
Um dos maiores astros de Hollywood, o ator e cantor Will Smith recebeu uma avalanche de aten��o neste m�s de julho n�o por alguma atua��o em um blockbuster, mas por um epis�dio familiar e �ntimo.
No que chamou de um desabafo, o rapper August Alsina contou ter tido uma hist�ria de amor com Jada Pinkett-Smith, casada com Will. Segundo Alsina, Will Smith deu sua “b�n��o” para a rela��o, o que intensificou os rumores que circulam h� tempos de que um dos mais poderosos casais de Hollywood mant�m um “casamento aberto”.
Se antes um tema tabu como esse motivaria um sumi�o tempor�rio das figuras envolvidas, nos tempos atuais, a estrat�gia do casal foi escancarar sua intimidade para o p�blico. No talk-show Red Table Talk, comandado por Jada, os dois conversaram sobre a rela��o de Jada e Alsina, em transmiss�o ao vivo pelo Facebook, no �ltimo dia 10.
Como se estivessem na sala de casa, entraram em detalhes sobre como se sentiam a respeito. A diferen�a � que a conversa podia ser acompanhada no mundo inteiro.
O exemplo do casal Smith n�o � o �nico em que celebridades tratam na esfera p�blica de aspectos de sua vida antes considerados estritamente privados. Alguns mant�m mesmo uma rotina de dividir com seus seguidores em redes sociais fatos corriqueiros.
Pesquisadora no campo dos estudos de celebridades e professora da PUC-Minas, Fernanda Medeiros observa que “o interesse na vida pessoal dos artistas existe desde o s�culo 18, ou at� antes, de acordo com alguns autores”.
Ela aponta que “artistas sempre carregaram uma aura especial na perspectiva do p�blico, mas h� uma evolu��o e um amadurecimento dessa perspectiva, que faz o p�blico deixar de perceber essa aura e enxergar a celebridade como ‘gente como a gente’”.
Fernanda Medeiros integra o Grupo de Pesquisa em Imagem e Sociabilidade da UFMG (GRIS). Segundo ela, as transforma��es midi�ticas ajudam a entender o fen�meno.

EVOLU��O “S�o v�rios aspectos sociais que dizem sobre essa evolu��o. Se formos pensar num modelo de celebridade mais tradicional, elas tinham que chegar ao p�blico atrav�s de determinadas m�dias hegem�nicas. Um filme ou uma novela, no Brasil, por exemplo. As chamadas novas m�dias saem dessa hegemonia. No Instagram, por exemplo, h� a pr�tica de mostrar o bastidor. Ent�o, a fama vai sendo desmitificada. Antes das redes sociais s� era poss�vel saber da vida das celebridades pelas revistas de fofoca. Ou seja, a vida pessoal delas chegava ao p�blico cheia de media��es - do jornalista, do assessor, da maquiagem. O que vemos hoje � um n�mero bem menor de camadas de media��o, j� que cada artista ou celebridade tem a chance de se colocar em primeira pessoa nas redes sociais”, afirma a pesquisadora.
As possibilidades que as novas m�dias deram ao p�blico, de maior autonomia para acompanhar, interagir e escolher, t�m seu correspondente na atitude das celebridades de se expor e at� mesmo atender demandas nesse sentido.
“O p�blico quer saber detalhes, saber sobre tudo que n�o est� ao alcance dos olhos, desde sempre. Em muitos casos, � mais um desejo do p�blico atendido do que uma vontade pr�pria de se expor”, diz a pesquisadora, ressaltando as muitas diferen�as de perfis entre as celebridades.
No caso, por exemplo, de Whindersson Nunes, que durante a quarentena se separou da cantora Lu�sa Sonza e nunca demonstrou dificuldade em falar sobre o assunto em suas redes sociais, Fernanda Medeiros observa que pesa o fato de o humorista ter despontado para o estrelato j� nesse ambiente, como influenciador digital.
At� que ponto essa autoexposi��o � realmente aut�ntica � um aspecto a ser considerado. Dedicada a estudar a performance da pol�mica influenciadora digital Gabriela Pugliesi, Fernanda Medeiros cita o caso da blogueira Gabriela Pugliesi como exemplo.
“Ela come�ou a falar sobre fitness em 2012, quando pouca gente o fazia. Mas isso � ser aut�ntico? Muita gente acha que sim, muita gente acha que ela finge v�rias situa��es que compartilha. Mas muita gente tenta trilhar um caminho semelhante ao dela e n�o consegue. O p�blico escolhe em quem vai acreditar.”

ROTINA Elevada ao posto de celebridade por sua trajet�ria como blogueira de temas ligados ao corpo, forma f�sica e alimenta��o traduzidos como estilo espec�fico de vida, Pugliesi tem mais de 4 milh�es de seguidores no Instagram.
Por l� ela compartilha detalhes de sua rotina. Inclusive uma festa que ofereceu durante a pandemia do novo coronav�rus. A rea��o foi t�o intensa que a blogueira se afastou temporariamente das redes sociais.
“A medida em que o p�blico cancela algumas figuras p�blicas, tamb�m mostra para a sociedade e para outras figuras p�blicas onde est�o seus interesses desejos, e expectativas. Isso � interessante de observar na cultura do cancelamento”, diz Medeiros.
Entretanto, a pesquisadora tamb�m questiona a validade de tal atitude. “Cancelaram a Anitta, mas cancelaram mesmo? A Pugliesi foi cancelada nas redes sociais, mas n�o perdeu contratos, voltou a ter gente seguindo. N�o defendo a cultura do cancelamento, mas ela diz muito sobre quem est� cancelando. Da mesma forma, determinadas pessoas s�o famosas porque o p�blico as fez famosas. Isso diz muito sobre um novo papel do p�blico na comunica��o. � como se estivesse em outro patamar”, argumenta.
Nesse contexto, al�m de aspectos de sua vida pessoal e intimidade, artistas e famosos tamb�m v�m expondo engajamento em causas de interesse e posicionamento pol�tico. N�o s� em mensagens nas redes, como em atitudes.
Nos EUA, alguns artistas aderiram aos protestos contra o racismo e a viol�ncia policial, depois do assassinato de George Floyd. Foi o caso da diva pop Ariana Grande, da modelo e atriz Emily Ratajkowski e do ator Timoth�e Chalamet.
Segundo a pesquisadora, a pandemia pode colaborar com as mudan�as que fazem parte do fen�meno. “Temos percebido nos �ltimos meses que h� certa revis�o e questionamento dos valores que orientam a rela��o p�blico-celebridade. Pessoas vivendo dificuldades, pela doen�a, pelo desemprego, passam a questionar a postura da celebridade que posta que a vida dela � linda”, observa.
Ela ainda cita o fil�sofo franc�s Edgar Morin, de 99 anos, um dos mais reverenciados no estudo das celebridades. “Ele trata as celebridades como deuses olimpianos. Metade deuses e metade pessoas normais. � um jeito de olharmos para celebridades. S�o figuras p�blicas, que carregam essa face, do glamour da fama, mas ao mesmo tempo s�o pessoas. Essa divindade da figura p�blica est� sendo apagada, muito em fun��o do movimento relacional das comunica��es por causa do p�blico”, afirma.
PAZ Na complexidade dos novos formatos midi�ticos, ainda h� aqueles que preferem resguardar sua privacidade e expor a pr�pria figura apenas em ocasi�es profissionais. Kim Kardashian, autoridade em termos de compartilhamento da pr�pria intimidade, mundialmente famosa pela participa��o no reality show Keeping up with the Kardashians, que tinha justamente esse foco, fez um clamor por um pouco de paz. Pelo menos em nome do marido, Kayne West.
O rapper, candidato � presid�ncia dos EUA, vem surpreendendo o p�blico com uma s�rie de declara��es inusitadas, muitas delas sobre o relacionamento com Kim, que segundo ele, teria tentado intern�-lo por conta de seu transtorno bipolar. Diante de muito alvoro�o, a socialite fez um apelo nas rede sociais, pedindo que “esque�am” um pouco de West.
“Eu nunca falei publicamente sobre como isso tem nos afetado em casa, porque eu sou muito protetora em rela��o aos meus filhos e ao direito de Kanye � privacidade quando se trata da sa�de mental dele. Mas, hoje, sinto que devo comentar sobre isso por causa do estigma e equ�vocos sobre a sa�de mental. Aqueles que entendem a doen�a mental ou mesmo o comportamento compulsivo sabem que a fam�lia n�o tem poder, a menos que o membro (afetado pelo dist�rbio) seja menor de idade. As pessoas que desconhecem ou est�o distantes dessa experi�ncia podem julgar e n�o entender que o pr�prio indiv�duo precisa se engajar no processo de obter ajuda, por mais que a fam�lia e os amigos tentem", publicou Kim, que, segundo o site TMZ, proibiu as c�meras do Keeping up with the Kardashians de registrar qualquer coisa sobre os problemas psicol�gicos do marido.
Mas h� tamb�m uma lista de celebridades que prefere se manter longe das redes sociais. Figuras como as atrizes Kristen Stewart, Sandra Bullock, Angelina Jolie, Julia Roberts e Scarlett Johansson n�o t�m um perfil no Instagram ou no Twitter.
O mesmo vale para os atores George Clooney, Keanu Reeves, Brad Pitt, o “Harry Potter” Daniel Radcliffe, entre muitos outros. No Brasil, grandes nomes do cinema e da TV tamb�m se resguardam nesse sentido. � o caso do ator Wagner Moura e da atriz Adriana Esteves, por exemplo.