
Vocalista da banda Scalene, o m�sico brasiliense Gustavo Bertoni costuma usar experi�ncias pessoais como tema de suas composi��es. Em seu terceiro �lbum solo, The fine line between loneliness and solitude (SLAP), ele usa da sonoridade org�nica do folk para realizar esse movimento e tratar de uma quest�o bastante coletiva: a solid�o.
''Para mim, conseguir abra�ar as coisas boas que a solid�o traz � transform�-la em solitude'', analisa o m�sico. ''Claro que a minha inten��o n�o � conectar pontos, fazer desse disco um trabalho sobre a pandemia. Sempre fiz esse movimento de ficar s�.''
Embora finalizado antes de a Organiza��o Mundial de Sa�de (OMS) decretar a pandemia da COVID-19, em mar�o, o �lbum acaba se relacionando, inevitavelmente, com o atual momento. Entre levadas de folk, flertes com o art pop e beats urbanos, o trabalho revela um compositor dedicado a construir um trabalho musicalmente afinado e artisticamente desafiador. ''A arte sempre estar� aberta a interpreta��es. O disco � sobre se entender nos espa�os de solitude, de solid�o e enxergar a linha t�nue entre as duas coisas. E, agora, estamos vivendo isso intensamente'', pondera o m�sico brasiliense.
Segundo Bertoni, a m�sica Waves, que sucede � introdut�ria e breve Chasm, � a s�ntese do disco. Nela, Gustavo canta sobre sentimentos que se comportam como ondas, num vaiv�m constante. De certa forma, a m�sica est� falando sobre como uma s�rie de coisas da vida s�o vol�veis.
Gravado no Brasil e na Alemanha, entre as capitais S�o Paulo e Berlim, o �lbum re�ne somente m�sicas compostas em ingl�s, marca da discografia solo do artista, que tamb�m � composta pelos discos The pilgrim (2015) e Where light pours in (2018).
Apesar de ter recebido grande influ�ncia do folk, g�nero normalmente associado a paisagens buc�licas, o �lbum transmite uma atmosfera urbana. Para o m�sico, isso se deve ao fato de a grava��o ter acontecido em duas metr�poles onde a paisagem urbana � imposs�vel de ignorar. ''S�o Paulo e Berlim acabaram virando personagens do disco. Por isso, algumas can��es parecem mais ruidosa ou rural. Isso vai contra a pr�pria ideia do folk, que seria a m�sica de uma paisagem interiorana.''
''Nunca havia feito um disco em t�o pouco tempo'', conta ele, que finalizou o trabalho em 10 meses. ''Normalmente, s�o ideias que se acumulam em um ano e meio, e esse foi totalmente feito durante 2019. Ent�o, as m�sicas acabam bem correlacionadas, sendo o mesmo tema olhado de diferentes perspectivas e sensa��es.''
Apesar de a solid�o ser o tema que permeia o trabalho, a produ��o do disco, encabe�ada por Lucas Meyer, contou com uma s�rie de colaboradores. Eduardo Canavezes aparece nas cordas da faixa Midnight sun. J� o pianista e compositor noruegu�s Kjetil Mulelid est� em duas faixas: Mirror in the room e no interl�dio Alnes.
''Uma das primeiras vers�es de Mirror in the room tinha um improviso de jazz ao final, que n�o tinha ficado muito bom'', brinca ele. ''A�, fui num show em Berlim com uma amiga e conheci o Kjetil no final, quando ele estava vendendo o merch. Mantivemos contato e mandei a m�sica pra ele.''
O encontro foi o pontap� inicial para Alnes. ''A iniciativa para essa faixa partiu dele, que se identificou muito com de Patience... E isso � uma parada legal, quando voc� v� um cara ‘cabe�udo’ e estudado se identificar com uma m�sica simples assim, voc� v� que tem muita verdade ali e que o simples muitas vezes tem muitas camadas'', reflete Gustavo. J� White roses conta a presen�a da cantora e artista visual YMA. ''� uma m�sica bem �ntima, basicamente sobre dar esse ‘primeiro passo’ do relacionamento, seja ele s�rio ou passageiro, com total sinceridade.''
"A arte sempre estar� aberta a interpreta��es. O disco � sobre se entender nos espa�os de solitude, de solid�o e enxergar a linha t�nue entre as duas coisas. E, agora, estamos vivendo isso intensamente"
Gustavo Bertoni, m�sico
CRIATIVIDADE Com agenda suspensa por conta da pandemia, ele e os outros membros da Scalene – Tomas Bertoni (guitarra), Lucas Furtado (baixo el�trico) e Philipe Conde (bateria) – t�m se mantido ocupados durante a quarentena. Al�m de manter o of�cio da composi��o, a banda j� tem pensado no pr�ximo disco.
Recentemente, o grupo colocou na pra�a o EP Respiro, trabalho que se soma aos discos Magnetite (2017), �ter (2015), Real/surreal (2013) e Crom�tico (2012). Al�m disso, a banda se rendeu �s lives como forma de manter o contato com o p�blico.
''Em suma, a gente n�o tem outra op��o, temos que inovar, buscar solu��es criativas e tentar us�-las da melhor maneira. Nesses momentos, a gente ativa o modo sobreviv�ncia e foge do processo de ficar reclamando'', pontua.

THE FINE LINE BETWEEN LONELINESS AND SOLITUDE
. Gustavo Bertoni
. SLAP
. Dispon�vel nas plataformas digitais