
Al�m de cores e cen�rios deslumbrantes, as imagens captadas por esses fot�grafos revelam tamb�m sinais que o meio ambiente nos transmite neste momento t�o complexo.

Patag�nia
Na �ltima d�cada, a c�mera guiou o mineiro Tom Alves por v�rias partes do Brasil e do mundo. Seus cliques j� registraram fauna, flora e paisagens do sert�o nordestino � Patag�nia, da �frica � Nova Zel�ndia, a ponto de ele se especializar em expedi��es fotogr�ficas, que se transformaram em sua principal atividade, interrompida momentaneamente pela pandemia.
O distanciamento social n�o significou para ele, entretanto, um afastamento da natureza. Isso gra�as ao privil�gio, como ele mesmo define, de viver h� cinco anos em uma casa na Serra do Cip�, onde ainda � poss�vel fazer alguns registros.
“Aqui, abro a janela e vejo um tucano. Na cidade, a natureza para muita gente � zero, uma planta na sala, no m�ximo. Aqui temos esse contato, que ainda existe, mesmo com o parque (Nacional da Serra do Cip�) fechado e outras restri��es que respeitamos”, comenta o fot�grafo.
Os registros poss�veis no per�odo inclu�ram at� a “natureza espacial”, com a passagem do Cometa Neowise, na �ltima semana. “Ele foi mais vis�vel no Hemisf�rio Norte, por aqui n�o havia como enxergar a olho nu. A c�mera, diferentemente do olho humano, capta luz por v�rios segundos, ent�o foi poss�vel fotograf�-lo. � um cometa pequeno, mas foi uma �tima experi�ncia”, relata Alves, que compartilhou seus registros em sua p�gina no Instagram (@tomalvesfotografia).
No momento de maior introspec��o, em que a natureza observ�vel � apenas essa ao seu redor, e n�o mais aquela acessada nas v�rias expedi��es, ele aproveita para refletir sobre o que o meio ambiente tem a nos dizer no contexto da pandemia.
“As imagens t�m um poder de contagiar as pessoas e ressaltam como � rica essa experi�ncia de ter contato com a natureza, como isso � vital para n�s. S�o imagens que podem nos incentivar, nos dar esperan�a de que o mundo l� fora ainda est� igual. A pandemia s� afeta a ra�a humana, e n�s sempre tivemos a presun��o de achar que somos o centro do universo, sendo que somos uma min�scula parte dentro de um contexto muito maior. Para os animais, a pandemia n�o afeta nada, pelo contr�rio. Conversando com guardas florestais na Serra do Cip�, eles contam que os bichos est�o aparecendo mais do que antes, sei que houve a mesma coisa no Pantanal. A natureza vai tendo um respiro”, afirma.
Para o fot�grafo, “a natureza joga na nossa cara qu�o ignorantes e irrespons�veis somos com ela h� tanto tempo. Quando destru�mos o meio ambiente, estamos afetando a nossa pr�pria sobreviv�ncia aqui. Quando diminu�mos a biodiversidade, retiramos habitat natural das esp�cies, facilitamos prolifera��o de doen�as, pois muitas delas s�o originadas de animais. N�o nos damos conta de que a humanidade cria essa situa��o. Ao destruir o planeta, descuidamos de n�s mesmos, e a Terra passa essa mensagem: 'Vejam o que voc�s est�o fazendo com voc�s mesmos’, porque a natureza vai continuar. Falamos em fim do mundo, mas seria o fim da ra�a humana, porque a natureza sempre continua, mesmo com terremoto, maremoto, meteoro”.
Concentrar na natureza pr�xima e buscar novos entendimentos nela tamb�m foi o caminho de Jo�o Marcos Rosa, outro fot�grafo mineiro acostumado a colocar imagens do mundo todo em revistas, livros e outras publica��es profissionais.
Seus trabalhos j� figuraram em publica��es como National geographic Brasil, GEO e BBC wildlife. O per�odo de quarentena n�o o afastou da profiss�o, mas o fez retornar para sua verdejante vizinhan�a, em Macacos, na regi�o de Nova Lima, onde passa a quarentena com a fam�lia.


Ang�stia
A mata e os animais locais se tornaram parte da rotina, que, de t�o inspiradora, deu origem a um livro a ser lan�ado na pr�xima quinta-feira (6). “O projeto nasceu dessa ang�stia de tentar compartilhar um pouco de beleza, de natureza e de leveza com pessoas que est�o ao meu redor nas redes sociais. Inicialmente, n�o seria um livro. Era um projeto sobre amenidades. Tenho o privil�gio de viver muito pr�ximo da floresta e, como fot�grafo e documentarista da natureza, aproveitei esse tempo para me colocar nesse exerc�cio, da pr�tica di�ria de registrar coisas que estava vendo e vivendo, compartilhando essas imagens com pessoas que n�o t�m a possibilidade de ver isso, por estarem isoladas em apartamentos”, diz Jo�o Marcos.
O di�rio on-line chamou a aten��o da editora Vento Leste e assim surgiu Di�rio de um outono particular, que re�ne fotografias feitas por ele nesse per�odo e textos com reflex�es sobre elas. As imagens incluem animais locais, como coruja, lagarto e um beija-flor, que virou “amigo” da fam�lia, por visitar a resid�ncia costumeiramente.
A vegeta��o tamb�m � contemplada e, em alguns cliques, Benjamin, de 6 anos, filho de Jo�o Marcos tamb�m � personagem, interagindo com esse cen�rio t�o diverso. O costume de registrar a natureza em suas muitas formas, seja em pontos long�nquos do globo, ou no quintal de casa, faz Jo�o Marcos Rosa atribuir uma caracter�stica especial a essas imagens, diante de tempos t�o angustiantes para a humanidade.
“Acho que a principal palavra � resili�ncia. A for�a de resistir. Por mais que apedrejemos, dinamitemos, devastemos, com minera��o, desmatamento, a natureza sempre mostra isso. Em qualquer momento que dermos um respiro para ela, ela cresce novamente. Na quarentena, vimos imagens do retorno dos bichos em lugares onde n�o eram vistos h� muito tempo, ent�o a resili�ncia � o ponto mais forte da resposta da natureza”, argumenta o fot�grafo, que ainda percebe outra simbologia especial em se olhar para os ambientes naturais.
“Percebemos que o que temos, o que damos valor em nosso cotidiano urbano, � muito pouco e muito fr�gil. Todo mundo tem uma origem na terra, todo mundo tem uma refer�ncia dos antepassados fora da cidade, e muita gente tenta buscar isso agora. Temos uma conex�o muito forte com o urbano, que n�o � a nossa raiz, que � anterior a isso. � preciso olhar para a terra e para natureza. Tento falar sobre isso no livro.”
Di�rios de um outono particular
Jo�o Marcos Rosa
Editora Vento Leste (184 p�gs.)
R$ 80
� venda em www./ventolestelivraria.com, a partir de quinta-feira (6), quando haver� live de lan�amento, �s 18h, em @joaomarcosrosa.
Para conferir as galerias dos fot�grafos e acompanh�-los
Tom Alves
Instagram: www.instagram.com/tomalvesfotografia
Site: www.tomalves.com.br
Jo�o Marcos Rosa
Instagram: www.instagram.com/joaomarcosrosa
Site: www.linktr.ee/joaomarcosrosa