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Estado de Minas VERDES ANOS

�Alfredo Sirkis narra em livro sua vida e a luta pelo ambiente no Brasil

Em Descarbon�rio, ambientalista conta sobre sua conviv�ncia com Jair Bolsonaro e analisa o modo como ele se op�e ao ambientalismo


postado em 06/07/2020 04:00

Reunião de criação do Partido Verde, no Rio de Janeiro, em 1986, com a presença na mesa de Fernando Gabeira, Lucélia Santos, Alfredo Sirkis, John Neschling, Luiz Alberto Py, Carlos Minc, Herbert Daniel e Guido Gelli(foto: Acervo pessoal)
Reuni�o de cria��o do Partido Verde, no Rio de Janeiro, em 1986, com a presen�a na mesa de Fernando Gabeira, Luc�lia Santos, Alfredo Sirkis, John Neschling, Luiz Alberto Py, Carlos Minc, Herbert Daniel e Guido Gelli (foto: Acervo pessoal)

Jornalista, ambientalista, ex-parlamentar, Alfredo Sirkis, de 69 anos, tomou emprestado o t�tulo de seu livro mais conhecido para nomear sua nova incurs�o autobiogr�fica. Os carbon�rios (1980), relato em primeira pessoa que se tornou um cl�ssico da literatura sobre os anos de chumbo e que ganhou nova edi��o, comemorativa dos 40 anos, agora tem um companheiro.  

Descarbon�rio (editora Ubook) – “trocadilho infame”, conforme descreve o autor na primeira frase da obra – n�o � um relato autobiogr�fico stricto sensu. De forma livre, sem respeitar cronologia, Sirkis recupera passagens de sua vida desde os anos 1960 at� a atualidade. A quest�o do clima permeia todo o relato. 

A milit�ncia pol�tica e em prol da sustentabilidade do planeta (foi um dos fundadores do Partido Verde) garante boas hist�rias, contadas de forma por vezes leve, noutras ir�nica. A conviv�ncia com o ent�o parlamentar Jair Bolsonaro garante passagens cr�ticas. “Ele gosta do desmatador, do grileiro, do garimpeiro que invade terra ind�gena. Isso � �nico na presen�a da Rep�blica”, afirma Sirkis na entrevista a seguir ao Estado de Minas.

Dos anos 1980 at� os dias de hoje, que mudan�as houve na quest�o ambiental no pa�s?
Da cria��o do Partido Verde, em janeiro de 1986, at� 1992, havia uma grande desconfian�a em torno dos ambientalistas. A partir da Rio-92, grande parte do setor empresarial mais moderno, da grande m�dia e da classe m�dia mais intelectualizada passaram a apoiar os ambientalistas. Hoje, h� uma consci�ncia da maioria da popula��o a respeito do significado da sobreviv�ncia da Amaz�nia. Pelo menos vocalizado, embora nem sempre seguido � risca, praticamente todos os governos antes de Bolsonaro, do Collor ao Temer, assimilaram o meio ambiente como algo importante. Bolsonaro poderia transgredir as quest�es ambientais por press�o de interesses econ�micos, mas a quest�o dele � idiossincr�tica. Ele simplesmente odeia o meio ambiente, colocou os ambientalistas na caixinha do comunismo. Humanamente, ele gosta do desmatador, do grileiro, do garimpeiro que invade terra ind�gena. Isto � �nico na presen�a da Rep�blica. 

De que maneira a pandemia se relaciona com a crise clim�tica?
O processo de desmatamento e extin��o da biodiversidade tem provocado desequil�brios que facilitam a transmiss�o de v�rus existentes no meio animal que v�o para o humano. Foi o caso da AIDS, com o v�rus que veio do macaco, e aparentemente do morcego ou de animais silvestres com a COVID-19. Por outro lado, o aquecimento global faz com que endemias, que normalmente ficavam restritas ao clima tropical, subam para �reas temperadas. N�o era imagin�vel h� alguns anos dengue nos EUA, por exemplo.

O senhor termina o livro no final de 2018, quando entregou ao ent�o presidente Michel Temer o documento “Mudan�as clim�ticas: riscos e oportunidades para o Brasil”. Quais seriam eles?
Os riscos seriam o fim da floresta amaz�nica. A savaniza��o j� est� em curso. O aumento brutal da seca no Nordeste, com a desertifica��o do semi�rido, o colapso da agricultura em v�rias regi�es onde ela � o carro-chefe, por causa do regime de chuvas que a Amaz�nia distribui para o resto do Brasil e do continente. Para as regi�es mais ao Sul, haveria uma frequ�ncia e intensidade maiores dos fen�menos meteorol�gicos, as enchentes e tornados. Por outro lado, o Brasil � o pa�s mais bem aparelhado para enfrentar a crise clim�tica em fun��o de ter a maior floresta, com maior diversidade, e com uma matriz energ�tica mais limpa. Tamb�m tem um potencial de espa�o para fazer um enorme reflorestamento para absorver o carbono, desenvolver a agricultura sadia para alimentar o mundo, e de energia limpa. E h� ainda todo o potencial dos produtos da Amaz�nia extrativista, como o caso �bvio do a�a�, que hoje movimenta US$ 2 bilh�es por ano. 

Com a entrada do governo Bolsonaro, o senhor teve oportunidade de entregar o documento?
Convivi com o Jair por seis anos, dois como vereador e quatro como deputado federal. T�nhamos, digamos assim, uma rela��o cordata at� certo ponto. Mas constatei que ele piorou enormemente depois que assumiu a Presid�ncia. Ele est� um presidente para um grupo muito restrito de extremistas que o rodeiam. Com rela��o ao documento, tentei entreg�-lo ao general Heleno em um encontro que houve com o Virg�lio Viana (da Funda��o Amazonas Sustent�vel). S� que nos foi avisado que os ambientalistas n�o poderiam falar. Se era proibido, pensamos em fazer uma conversa nas mesas durante o jantar. V�rios militares foram simp�ticos, mas quando o general Heleno entrou e o Virg�lio foi se apresentar, ele disse: “Conhe�o a sua ficha”. Quando me viu, olhou para baixo, n�o tive a oportunidade de entregar-lhe o documento. 
(foto: Editora Ubook/Reprodução)
(foto: Editora Ubook/Reprodu��o)

DESCARBON�RIO
• Alfredo Sirkis
• Editora Ubook (492 p�gs.) R$ 79,90 (inclui o livro f�sico e o e-book). 
• Na pr�xima quinta-feira (9), �s 19h, no canal do YouTube do Centro Brasil no Clima, Sirkis faz  encontro virtual para o lan�amento do livro.


TRECHO

“O Jair, naquela manh�, chegou � sala da Comiss�o bem no final da minha exposi��o e sentou-se na minha frente. Ouviu apenas o finalzinho. Pediu a palavra e logo irrompeu em uma diatribe furiosa: ‘O deputado Sirkis, que andou envolvido no regime militar, agora quer que os cubanos esperem mais dez anos para serem livres!’. ‘Pera�, deputado. Me envolvi foi contra o regime militar, n�o �?’ ‘Isso mesmo. Vossa Excel�ncia sequestrou o embaixador americano e o manteve por 41 dias em c�rcere privado’, atacou, tomado por uma f�ria s�bita que, na hora, continuei sem entender. ‘N�o foi o americano. Esse foi o Gabeira. Foi o su��o’, retruquei, rindo e provocando risadas tamb�m na sala. ‘Ele confessou! Ele confessou!’, berrava o Jair.
(...)
S� alguns dias depois entendi o porqu� de toda aquela esquisitice. A assessoria do Jair divulgou no YouTube: ‘Bolsonaro desmascara Sirkis’, editando as imagens da TV C�mara de maneira a formar uma historinha em que ele parecia conduzir um interrogat�rio, me levando a ‘confessar’ um ‘crime do passado’ em primeira m�o. O filmete teve umas tr�s mil visitas. Depois, percebi que ele dedicava boa parte do seu tempo a criar incidentes desse tipo para montar esquetes editados e divulg�-los na internet. Naquele dia, por acaso, sobrou para mim. Fui o seu sparring involunt�rio.”


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