
O que dizer sobre o setor audiovisual durante a pandemia do novo coronav�rus? H� algumas (poucas) boas not�cias. A despeito dos impedimentos da quarentena e tamb�m do enfraquecimento da estrutura e das a��es de apoio ao setor no �mbito federal, profissionais do meio est�o tentando apontar caminhos.
Dois deles, a produtora D�bora Ivanov, que at� outubro de 2019 foi diretora da Ag�ncia Nacional do Cinema (Ancine), e Alfredo Manevy, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e ex-presidente do SPCine, a Empresa de Cinema e Audiovisual de S�o Paulo, se encontrar�o nesta segunda-feira (20) para um debate em torno do tema.
Ivanov e Manevy participam da confer�ncia “Di�logos cinematogr�ficos – Audiovisual em tempos de pandemia”, que ser� realizada a partir das 19h, via aplicativo Zoom. O encontro virtual integra a programa��o comemorativa de 18 anos da ONG Contato.

"Tem gente que s� vai filmar quando houver vacina e outros v�o filmar de forma diferente, com equipes menores e em lugares mais amplos, para poder haver um m�nimo de seguran�a. O que est� acontecendo agora � que as produ��es planejadas (e n�o realizadas neste momento) est�o encavalando. H� profissionais que est�o sendo disputados no mercado"
D�bora Ivanov, produtora
“Em termos positivos, tenho conversado com v�rias produtoras que est�o apresentando projetos para as plataformas de streaming, amadurecendo roteiros, reelaborando planejamentos, fechando elenco e equipes para poder filmar no in�cio de 2021”, comenta Ivanov.
retomada A produtora acredita que a retomada das filmagens ser� poss�vel para aqueles que j� t�m os recursos liberados. “Projetos que t�m captados 80% de seu or�amento v�o conseguir. Mas o planejamento ter� que ser readequado, inclusive com a inclus�o de custos adicionais dentro dos protocolos (de preven��o da contamina��o pelo novo coronav�rus). Os filmes n�o custar�o a mesma coisa”, observa ela, lembrando que as condi��es ser�o outras.
“Tem gente que s� vai filmar quando houver vacina e outros v�o filmar de forma diferente, com equipes menores e em lugares mais amplos, para poder haver um m�nimo de seguran�a. O que est� acontecendo agora � que as produ��es planejadas (e n�o realizadas neste momento) est�o encavalando. H� profissionais que est�o sendo disputados no mercado”, acrescenta.
O streaming, para muitos o salvador tanto de produtores quanto de consumidores, �, na opini�o de Manevy, a grande novidade da pandemia. “As pessoas est�o consumindo como nunca o audiovisual dentro de suas casas, e isto deu uma percep��o de como a cultura � importante, tanto para o acesso � informa��o quanto para se ter um pouco de prazer.”
Entre as an�lises que est�o sendo feitas atualmente, h� uma de se divulgar diretamente no streaming filmes financiados com recursos p�blicos e que j� est�o finalizados, mas que tiveram seus lan�amentos adiados em virtude da pandemia. “Isto tamb�m inclui o perfil do cine drive in, pois s�o muitos filmes encavalados. O problema � que, agora, n�o d� para se concluir nada”, comenta Ivanov.
ESTRANGEIROS Na opini�o de Manevy, mesmo com o incremento do consumo digital, o Brasil n�o se preparou para aproveitar a onda. “Enquanto o mundo inteiro est� h� v�rios anos se preparando para ocupar o streaming, criando seus pr�prios canais e tendo pol�ticas de incentivo para o conte�do nacional nas plataformas, o Brasil vem desmontando a legisla��o, entregando o mercado para a ind�stria estrangeira.”

"Principalmente para as salas de cinema de arte, h� que pensar em uma parceria com o poder p�blico, pois, se fechar a conta antes j� era dif�cil, depois ser� pior. Al�m disso, o acesso ao cinema deveria ser visto como pol�tica p�blica. O Circuito SPcine, mantido pela Prefeitura de S�o Paulo, j� chegou a 2 milh�es de pessoas. N�o falo de nada que n�o exista, mas isto tem que deixar de ser uma bela de uma exce��o para se espalhar pelo Brasi"
Alfredo Manevy,� professor de cinema
Ele cita como exemplo a aprova��o, em fevereiro passado, que a Ag�ncia Nacional de Telecomunica��es deu para a compra da Warner Media pela gigante americana AT&T. O neg�cio de US$ 85 bilh�es envolveu 18 pa�ses e s� dependia do aval da Anatel para ser finalizado. Desde agosto de 2019, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) vinha fazendo press�o junto � ag�ncia pela aprova��o do neg�cio.
“Ter a pr�pria l�ngua em hist�rias feitas e contadas pelo seu pa�s � muito importante em termos planet�rios. O Brasil vinha conquistando um espa�o, ganhando pr�mios, a anima��o infantil sendo premiada no mundo todo”, cita.
Na opini�o de Manevy, “est�o abrindo m�o das conquistas e entregando para os competidores estrangeiros. � o setor do futuro e estamos perdendo uma grande oportunidade. A ind�stria audiovisual est� sendo desmontada, e estamos perdendo uma oportunidade de ocupar um mercado para o qual o Brasil tem voca��o. Se o governo joga contra, fica muito dif�cil para o brasileiro concorrer com o estrangeiro”.
ANCINE O desmantelamento da Ancine ser� certamente um dos assuntos do di�logo desta noite, sobretudo pelo cargo que Ivanov ocupou na ag�ncia. “Quando eu sa�, s� ficou um diretor (a Ancine atua com uma diretoria colegiada), algo que nunca tinha ocorrido com nenhuma ag�ncia reguladora. S� em fevereiro entraram os novos diretores, que s�o interinos. Os que est�o ali trabalhando t�m que reorganizar a ag�ncia para atender as exig�ncias do TCU (Tribunal de Contas da Uni�o) e tamb�m para buscar a libera��o dos recursos do Fundo Setorial do Audiovisual para que, a m�dio prazo, se possa voltar � normalidade”, ela diz.
A Ancine vem sofrendo grande instabilidade desde o fim do Minist�rio da Cultura. “Ela j� trocou (de vincula��o) do Minist�rio da Cidadania para o do Turismo e passou por cinco ou seis secret�rios de Cultura”, diz Ivanov. Os trabalhos est�o sendo feitos morosamente, ainda mais porque s�o centenas de projetos que passam pela avalia��o da ag�ncia.
Na opini�o da produtora, a m�dio prazo o p�blico vai sentir os efeitos da desestrutura��o do setor. “O setor j� vem sentindo muito por causa da pandemia e da fragilidade da ag�ncia. Sem d�vida, o n�mero de produ��es vai cair. Daqui a um ano ou dois, teremos menos produ��es para os canais de TV e as salas de cinema.”
Manevy avalia que a pandemia ressaltou dois lados. “As pessoas est�o vendo quanto faz falta estar juntas, ent�o a conviv�ncia social est� sendo revalorizada. O isolamento vem nos mostrando que o mundo s� da internet � sem gra�a e pobre. E as salas de cinema ter�o um lugar no novo mundo, mas, para tal, precisam ser repensadas.”
Segundo ele, uma das quest�es prementes � pensar na manuten��o das salas, ainda mais porque, num primeiro momento p�s-pandemia, muito provavelmente n�o ser� poss�vel ter salas cheias. “Principalmente para as salas de cinema de arte, h� que pensar em uma parceria com o poder p�blico, pois, se fechar a conta antes j� era dif�cil, depois ser� pior. Al�m disso, o acesso ao cinema deveria ser visto como pol�tica p�blica. O Circuito SPcine, mantido pela Prefeitura de S�o Paulo, j� chegou a 2 milh�es de pessoas. N�o falo de nada que n�o exista, mas isto tem que deixar de ser uma bela de uma exce��o para se espalhar pelo Brasil.”
Di�logos cinematogr�ficos – Audiovisual em tempos de pandemia
Com Alfredo Manevy e D�bora Ivanov. Media��o de Helder Quiroga. Nesta segunda (20), �s 19h, via Zoom. Inscri��es gratuitas via www.sympla.com.br.
ONG SE EXPANDE EM “PROCESSO ADVERSO”
A pandemia mostrou um novo caminho para a ONG Contato. As atividades de comemora��o dos 18 anos de funda��o da organiza��o n�o governamental com sede no bairro Serra j� estavam planejadas quando teve in�cio o per�odo de isolamento social.
“Tivemos que passar tudo para o on-line. E a ades�o para palestras, oficinas e semin�rios tem sido incr�vel, com muito mais inscritos do que t�nhamos tradicionalmente. Conseguimos crescer, mesmo dentro de um processo adverso”, afirma V�tor Santana, um dos fundadores da ONG.
Al�m das iniciativas on-line, algumas j� em curso, a Contato tamb�m ganhou um bra�o no exterior. Depois de conhecer o trabalho da ONG no in�cio deste ano, um grupo de colombianos criou a Contato Col�mbia, na cidade de Cali. “O foco ser� o mesmo nosso: m�sica, audiovisual e movimentos sociais de coopera��o internacional”, diz Santana.
Al�m do debate desta noite, a ONG tem programado o lan�amento da segunda edi��o da revista Elipse, com um encontro virtual entre o ator Fabr�cio Boliveira e o cr�tico Paulo Henrique Silva, no dia 3 de agosto, �s 19h, com transmiss�o pelo Youtube, Instagram e Facebook da organiza��o.