Dos in�meros problemas que o Rio de Janeiro enfrenta – com ou sem pandemia –, um apocalipse zumbi � novidade at� mesmo para a fic��o, o que torna a proposta de Reality Z, no m�nimo, curiosa. A s�rie, nova aposta nacional da Netflix, mostra a cidade destru�da, tomada por mortos-vivos. O lugar mais seguro � a vigiada casa de um reality show, onde os confinados precisam fazer de tudo para sobreviver.

Ainda que possa parecer original, o enredo � baseado na miniss�rie brit�nica Dead set, concebida por Charlie Brooker, criador do sucesso Black mirror. Estrelada por Sabrina Sato, Guilherme Weber e Anna Hartmann, a adapta��o chega � plataforma de streaming nesta quarta-feira (10).

“A proposta da Netflix era desdobrar a miniss�rie original, que tem cinco epis�dios, em uma temporada com 10 cap�tulos, criando uma s�rie zumbi brasileira”, conta o diretor Cl�udio Torres. “A quest�o n�o era agradar aos brasileiros, mas fazer esse p�blico se reconhecer na trama do g�nero apocal�ptico. Criamos um show visceral que combina a ironia brit�nica com o antropofagismo tropicalista para narrar a improv�vel colis�o entre o universo zumbi, o mundo dos reality shows e o Brasil.”

Para tanto, a produ��o conta com o universo expandido de cen�rios e personagens, pensados especialmente para abrasileirar a hist�ria. A s�rie brit�nica se passa exclusivamente dentro da casa do reality show. Na vers�o brasileira, os acontecimentos se desenrolam tamb�m na cidade do Rio de Janeiro, conferindo um pouco de realismo � trama, ainda que o objetivo seja assumidamente trash.

“Inserimos no reboot brasileiro um pol�tico corrupto, sua assessora elitista, uma engenheira deprimida e o filho ecologista, um cabo da pol�cia viciado em coca�na e uma jovem ativista videomaker. Todos eles s�o a extrapola��o simb�lica de comportamentos de parte da sociedade brasileira, que luta por um lugar seguro para sobreviver ao apocalipse junto aos seus”, revela Cl�udio.

Guardadas as devidas propor��es, o que ocorre na s�rie se assemelha ao que aconteceu recentemente com os participantes da �ltima edi��o do Big brother Brasil, que chegou ao fim na �ltima semana de abril. Quando o programa come�ou, o mundo vivia relativa normalidade, completamente abalada depois do an�ncio da pandemia do novo coronav�rus por parte da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS). A partir dali, a “casa mais vigiada do pa�s” se tornou tamb�m a casa mais protegida contra o v�rus, al�m do entretenimento preferido dos brasileiros em isolamento social. A semelhan�a � mera coincid�ncia, pois Reality Z foi gravada em 2019.

Isolamento “Tanto o original quanto a adapta��o vieram muito antes da pandemia”, refor�a o diretor. “O coronav�rus trouxe � tona a quest�o do isolamento, da conviv�ncia, do perigo do cont�gio e da atitude de cada um diante do pr�ximo. Todas essas quest�es se tornaram vitais e f�ceis de comparar com um apocalipse zumbi, mas n�s escrevemos, produzimos e gravamos a s�rie muito antes de isso tudo acontecer.”

Reality Z conta com a ex-BBB Sabrina Sato no papel de Divina, a apresentadora duas-caras do reality ficcional. Ainda que seja uma participa��o especial, ela �, sim, transformada em zumbi. O visual morta-viva de Sabrina � guardado a sete chaves.

“A participa��o da Sabrina � uma pe�a fundamental na constru��o da credibilidade do nosso reality show fict�cio”, comenta Cl�udio Torres. “O reboot se aproxima da cultura pop usando humor e ironia para brincar com a cultura do reality show, que se tornou muito forte no Brasil, a ponto de praticamente todo canal de TV ter o seu reality de sucesso.”

Cl�udio Torres acredita que Reality Z apresenta ao p�blico brasileiro uma nova forma de retratar apocalipses zumbis. “Relativamente recente, o g�nero est� em   constru��o. Nasceu relacionado ao vodu haitiano: um feiticeiro acordava os mortos para servi-los. Mas foi realmente inaugurado com A noite dos mortos-vivos, de George Romero, no qual o car�ter feiti�aria � abandonado e os zumbis passam a ser canibais, haters, sem explica��o”, diz. “A partir da�, cada novo filme inclui cita��es de antecessores, ao mesmo tempo em que amplia horizontes: v�sceras expl�citas, cr�tica social, depois humor e, por fim, o car�ter pand�mico”, diz o diretor.

Para ele, Dead set � um cl�ssico que introduziu o absurdo cr�tico � gram�tica zumbi. “Em Reality Z, n�s fomos reverentes. Pelos tempos que vivemos, nossos zumbis representam haters: criaturas desprovidas de intelig�ncia, movidas pela fome e pelo �dio.”

FILMES Comparada aos �ltimos trabalhos do diretor, a s�rie deixa a desejar, mas � preciso ter em mente que se trata de uma produ��o para n�o ser levada a s�rio. Filho do casal de atores Fernando Torres (1927-2008) e Fernanda Montenegro, Cl�udio dirigiu os filmes Trai��o (1999), Redentor (2004), A mulher do meu amigo (2008), A mulher invis�vel (2009) e O homem do futuro (2011). Na TV, dirigiu as elogiadas s�ries Mandrake (2005-2007) e Magn�fica 70 (2015-2018), ambas para a HBO, e, mais recentemente, epis�dios de Sob press�o, exibida na Rede Globo.

“Amo distopias, fic��o cient�fica e o g�nero fant�stico como um todo. Acredito que � a melhor maneira de eternizar quest�es”, afirma Torres. “Hoje, o Brasil vive a mistura de 1984 e The handmaid's tale. N�o poderiam ser obras mais atuais”, conclui.

Desde o sucesso estrondoso de The walking dead (foto), com nove das 10 temporadas dispon�veis em plataformas de streaming, o g�nero apocalipse zumbi virou uma grande aposta da Netflix. De s�ries mais tradicionais, como Black summer, a com�dias leves, como Santa Clarita diet, estrelada por Drew Barrymore e cancelada na terceira temporada, o tema vem sendo recorrente no conte�do original da plataforma.

Com duas temporadas, o suspense sul-coreano (foto) mistura elementos da hist�ria da Coreia do Sul com zumbis. Um pr�ncipe herdeiro � enviado a miss�o suicida para investigar misteriosa praga que assola o pa�s. A verdade amea�a o reino da dinastia Joseon (1392-1897), quando se descobre que a doen�a transforma a popula��o em milhares de mortos-vivos.

A miniss�rie indiana (foto), que chegou � Netflix no fim de maio, vem conquistando elogios ao redor do mundo. Um vilarejo remoto � palco da batalha desencadeada por um oficial do Ex�rcito da �ndia Brit�nica, com mais de 200 anos de idade, e seu batalh�o de zumbis. Enquanto a pol�cia luta para tentar conter o ex�rcito de mortos-vivos, os moradores se veem enredados no conflito.