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Estado de Minas SIL�NCIO NA NOITE

A Aut�ntica sucumbe � crise e entrega o ponto

Casa de shows dedicada � m�sica independente na Savassi anunciou que pretende reabrir em outro local, ap�s a pandemia


17/06/2020 04:00 - atualizado 16/06/2020 23:37

A casa na Rua Alagoas recebeu 910 shows durante seus cinco anos de funcionamento e promoveu iniciativas como a de abrir seu palco para bandas iniciantes
A casa na Rua Alagoas recebeu 910 shows durante seus cinco anos de funcionamento e promoveu iniciativas como a de abrir seu palco para bandas iniciantes (foto: Fotos: Leandro Couri/EM/D.A Press)

"� imposs�vel sem negociar esses valores de aluguel, e os propriet�rios queriam o im�vel. Ent�o, n�o tinha como continuar com esse curso, para voltar sem plenitude de opera��es, quando voltar. Agora � come�ar a se preparar para alguma defini��o futura de regras, para ent�o ver o que � poss�vel"

Leo Moraes, propriet�rio d'A Aut�ntica

Desde que foi inaugurada, em fevereiro de 2015, A Aut�ntica recebeu em seu palco mais de mil artistas, num total de 910 eventos. Criada com o objetivo de ser um reduto da m�sica autoral na capital mineira, recebendo artistas independentes locais ou de fora, a casa de shows encerrou suas atividades em meio � pandemia do novo coronav�rus, pelo menos no im�vel onde se localizava, na Savassi. O an�ncio foi feito nesta semana nas redes sociais como “uma not�cia que n�s gostar�amos de dar de outra forma, em outras circunst�ncias, mas infelizmente n�o foi poss�vel”, segundo os administradores.

Al�m de ter ficado os �ltimos tr�s meses sem realizar eventos por causa da crise sanit�ria, a administra��o do estabelecimento n�o conseguiu se entender com o propriet�rio do im�vel e teve que entregar o ponto. “Veio a COVID e, como todo mundo, tentamos negociar a nossa perman�ncia, mas n�o tivemos sucesso. Uma vez que a demoli��o � iminente, n�o faria sentido seguirmos pagando aluguel de portas fechadas. Entregando o im�vel, agora conseguiremos estancar a sangria (perd�o pela express�o viciada) e poderemos nos preparar com mais tranquilidade para a reinaugura��o em outro local”, prossegue o texto. Segundo A Aut�ntica, os propriet�rios do im�vel t�m a inten��o de demoli-lo para construir um pr�dio no local.

Um dos fundadores do empreendimento, Leo Moraes afirma que, antes da pandemia, com o funcionamento normal da casa, “j� era um neg�cio muito apertado, mesmo com capacidade plena”. Com um cen�rio de reabertura das atividades de lazer ainda incerto em rela��o � data, mas com prov�vel limita��o da capacidade de p�blico presente, a sa�da foi recome�ar depois.

“� imposs�vel sem negociar esses valores de aluguel, e os propriet�rios queriam o im�vel. Ent�o, n�o tinha como continuar com esse curso, para voltar sem plenitude de opera��es, quando voltar. Agora � come�ar a se preparar para alguma defini��o futura de regras, para ent�o ver o que � poss�vel”, afirma.

Ele lamenta a falta de um apoio espec�fico do poder p�blico para as casas de show indica que uma retomada de atividades precisar� de facilidades nos alugu�is para esse tipo de neg�cio, em fun��o de uma configura��o econ�mica mais fr�gil, dada a necessidade de redu��o do volume de p�blico para permitir o distanciamento social. “Outra coisa que ser� necess�ria s�o parcerias com empresas. Cervejarias e marcas de bebida, por exemplo, j� est�o percebendo que precisar�o ajudar alguns segmentos”, diz.

Segundo o proprietário do negócio, o dono do imóvel tem a intenção de demoli-lo para construir um prédio no local
Segundo o propriet�rio do neg�cio, o dono do im�vel tem a inten��o de demoli-lo para construir um pr�dio no local

"N�o tivemos apoio nenhum de governo ou dos bancos. Esper�vamos a possibilidade de empr�stimos, mas isso esbarra na burocracia para qualquer pequena empresa. A cultura j� � sucateada no Brasil h� um tempo. H� essa dificuldade com im�vel, esse lado violento do mercado imobili�rio. Para os propriet�rios, tanto faz se ali � uma casa de show, um espa�o cultural. Se voc� sair, (o propriet�rio) aluga para um banco, uma loja, n�o faz diferen�a"

Edmundo Corr�a,propriet�rio da Casa Cultural Matriz

RESERVAS 

A falta de receitas e de perspectivas assusta outros empreendedores da noite de BH. Localizado no Prado, Regi�o Oeste da capital, o Mister Rock recebia at� tr�s eventos por semana, geralmente ligados ao g�nero que d� nome � casa.  Nesta semana, tamb�m completa tr�s meses sem atividades.

“� tempo suficiente para quebrar muita empresa”, diz Luc�lio Silva,  s�cio-propriet�rio do local. Ele diz que est� bancando as despesas com reservas, j� que n�o h� fonte de renda nesse tempo. “At� fizemos lives patrocinadas, mas (as receitas) cobrem apenas a realiza��o delas mesmas. N�o sobra para a opera��o, s�o mais para manter o nome ativo”, afirma. “� complicado n�o s� por causa da casa, mas s�o muitas pessoas que dependem dela, funcion�rios, artistas, produtores”, observa o empres�rio.

Embora tenha conseguido negociar o aluguel do im�vel, localizado na Avenida Tereza Cristina, Luc�lio lamenta a atitude das autoridades em rela��o ao setor. “N�o temos um posicionamento de governo. Mesmo com as dificuldades de previs�o (do comportamento) da pandemia, � o m�nimo que se poderia ter. Est�o abrindo v�rios estabelecimentos, alegando preocupa��o com empregos, com economia, e se esquecem das casas de show. Muita gente est� fechando por falta de informa��o (sobre o futuro). � um mercado que parece n�o ter import�ncia para a prefeitura. Tamb�m temos contas para pagar”, diz.

Segundo o propriet�rio do Mister Rock, “o que for colocado para voltarmos a funcionar, em termos de condi��es sanit�rias, vamos seguir, ningu�m quer reabrir e fechar de novo, com outro surto. N�s nos preocupamos tamb�m, mas falta um di�logo, fica uma incerteza que impossibilita negociar, planejar ou mesmo mudar o ramo do meu neg�cio por um tempo”. Ele se refere �s possibilidades de passar a operar como bar, restaurante ou distribuidora, no galp�o onde fica a casa de shows, enquanto eventos de entretenimento n�o s�o liberados.

Inaugurada em 2000, a Casa Cultural Matriz, localizada no t�rreo do Edif�cio JK, na Regi�o Central, tem sua hist�ria ligada � m�sica e outras manifesta��es de arte independente da capital. A casa quase chegou ao fim por causa da pandemia. “Estamos passando por dificuldades muito grandes. Fomos os primeiros a fechar, t�nhamos agenda forte at� outubro, inclusive com shows de bandas estrangeiras e de outros estados. Quatro exposi��es art�sticas programadas e uma de fotos j� em cartaz e fomos pegos de surpresa. Foram 40 dias em casa pensando no que fazer, at� tomar f�lego para resistir”, conta Edmundo Corr�a, fundador e respons�vel pelo espa�o, ao lado da esposa, Andrea Diniz.

Apoiados por frequentadores e tamb�m por artistas, eles est�o amenizando os preju�zos com a comercializa��o de produtos naturais confeccionados pelo casal, como ch�s, sucos e caldos, numa loja tempor�ria chamada Casa M�e, montada na Casa do Jornalista. Tamb�m est�o vendendo artigos do bar do estabelecimento, mas essas receitas, segundo Edmundo, cobrem apenas 15% da opera��o mensal, que inclui aluguel, manuten��o e outros gastos. O empres�rio e produtor cultural destaca que a situa��o � ainda mais grave pela desvaloriza��o da cultura no pa�s, de um modo geral.

"At� fizemos lives patrocinadas, mas (as receitas) cobrem apenas a realiza��o delas mesmas. N�o sobra para a opera��o, s�o mais para manter o nome ativo. � complicado n�o s� por causa da casa, mas s�o muitas pessoas que dependem dela, funcion�rios, artistas, produtores"

Luc�lio Silva, propriet�rio do Mister Rock

EMPR�STIMOS 

“N�o tivemos apoio nenhum de governo ou dos bancos. Esper�vamos a possibilidade de empr�stimos, mas isso esbarra na burocracia para qualquer pequena empresa. A cultura j� � sucateada no Brasil h� um tempo. H� essa dificuldade com im�vel, esse lado violento do mercado imobili�rio. Para os propriet�rios, tanto faz se ali � uma casa de show, um espa�o cultural. Se voc� sair, (o propriet�rio) aluga para um banco, uma loja, n�o faz diferen�a. Vi que 92% dos empregos de BH voltam a trabalhar nessa reabertura, mas casas de show continuam paradas, n�o t�m alternativas, n�o h� perspectiva. Quem vai fazer um financiamento, um empr�stimo, sem saber quando vai voltar a ter receita? Ningu�m”, argumenta Edmundo.

Ele acredita que o retorno das atividades s� ser� poss�vel com apoio do poder p�blico e algum tipo de isen��o fiscal ou tribut�ria. “Sem apoio governamental, vai ser muito dif�cil, porque todas as casas que resistirem v�o reabrir endividadas. Al�m disso, a volta ser� aos poucos, n�o vai ser de uma hora para outra. Ser�o novos h�bitos, p�blico com menos dinheiro e limite de pessoas”, cita, admitindo que chegou a pensar em encerrar as atividades da casa.

Mas agora o casal est� disposto a seguir em frente e celebrar os 20 anos de atividades, mesmo em meio �s dificuldades. Nos pr�ximos dias, ser� divulgada uma campanha de financiamento coletivo com o objetivo de viabilizar os custos pelos pr�ximos meses e realizar um festival on-line, em agosto, com artistas locais.

“Ser� democr�tico, com todos os nichos, como tudo que fazemos, comemorando 20 anos da Matriz e 40 anos da minha atividade na cena cultural”, diz Edmundo Corr�a. A reabertura das casas de show segue sem previs�o nos protocolos municipais de retomada do com�rcio.


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