Sem chance de se realizar neste ano, festival migra para a internet

Prevista originalmente para ocorrer em 31 de outubro, em Recife, a 17ª edi��o do No Ar Coquetel Molotov, assim como in�meros eventos culturais no Brasil e no mundo, tornou-se invi�vel no contexto da pandemia do novo coronav�rus. O festival pernambucano, contudo, promete n�o passar batido em 2020 e realiza, de amanh� (1º) a 11 de julho, uma robusta edi��o on-line.

''Essa n�o foi uma decis�o f�cil, vide nossa trajet�ria. Desde 2004, o No Ar nunca deixou de ser realizado, mesmo em anos de crise econ�mica. No entanto, a seguran�a do p�blico e de todos os envolvidos na realiza��o do evento fala mais alto, raz�o pela qual v�rios outros grandes festivais pelo mundo foram adiados para o ano que vem'', afirma Ana Garcia, diretora do festival.

Famoso pela programa��o diversa e por apostar em nomes emergentes da cena independente nacional, o festival batizou sua edi��o virtual como Coquetel Molotov.EXE. A programa��o vai al�m das apresenta��es musicais e inclui workshops, masterclasses, oficinas e festas. Ao longo dos 11 dias de festival, o p�blico poder� participar por meio do Zoom e do IGTV (plataforma de v�deos do Instagram).

''Desde o in�cio da pandemia, quando come�amos a perceber que n�o iria rolar uma edi��o f�sica neste ano, ficamos atentos �s novidades que estavam surgindo pela web. Assistimos a muitas lives, mas quer�amos realizar um 'ao vivo' que enxergasse o p�blico e tamb�m desse espa�o para ele se expressar, n�o somente promover a transmiss�o on-line do show de um determinado artista'', comenta Ana.

OFICINA A partir da�, surgiram algumas ideias com o objetivo de inovar o universo das lives. Foi assim que nasceu a oficina de produ��o musical com Benke Ferraz (integrante da banda goiana Boogarins), dividida em dois “encontros”, que ser�o realizados nesta quarta (1º) e na sexta (3), das 15h �s 17h30.

No workshop, o guitarrista e produtor fornecer� elementos para que m�sicos iniciantes e profissionais possam gravar m�sicas com os equipamentos que t�m � disposi��o, em casa.

Na quinta (2), �s 19h, a ciborgue e vo- odoo queen Alma Negrot apresenta uma oficina de maquiagem criativa com o objetivo de possibilitar a descoberta do fazer art�stico voltado para o corpo. O coletivo Afrofunk realiza na sexta (3), �s 20h, uma oficina que aborda o funk com um novo olhar sobre o ritmo, que questiona padr�es de beleza e pretende discutir aspectos como sexualidade, hipersexualiza��o, machismo, racismo e independ�ncia individual.

O fil�sofo e pesquisador Ali Prando encerra a programa��o de oficinas nos pr�ximos dias 7 e 9, �s 19h, com o workshop Politizando Beyonc�. O curso investiga a est�tica da diva pop, trazendo � tona reflex�es acerca da ind�stria cultural e quest�es de ra�a, g�nero e sexualidade.

Projeto que teve in�cio ainda em junho, o Call Center � descrito pela organiza��o do festival como ''um encontro semanal on-line em que diferentes convidados falam de seus trabalhos e interagem com o p�blico em momentos in�ditos de debate e fluxo cr�tico''.

O primeiro bate-papo est� previsto para amanh�, a partir das 20h, e ser� comandado pela cantora carioca Letrux. J� no pr�ximo dia 8, no mesmo hor�rio, quem entra no ar � a artista paulistana Linn da Quebrada.  A conversa com o p�blico ser� realizada na plataforma Zoom, com acesso ao p�blico via Sympla Streaming.

Ao longo de seus dias de programa��o, o evento traz ainda c�psulas no IGTV falando de bem-estar e breves aulas de petiscos com cerveja pelo chef Lucas Muniz e de drinques com Luana Correia.

Todas essas atividades culminam em uma extensa programa��o de shows e performances ao vivo no dia 11 de julho. A maratona musical reunir� importantes nomes da cena independente do Brasil e convidados especiais, em apresenta��es direto de suas casas.

O festival oferecer� ao p�blico tr�s palcos e um lounge com atra��es em salas diferentes e simult�neas dentro da plataforma Zoom, possibilitando que as pessoas possam transitar entre as apresenta��es.

''Esse �, talvez, o principal diferencial, porque cria a sensa��o de festival. O p�blico poder� estar dentro dessa curadoria de artistas e escolher o que quer ver, sem estar condicionado a determinado show'', diz Ana. ''Al�m disso, estamos preparando surpresas que v�o aparecer como pop-ups para quem est� assistindo. Acho que, assim, teremos a sensa��o de estar mais pr�ximos do artista e tamb�m dos amigos e estranhos que est�o acompanhando o evento.''

A sele��o de atra��es traz artistas pernambucanos, como L�o da Bodega, Luna Vitrolira, Romero Ferro e Iury Andrew, bem como m�sicos independentes com maior proje��o nacional, como Giovani Cidreira, MC Tha e Noporn, al�m da web-famosa D�borah dos Falsetes, que ir� apresentar covers de Mariah Carey.

Natural de Santa Catarina, Gab Ferreira se apresenta no Palco Itaipava. Participante da edi��o 2016 do reality The voice Brasil (Globo), ela traz na bagagem o disco de estreia, Lemon squeeze (2018), no qual canta, em ingl�s, sobre bases bem produzidas de sintetizadores.

O mesmo “palco” recebe a paulista T�ssia Reis, que lan�ou no ano passado o elogiado disco Pr�spera. Voltado para sets de m�sica eletr�nica, o Palco TNT traz Badista como headliner. Nome art�stico de Rafaela Andrade, ela � a produtora respons�vel por alguns dos trabalhos musicalmente mais interessantes dos �ltimos anos, como Pajub� (2017), de Linn da Quebrada, e Corpo sem ju�zo (2020), da multiartista Jup do Bairro.

MINEIROS DJs da festa mineira Mientras Dura se apresentam no Palco ¼, e, ao lado de outros performers, L�zara dos Anjos realiza uma performance no intervalo das apresenta��es.

Diferentemente do Call Center e das oficinas, que s�o gratuitos, as apresenta��es musicais poder�o ser acessadas mediante doa��o de, no m�nimo, R$ 5. O valor arrecadado ser� destinado para a Ecovida Cooperativa Palha de Arroz, localizada em Recife, e formada por mulheres catadoras de materiais recicl�veis.

Apesar de ser transmitido pelo Zoom, o evento ser� captado por meio do Twitch. Segundo Ana Garcia, a plataforma � a melhor em quest�es de imagem e som.

''O Instagram, por exemplo, n�o foi feito para as lives. Quando come�amos a pensar no projeto, tivemos uma reuni�o com o escrit�rio da rede social e eles nos disseram para migrar para outra plataforma. Entramos em contato com outras e chegamos � conclus�o de que no Zoom funcionaria melhor'', conta.

Al�m disso, ela revela uma preocupa��o com a qualidade t�cnica das performances que ser�o realizadas pelos artistas. ''Estamos fazendo passagens de som uma semana antes dos shows. Como os artistas est�o cada um em sua casa, nosso objetivo � que eles tirem o melhor dos equipamentos que t�m � disposi��o.''

Sobre o futuro, ela ainda o encara com incerteza. Quando foi adiada, a vers�o f�sica do Coquetel Molotov ainda n�o estava com sua programa��o completa, mas a venda de ingressos estava em curso. ''Agora, j� estamos pensando na segunda edi��o on-line. Se no come�o do ano j� for poss�vel, � muito prov�vel que realizemos algo, mas ainda � muito cedo para pensar em qualquer coisa.''