
Por muitos anos, as companhias circenses foram as �nicas a levar espet�culos culturais aos mais distantes cantos do Brasil. E permanece assim para uma parte da popula��o, ainda exclu�da, que n�o tem condi��es de frequentar cinemas, shows, teatros. Presente no pa�s desde o come�o do s�culo 19, j� encantou gera��es e at� hoje tem muitos nomes registrados na hist�ria da arte nacional, como � o caso dos palha�os Piolin, Arrelia e Carequinha. Como todas as demais �reas culturais, essa tamb�m est� sofrendo com a pandemia do coronav�rus, o que tem impossibilitado o trabalho desses profissionais.
Vivendo de forma itinerante, os circos passam por situa��o bem preocupante. "Cada um est� tentando se virar de alguma maneira, seja vendendo ma�� do amor, algod�o-doce, balas, bolas, ou fazendo a��es em grupo, como lives na internet ou mesmo se arriscando em apresentar espet�culo no esquema de drive-in", conta Pereira Fran�a Neto, dono do Circo Teatro Tubinho e tamb�m palha�o da companhia que tem seu nome, com mais de 50 anos de estrada, e que estava montado em Piracicaba, no interior de S�o Paulo.
Para dias de escassez de trabalho como os atuais, Tubinho descreve a situa��o moment�nea de seu circo como a mesma enfrentada por outros grupos. Segundo ele, a companhia depende da bilheteria para sobreviver. "O governo do Estado mandou algumas cestas b�sicas, por meio de cooperativas, mas a despesa de uma companhia desse tamanho � grande. As d�vidas se acumulam e, a cada dia, a gente v� o risco de fechar as portas", desabafa. Apesar do momento dif�cil, ele entende que a situa��o � inesperada. "N�o podemos culpar ningu�m."
Entre os profissionais est�o fam�lias, como a de Franciele Jaqueline Machado, a Fran, de 34 anos, que se juntou ao grupo em 2012, quando o circo esteve em sua cidade, Ara�oiaba da Serra. Foi l� que conheceu seu marido, Jos� Roberto de Assis Junior, o Juninho, ator na companhia, com quem tem dois filhos. "Essa quarentena tem sido bem complicada para n�s: tivemos de parar com aquilo que sabemos fazer melhor, que � fazer o p�blico sorrir, e tivemos de nos reinventar", afirma a atriz.
A situa��o vivida pelo Circo Tubinho n�o � diferente da enfrentada por outros grupos pelo Brasil. � o que relata tamb�m Raul Greg�rio Nogueira, de 51 anos, dono do Circo Kids, atualmente na cidade Peixoto de Azevedo, em Mato Grosso, e origin�rio da quinta gera��o de uma fam�lia tradicional dessa arte. "Fomos o primeiro segmento a parar e, pelo que vemos, seremos os �ltimos a retomar nossas atividades, o que d� muito medo ao grupo", diz Nogueira.
LEI ALIVIA Em outro ponto do pa�s, a produtora cultural Andrea Vasconcelos, que trabalha com a Associa��o dos Propriet�rios, Artistas e Escolas de Circo do Cear�, entidade que registra 57 cadastrados, diz que, em sua regi�o, a vida dos circenses no momento n�o difere de outros locais. "O que temos de expectativa at� o final do ano � o aporte financeiro, que se tornar� dispon�vel para o meio cultural pela Lei Aldir Blanc", projeta. Por meio de um mutir�o, foram distribu�das cestas b�sicas e recolhidos fundos para pagar �gua e conta de luz.
Compactuando do mesmo pensamento, Marlene Querubim, gerente do Circo Spacial e presidente da Uni�o Brasileira dos Circos Itinerantes (UBCI), acredita que o retorno �s atividades est� pr�ximo, mas a preocupa��o � com o medo do p�blico em voltar a frequentar os espet�culos. "Creio que vai demorar muito para o p�blico retornar, especialmente pela quest�o financeira, pois houve uma descapitaliza��o das pessoas que v�o ao circo", afirma. Com otimismo, cr� que a retomada n�o atingir� nem 10%. "� um ano perdido para o circo." Ela estima que 30 mil pessoas vivem do circo no Brasil entre artistas, t�cnicos e funcion�rios. (Ag�ncia Estado)