Michael Jordan se notabilizou como um obcecado pela vit�ria capaz de brigar com jogadores do pr�prio time em nome desse objetivo. Hoje com 57 anos, ele deu entrevistas para a s�rie
(foto: Netflix/Divulga��o)
Se n�o fosse a pandemia do novo coronav�rus, que interrompeu as principais competi��es esportivas do planeta, a NBA, a liga do basquete profissional nos EUA, estaria hoje em sua fase decisiva de playoffs. S� n�o � poss�vel saber se o campeonato seria tema de tantas manchetes e postagens nas redes sociais pelo mundo, como o basquete norte-americano tem sido nas �ltimas semanas, gra�as � s�rie documental The last dance, que no Brasil ganhou o t�tulo Arremesso final. Embora a trajet�ria de Michael Jordan no Chicago Bulls tenha se encerrado justamente num tiro certeiro, quase no estouro do cron�metro, em junho de 1998, definindo a final contra o Utah Jazz e o sexto trof�u para o time, a hist�ria mostrada em 10 epis�dios pela Netflix vai al�m da quadra.
Produzida em parceria com a ESPN e dirigida por Jason Heir, a s�rie sobre a �ltima temporada do maior jogador de basquete no time que o consagrou alimentou pol�micas e se tornou a mais assistida do mundo, entre as documentais.A Netflix n�o costuma divulgar dados concretos sobre a audi�ncia, mas informou na �ltima quarta (20) que 23,8 milh�es de pessoas assistiram a Arremesso final fora dos Estados Unidos, desde o lan�amento do primeiro cap�tulo, em 20 de abril.
Nos EUA, onde tamb�m foi exibida no canal por assinatura ESPN, os dois epis�dios de estreia, em 19 de abril, bateram a marca de 6,1 milh�es de espectadores. O recorde para uma produ��o documental no canal era de 3,6 milh�es, com a exibi��o de You don’t know Bo, sobre o jogador de beisebol e futebol americano Vincent Edward “Bo” Jackson, em 2012.
Para compara��o, o fen�meno Game of thrones s� conseguiu ter mais de 6 milh�es de espectadores em um �nico epis�dio ao vivo na TV norte-americana a partir da quarta temporada (2014). Segundo a empresa norte-americana especializada em monitoramento midi�tico Parrot Analytics, Arremesso final se tornou a s�rie documental mais buscada do mundo e a de maior crescimento de interesse, entre todos os g�neros, desde a �ltima semana de abril.
BUSCAS
O que explica tanto sucesso, al�m da conhecida cole��o de enterradas, saltos, arremessos e dribles de Jordan? Mais que um deleite para os f�s de basquete, carentes das atuais competi��es e saudosos do time apontado como o melhor da hist�ria, o document�rio toca em pontos sens�veis, criando contradi��es para o protagonista.
Com entrevistas recentes e imagens de bastidores, algumas in�ditas, mas todas com not�vel qualidade gr�fica, mesmo registradas h� mais de 20 ou 30 anos, tudo � contado simultaneamente em duas linhas do tempo. Uma delas come�a em outubro de 1997, quando o Chicago Bulls, campe�o da NBA em 91, 92, 93, 96 e 97, se preparava para a temporada 98, que poderia ser a �ltima n�o s� de Jordan, mas de seus principais companheiros e do vitorioso treinador Phil Jackson. Todos eles estavam sob indefini��es contratuais e em crise com a dire��o do time, personificada em Jerry Krause (1939 – 2017).
Em algumas das imagens resgatadas daquela �poca, eles se referiam ao campeonato que estava por come�ar como “a �ltima dan�a”, pois, apesar da incerteza sobre o futuro, era claro o desejo de dar um novo show em quadra.
A outra linha temporal se inicia em 1984, ano em que o jovem Michael Jordan deixa o time universit�rio da Carolina do Norte e se junta a at� ent�o fracassada franquia de Chicago, com a promessa de que mudar� sua hist�ria. As duas margens do tempo se encontram no “arremesso final”, em Salt Lake City.
Entretanto, esse retorno mais amplo ao passado detalha como al�m de um profissional obcecado pela vit�ria, a ponto de agredir colegas de time, Jordan se tornou tamb�m “uma grande for�a cultural, que ajudou a criar uma forma diferente de pensar o atleta afro-americano e ver os atletas como parte do mundo do entretenimento” e “um embaixador extraordin�rio, n�o s� para o basquete, como para os EUA no exterior”, nas palavras do ex-presidente Barack Obama, um dos entrevistados no document�rio.Os depoimentos gravados entre 2018 e 2020 ainda incluem o tamb�m ex-presidente Bill Clinton, jornalistas, personalidades ligadas ao esporte, ex-companheiros, advers�rios, al�m, � claro, do pr�prio Jordan, hoje com 57 anos. Eles explicam como o jogador se tornou uma das figuras mais populares do mundo.
A genialidade em quadra aparece junto com a revolu��o que causou na publicidade, com seu modelo exclusivo de t�nis, cujos comerciais eram dirigidos por Spike Lee, e como tornou a NBA uma febre mundial nos anos 1990.Nesse processo, aspectos mais tortuosos n�o foram descartados.
Sem deixar de conferir hero�smo e uma imagem grandiosa a Jordan, o roteiro resgata a rivalidade exagerada com Isiah Thomas, jogador do Detroit Pistons, que teria sido vetado por ele na convoca��o para o “Dream Team” que jogou a Olimp�ada de 1992, com depoimentos de ambos sobre o tema.
O �ltimo arremesso tamb�m entra na pol�mica omiss�o do astro na elei��o de 1990, quando Harvey Gantt, do partido Democrata, concorria ao senado, podendo se tornar o primeiro pol�tico negro a ocupar o cargo pela Carolina do Norte. Ele disputava contra o conservador Jesse Helms, conhecido por posicionamentos racistas. Jordan evitou declarar apoio a Gantt, supostamente por dizer que “republicanos tamb�m compram t�nis”. Na s�rie, ele esclarece o fato.
TEMPERAMENTO
Como foram lan�ados dois epis�dios por semana, entre 19 de abril e 18 de maio, na ESPN norte-americana e na Netflix, a cada par de cap�tulos os assuntos mostrados renderam novas entrevistas e muitos coment�rios. O temperamento complicado e at� agressivo de MJ com os colegas de time que ele considerava como pontos fracos da equipe foi um dos principais temas de debate.
Isso j� havia sido contado quase 30 anos antes, no livro Jordan rules, do jornalista Sam Smith, mas voltou � tona com o document�rio. O atleta d� sua vers�o sobre o assunto, bem como os ex-colegas que eram seus alvos, mas houve descontentamento com o resultado final da edi��o.O ex-piv� Horace Grant, que participa da s�rie e a quem Jordan acusa de vazar para jornalistas informa��es de bastidores negativas para o astro dos Bulls, concedeu entrevista recente a um programa de r�dio dos EUA, na qual critica a edi��o. Ele d� a entender que n�o teve direito de resposta sobre algumas coisas ditas pelo camisa 23. “Mentira, mentira, mentira. Se MJ tinha algum ressentimento comigo, vamos resolver isso como homens”, afirmou, sobre a acusa��o de Jordan.Outros ex-atletas, que aparecem nas imagens e s�o citados por Jordan, preferiram n�o dar entrevista. Foi o caso de Karl Malone e Bryon Russell, jogadores do Utah Jazz, derrotadas pelo Chicago Bulls nas finais de 97 e 98. O diretor Jason Heir, conhecido at� ent�o por outras produ��es menos badaladas sobre esporte norte-americano, revelou as negativas em entrevista recente ao radialista Dan Patrick.
Heir ainda contou que John Stockton, tamb�m do Utah, s� aceitou ser entrevistado depois de dois anos de tentativas, quando convencido de que n�o se tratava “de uma produ��o que ficaria idolatrando Michael Jordan”. Ainda assim, s� no Brasil as vendas on-line de produtos relacionados ao Chicago Bulls registraram aumento de 650% na revendedora da loja oficial da NBA, nos �ltimos 30 dias, segundo o site UOL. Os 10 epis�dios de Arremesso final est�o dispon�veis na Netflix.
Top ten
Confira os 10 pontos que tornam Arremesso final um sucesso de audi�ncia
(foto: Netflix/Divulga��o)
1- Time dos sonhos de entrevistados Al�m de Jordan, a s�rie � um reencontro com �cones do basquete dos anos 1980 e 1990, como Scottie Pippen, Toni Kukoc, Charles Barkley, Isiah Thomas, Dennis Rodman, Patrick Ewing e Magic Johnson, todos 30 anos mais velhos.
2- Festival de enterradas
A edi��o inclui as jogadas mais pl�sticas e marcantes executadas por Air Jordan em quadra.
3 - As gl�rias Jordan ganhou a NBA seis vezes, mas o caminho at� l� n�o foi f�cil, como mostram os epis�dios que incluem as derrotas nos anos 1980.
4 - As dores
Jordan perdeu o pai, assassinado em 1993. A s�rie mostra como isso e a press�o da m�dia na �poca fizeram com que ele largasse o basquete, para retornar um ano e meio depois.
5 - A mem�ria de Kobe Apontado como o maior depois de Jordan, Kobe Bryant gravou seus depoimentos dias antes de morrer em um acidente a�reo, em janeiro deste ano. Ele tamb�m aparece em imagens de 1998, quando era um jovem novato.
6 - O discreto e genial Scottie Pippen A s�rie mostra como Pippen foi decisivo nas conquistas de MJ, mesmo com um sal�rio muito abaixo do que merecia dentro dos padr�es
da NBA.
7- Dennis Rodman O exc�ntrico defensor foi pe�a-chave no Bulls, mesmo com uma cole��o de loucuras fora das quadras, contadas em cena.
8 - O mestre zen Outro personagem fundamental nas gl�rias de MJ, o treinador Phil Jackson e sua metodologia baseada na filosofia oriental t�m grande destaque.
9 - Barack Obama F� de basquete, o ex-presidente d� depoimentos sobre sua rela��o pessoal com o Chicago Bulls, da �poca em que vivia na cidade, e sobre o que Jordan representa.
10 - Air Jordan
Al�m de personagem principal, o maior jogador de todos os tempos � o entrevistado que mais aparece.