sicas. Ao menos compondo n�s j� estamos”, adianta.
Apesar disso, nem todos os dias de confinamento t�m sido f�ceis. “No come�o, foi dif�cil lidar com a ansiedade e com essa sensa��o de caos total. Mas, com o tempo, fui encontrando um pouco mais de paz interna. Continuo bem preocupado com o rumo que as coisas no nosso pa�s v�o tomar com essa pandemia. � triste ver tantas pessoas morrendo todo dia pelo v�rus e, ao mesmo tempo, � revoltante saber que um garoto chamado Jo�o Pedro foi baleado esta semana, aos 14 anos, no meio desse caos, por causa de outros problemas grav�ssimos que ainda nem come�amos a consertar.”
“Tamb�m perdi um primo da mesma idade, que morava numa comunidade aqui em Vit�ria, o Jo�o Vitor, morto pelos mesmos prov�veis motivos. O que posso fazer sobre isso? Pergunto-me isso todos os dias e gosto de ouvir as respostas de pessoas mais experientes que eu para tentar fazer algo relevante. Enquanto isso, acredito que posso contribuir com minha m�sica e espero que ela ajude a acalmar o cora��o dos que precisam disso agora.”
AO VIVO EM LISBOA
• Silva
• Slap
• Dispon�vel nas plataformas digitais a partir desta sexta (22)
''� um momento de crise e inseguran�a. Somos uma banda pequena. N�o temos um caixa que v� nos sustentar por muitos meses mais. As lives ser�o um rem�dio, mas n�o as vejo sustent�veis por muito tempo''
Salma J�, vocalista da banda Carne Doce
...DE SER INFELIZ
Carne Doce lan�a nova m�sica enquanto enfrenta a inseguran�a sobre o pr�prio futuro

Na �ltima vez em que se apresentou em BH, em outubro passado, a m�sica in�dita que foi inclu�da no repert�rio do show dava a impress�o de que a banda goiana Carne Doce tentava se reconectar com seus trabalhos iniciais, em especial o disco hom�nimo, de 2014. Lan�ada oficialmente em janeiro, Temporal, uma can��o de generosos sete minutos, confirma essa teoria, enquanto Passarin e Saudade, os outros dois singles lan�ados em 2020, a reiteram.
Nesta sexta-feira (22), a banda mostra uma nova faceta do pr�ximo registro de est�dio com o lan�amento da m�sica A chegada, inspirada no conto hom�nimo de Lygia Fagundes Telles. “Ela � uma composi��o bem particular entre essas novas e n�o � de um territ�rio que a gente costuma experimentar muito”, diz a vocalista e compositora Salma J�.
“A cada disco tem uma m�sica assim, mais sombria e abstrata. Acho que a levada meio reggae � o mais novo para n�s e, ainda que a letra seja inspirada num conto, n�o me preocupei em ser fiel � hist�ria, deixei que ela se dissolvesse.”
Sem d�vida, a can��o traz uma sonoridade diferente dos singles anteriores, s� n�o d� para dizer que ela est� num lugar inexplorado para a banda, j� que ecoa o que a Carne Doce trabalhou em Princesa (2016) e T�nus (2018). As bem trabalhadas guitarras de Macloys Aquino e Jo�o Victor Santana Campos est�o l�, assim como as belas linhas de baixo de Anderson Maia. Mais recente integrante do grupo, Fred Valle, o baterista, ganha papel de destaque na can��o. Sua percuss�o r�pida permite viradas interessantes. Tudo isso embalado pela inconfund�vel voz de Salma.
PEQUI
Para a identidade visual, a banda segue fiel ao pequi, seu jeito de se afirmar como um grupo origin�rio do “interior do Brasil, esse lugar no meio”. “Quanto mais viajamos em turn�, mais a gente se compreendeu e se percebeu como brasileiros, artistas do interior, e vimos que a maior parte do pa�s tamb�m se percebe assim”, conta Salma J�.Originalmente previsto para ser lan�ado em junho, o quarto disco (ainda sem t�tulo) agora est� com a data de lan�amento indefinida. A pandemia do novo coronav�rus e a recomenda��o de distanciamento social impediram que a Carne Doce finalizasse o trabalho a tempo. “Assim que acabar a quarentena, a gente termina de gravar. Falta pouco, mas n�o podemos prometer datas.”
Sem agenda de shows desde o in�cio de mar�o e isolados em casa, em Goi�nia, os integrantes da banda t�m se reinventado para manter uma fonte de renda. “O que tem nos salvado � o streaming, porque nossa principal renda como banda independente vem dos shows. Ent�o, � um momento de crise e inseguran�a. Somos uma banda pequena. N�o temos um caixa que v� nos sustentar por muitos meses mais. As lives ser�o um rem�dio, mas n�o as vejo sustent�veis por muito tempo. De todo modo, elas n�o s�o uma alternativa para toda a equipe – t�cnicos de som, de luz e palco – que geralmente contratamos. N�o queremos que elas sejam uma alternativa.”
Salma J� n�o acredita que o mundo ser� um lugar melhor depois do coronav�rus. “Estou um pouco pessimista, n�o no sentido de que n�o teremos mais uma vida normal, como alguns falam, mas acho que voltaremos mais ansiosos, nervosos, impacientes, tristes, e vai levar um tempo para superar este momento.”

A CHEGADA
• Carne Doce
• Independente
• Dispon�vel nas plataformas digitais