
Criador da atra��o, o diretor e roteirista paulista Esmir Filho, que trabalha no desenvolvimento da s�rie h� dois anos, conta que a epidemia � utilizada como met�fora para os obst�culos que existem quando se est� descobrindo o corpo. “A ideia era mostrar as lutas para poder expressar os corpos dentro de uma sociedade cheia de imagens de controle.”
IRONIA
Rodada em Goi�s Velho, Boca a boca � ambientada na fict�cia cidade de Progresso, localizada no Brasil pecuarista. O nome do munic�pio � pura ironia, j� que uma onda conservadora domina a camada adulta da popula��o (olha a� a fic��o mirando novamente a realidade).
“A mensagem da s�rie, apesar de tudo, � de afeto e respeito ao diferente. Vendo tudo o que est� acontecendo na nossa sociedade, nos relacionamentos familiares, de amizade e sociais, a s�rie chega, de certa maneira, em uma boa hora, pois faz refletir sobre o que estamos passando”, afirma Esmir.
Boca a boca traz tr�s protagonistas. Alex (Caio Horowicz) � o filho do maior fazendeiro da regi�o (papel de Bruno Garcia). Mesmo vivendo sob o mesmo teto que um pecuarista tradicional, ele � vegano e questiona o tempo todo o que est� ocorrendo na fazenda. � tamb�m muito ligado � internet, vivendo boa parte do tempo on-line.
Fran (a estreante Isa Moreira) � a filha de uma das funcion�rias da fazenda (papel da mineira Grace Pass�). Vive numa col�nia de empregados e, mesmo tendo sido criada ao lado de Alex, a divis�o de classes � latente.
E Chico (Michel Joelsas, que estreou no cinema protagonizando o longa O ano em que meus pais sa�ram de f�rias, quase 15 anos atr�s) � a novidade de Progresso. Chegou � cidade para voltar a morar com o pai (papel de Fl�vio Tolezani) e representa o olhar estrangeiro ali.
MANCHA
Quando a filha do prefeito acorda com uma mancha na boca depois de ir a uma festa, os tr�s personagens v�o se unir para tentar entender o que est� acontecendo. “Progresso � um microcosmo de muita coisa que existe em nosso pa�s. Se de um lado os pais t�m ideias conservadoras fortes, os jovens querem viver, e essa s�ndrome desconhecida vai interferir em tudo”, comenta o diretor.
Esmir dirigiu os quatro primeiros epis�dios, e a cineasta Juliana Rojas os dois �ltimos. Boca a boca dialoga com os projetos anteriores do diretor. Esmir come�ou a ficar conhecido no meio do audiovisual em 2006, quando codirigiu Tapa na pantera. Um dos primeiros virais da internet no Brasil, o curta acompanha a atriz Maria Alice Vergueiro como usu�ria de maconha h� tr�s d�cadas.
Na sequ�ncia, lan�ou dois curtas, ambos selecionados para o Festival de Cannes. Saliva (2007) apresenta os preparativos de uma menina de 12 anos para dar o primeiro beijo. J� Alguma coisa assim (2006) mostrava dois amigos, Caio e Mari, menores de idade, em sua primeira incurs�o ao Baixo Augusta, ent�o templo underground da noite paulistana.
Ao conhecer o clube mais badalado da �poca, Mari faz com que Caio beije, pela primeira vez, outro cara. H� dois anos, Alguma coisa assim foi lan�ado na vers�o longa-metragem, acompanhando os dois personagens, mais maduros, em outras passagens da vida.
INTERNET
Ainda no cinema Esmir dirigiu Os famosos e os duendes da morte (2009). Em uma cidade do interior do Sul do Brasil, um adolescente, que atende pelo nome de Sr. Tambourine, passa seu tempo na internet e fumando maconha com seu melhor amigo, enquanto sonha em fugir de casa para assistir a um show de Bob Dylan.
Todas essas produ��es acabam se encontrando em Boca a boca, segundo comenta Esmir. “Os duendes veio trazer o universo da internet numa �poca em que nem Facebook existia. Era uma quest�o de mostrar como o adolescente lida com o fato de estar perto ou n�o. Saliva fala do contato f�sico, e Alguma coisa assim da sexualidade fluida, das descobertas durante a adolesc�ncia. Todos estes lados est�o na s�rie. O t�tulo, Boca a boca, tem duplo significado. Fala tanto do beijo quanto da quest�o da viraliza��o via internet.”
BOCA A BOCA
A s�rie em seis epis�dios estreia nesta sexta (17) na Netflix