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Estado de Minas F� NA VIDA

Artistas que s�o tamb�m m�dicos contam como lidam com a crise

Profissionais que atuam nas duas frentes confiam em seu aprendizado na arte e dizem ter esperan�a de que o mundo viver� um cen�rio melhor depois de superada a pandemia


09/08/2020 04:00

Desde que a pandemia do novo coronav�rus come�ou, atingindo n�meros assustadores de infectados e v�timas em todo o mundo (o n�mero de mortos ultrapassou na semana passada a casa dos 700 mil), aplausos presenciais ou das janelas para m�dicos, enfermeiros e outros profissionais da sa�de se tornaram merecidamente comuns.

Por�m, para alguns desses trabalhadores, n�o necessariamente no front de enfrentamento � COVID-19, tal reconhecimento n�o � novidade. Eles est�o acostumados a dividir seu tempo com outro tipo de atua��o, nos palcos ou sets de filmagens, onde consolidaram obras que tamb�m fazem a diferen�a para o bem-estar da popula��o diante da doen�a. 

Para quem tem tanto a medicina quanto a arte como of�cios, a conex�o entre as duas �reas oferece ensinamentos e reflex�es importantes para acreditar em dias melhores. “Nesse per�odo, muitas possibilidades se fecharam, enquanto outras se abriram. S� que a vida � assim. Com tantas mudan�as, � preciso saber se adaptar o tempo todo, improvisar, ser flex�vel, e a dan�a � justamente isso”, afirma a bailarina Lina Lapertosa, que integrou a Cia de Dan�a Pal�cio das Artes desde os anos 1980 at� dezembro passado. 

CONSULT�RIO Agora, Lina se dedica integralmente � medicina, atividade com a qual sempre conciliou a dan�a. Ela leva para o consult�rio o que aprendeu nas d�cadas dedicadas � arte. “O corpo � o meio para sairmos das ang�stias, das inseguran�as, incertezas. A dan�a tem um poder de auxiliar nessa situa��o”, diz a ginecologista e obstetra, que relata um aumento no n�mero de pacientes com enfermidades psicossom�ticas, causadas por stress, durante a pandemia. 

“� um tempo muito dif�cil. � um v�rus novo, estamos todos aprendendo com ele, com a evolu��o dele, aprendendo a cada dia com ele. O importante � viver o presente, o hoje. N�o procuro imaginar como ser�, mas o que pode ser feito agora. Muita coisa est� mudando, inclusive na dan�a, com aulas on-line, lives de espet�culos. � um caminho interessante para todos. Quem mexia s� com o corpo agora tamb�m mexe com tecnologia. � dif�cil prever como ser� o futuro, mas sairemos fortalecidos, essa � a minha esperan�a”, diz a m�dica e bailarina.

Lina tem esperan�a tamb�m em uma maior valoriza��o da cultura e da sa�de por parte do poder p�blico. “A medicina, a ci�ncia e os artistas t�m feito muito pela popula��o, ajudando a manter as coisas positivas para quem est� em isolamento. � preciso ter paci�ncia, mas espero que os governos passem a dar mais valor para a cultura”, afirma. 

Doc Comparato, como � chamado Luiz Felipe Loureiro Comparato, justamente por causa da forma��o m�dica anterior � atividade que o consagrou na TV e no cinema, soma experi�ncias tanto no enfrentamento de doen�as quanto na lida com narrativas cheias de mist�rios, incertezas e tens�es. 

No momento em que o mundo inteiro aguarda um final feliz para a trama dram�tica que se desenrola desde o come�o do ano, Doc fala sobre as conex�es poss�veis entre as duas atividades, que ele mesmo define como “processos curativos e criativos”, respectivamente. 

“Quais s�o as qualidades dos processos criativos e curativos? No criativo h� o foco, a concentra��o. Na medicina, tamb�m. H� o foco naquele paciente, n�o pode se perder, entrar em p�nico, como numa guerra em que h� centenas de feridos esperando um atendimento. Numa situa��o como a de agora, de pandemia, � preciso uma concentra��o, como o escritor precisa. � necess�rio tamb�m inspira��o. Para o artista, ela vem com uma m�sica, uma vis�o. Para o m�dico, pela gravidade do momento, de salvar aquela vida, j� que cada caso � um caso. Al�m disso, h� a mem�ria, que nos possibilita criar links entre os conhecimentos adquiridos, e a autoconfian�a. Quando escrevo, preciso banir a cr�tica. Quando trato um doente, tenho de confiar no diagn�stico que eu mesmo fiz”, diz ele. 

Doc Comparato exerceu a medicina antes de se envolver com a dramaturgia, pela qual j� foi premiado v�rias vezes, por filmes, s�ries e pe�as que escreveu. Autor das s�ries televisivas Mulher (1998), O tempo e o vento (1985) e Lampi�o e Maria Bonita (1982), al�m de trabalhos internacionais, e parcerias com nomes � altura de Gabriel Garc�a M�rquez, ele entende que, apesar das transforma��es impostas pela pandemia, “os sentimentos se mant�m muito vivos no nosso ser, e a arte e a dramaturgia continuam como a reflex�o do ser humano e a express�o da nossa imagina��o". 

ESPELHO O escritor observa que “continuamos vendo disputas de poder, populismos, na��es brigando, ambi��es, paix�es, medo. Tudo est� envolvido nessa transitoriedade, e a arte � um espelho e uma janela disso tudo”. 

Para ele, esse momento de grande incerteza � compar�vel a um suspense. “Vivemos sob grande expectativa agora, da cura, de como as coisas v�o caminhar, se a vacina vai chegar, mas ainda n�o � poss�vel ver uma luz no fim do t�nel. Ent�o, tudo fica suspenso , no ar, ou seja, suspense. � uma situa��o que n�o pode se manter por tanto tempo na dramaturgia. Se h� suspense demais, h� a crise para o escritor, o bloqueio, pois ela � paralisante. Mas temos capacidade de mudar a situa��o, justamente com nossa criatividade. Somos capazes de adaptar, mudar, e vencer. Depois da crise vem o cl�max e o progresso”, diz, revelando sua esperan�a.

“� pensar na trag�dia grega, na epopeia. Nossos laborat�rios s�o muito bons, assim como nossos m�dicos, teremos um desfecho como o da epopeia, que traz o reconhecimento do her�i. E assim � na hist�ria, tanto que, na Idade M�dia, depois da peste veio o Renascimento”, opina Comparato.

O ator Gustavo Werneck, que concilia a medicina na sa�de p�blica com as artes c�nicas, com a companhia Encena, de Belo Horizonte, destaca o esfor�o simult�neo dos profissionais das duas �reas.  “N�o estou na linha de frente (do enfrentamento � COVID-19), mas acompanho a exaust�o, a perplexidade, a exposi��o que os profissionais de sa�de t�m enfrentado nesse esfor�o her�ico durante a pandemia. Para mim, que sou do SUS (Sistema �nico de Sa�de), todo profissional de sa�de tem um dever com a popula��o. Ent�o vejo como um momento de doa��o, de solidariedade, que vem de uma vontade mundial de fazer, de encarar. Ao mesmo tempo, os artistas t�m esse papel de aquecer os cora��es, essa onda de mostrar que estamos juntos. Vimos v�rios exemplos na m�sica, tamb�m no teatro, de muitas iniciativas importantes que surgiram nesse per�odo.”

Longe dos palcos devido � suspens�o dos espet�culos presenciais, Gustavo diz que tem trabalhado no desenvolvimento de projetos para o futuro. Assim como Lina Lapertosa, ele espera um maior reconhecimento para a classe art�stica no futuro. 

“H� uma esperan�a. Os artistas sofreram muito nesse per�odo, com o ganha-p�o comprometido, mas se colocaram na cena. � uma coisa nunca vista e os artistas se colocaram justamente para dar esse toque de esperan�a, de que a coisa vai passar, de que vamos seguir. Vejo que h� muito ch�o para andar, mas os artistas do teatro, do cinema v�o ter uma papel muito importante de retratar esse momento, de retratar os sentimentos que j� v�o surgindo, porque isso atinge a vida de todos e a� entra o papel de arte de captar e retratar tudo isso.”


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