
A chegada da tecnologia � tribo prejudica a cultura dos povos ind�genas? Essa � uma das perguntas que o document�rio A na��o que n�o esperou por Deus (2015), de Rodrigo Hinrichsen e Lucia Murat, tenta responder.
Integrante da programa��o do projeto Cine104 em casa, o filme conta a hist�ria do povo kadiw�u, que vive na fronteira do Mato Grosso do Sul com o Paraguai. Ele pode ser conferido gratuitamente, a partir das 12h desta quarta-feira (10), pelo link dispon�vel no Facebook (centoequatro), Instagram (@centoequatrobh) e no site do 104 (www.centoequatro.org). Ficar� dispon�vel por 48 horas.
“�ndio n�o � s� arco e flecha. � preconceito achar que ele n�o pode ter moto e televis�o porque isso significa o fim da cultura ind�gena. O fato de a nova gera��o ter contato com o homem branco e ir para a universidade n�o � ruim”, afirma a cineasta Lucia Murat.
Nesta quarta-feira (10), �s 19h30, a diretora participa de bate-papo/live no Instagram promovido pelo Cine104 em casa. Lucia conta que, durante muito tempo, a l�ngua nativa do povo kadiw�u ficou perdida. Foi resgatada gra�as a jovens que a estudaram na universidade. “� muito positivo para a juventude ter esse contato. Os ind�genas devem ter autonomia para fazer o que quiserem da vida deles”, defende a diretora.
O primeiro contato de Lucia com o povo kadiw�u ocorreu em 1996, quando ela visitou a aldeia. “Queria subverter a imagem dos ind�genas, sempre apresentados com aquela hist�ria de coloniza��o pac�fica. Queria muito fazer um filme com eles, mas com a contribui��o deles.” Esses encontros deram origem ao document�rio Brava gente brasileira, lan�ado em 1999.
“Dali para a frente, nunca perdi o contato com eles. Voltei depois de 10 anos e pensei em fazer um filme sobre a chegada da tecnologia. Os kadiw�u viviam o processo de retomada de parte da terra deles, que havia sido ocupada por fazendeiros. O cacique, que conheci bem jovem, com 15 anos, liderava a retomada”, lembra. Essa hist�ria est� em A na��o que n�o esperou por Deus.

Durante as filmagens, descobriu-se que autoridades locais haviam permitido que fazendeiros ocupassem ilegalmente parte da reserva, ao contr�rio da orienta��o do governo federal. “Hoje, voc� tem praticamente todos os governos dando abertura total para a extin��o de terras e da cultura ind�gena”, adverte Murat.
De acordo com ela, apesar de tudo, a cultura ind�gena continua forte. “Um amigo dizia que n�o existia mais cultura ind�gena, pois, com a coloniza��o, os portugueses acabaram com tudo. Vista de fora, a comunidade kadiw�u parece pobre. Mas quando voc� come�a a se aproximar, percebe o quanto s�o ricas a cultura e a hist�ria deles”, diz Lucia.
O contato com o povo kadiw�u foi importante para p�r fim a preconceitos da pr�pria cineasta. “Voc� se depara com outra cabe�a. T�nhamos medo de algumas coisas que eles faziam, mas, na verdade, eram gestos extremamentes delicados direcionados para a gente”, conta.
FAZENDA
Lucia Murat passa a quarentena ao lado da fam�lia em uma fazenda no interior de S�o Paulo. “Tenho trabalhado bastante”, diz, revelando que j� est� finalizado o filme Ana. Sem t�tulo, sobre as artes pl�sticas latino-americanas, rodado em v�rios pa�ses – Cuba, M�xico, Brasil, Argentina e Chile.A diretora tamb�m trabalha no roteiro de O mensageiro, sobre as rela��es humanas em situa��es limite, como a ditadura militar. Lucia se diz empenhada em lutar pelo cinema brasileiro, boicotado pelo governo federal. Tamb�m defende a Cinemateca Brasileira, amea�ada de extin��o.
* Estagi�ria sob supervis�o da editora-assistente �ngela Faria