Mostra promove repescagem gratuita dos grandes filmes de 2019
Edi��o 2020 do Festival Sesc Melhores Filmes realiza cerim�nia de premia��o nesta quarta (19) e disponibiliza t�tulos a partir de amanh�. 'Bacurau' integra lista
Chuva � cantoria na aldeia dos mortos acompanha a hist�ria de um jovem ind�gena que tenta fugir ao destino de ser paj� (foto: Emba�ba Filmes/Divulga��o)
Aos p�s de uma cachoeira, Ihj�c se senta e come�a a lamentar a aus�ncia do pai morto. Para sua surpresa, o pai responde. A voz diz ao jovem para organizar uma festa de fim de luto, permitindo que a alma siga o seu caminho e que os vivos prossigam com sua rotina.
No instante seguinte, a calmaria local � tomada pela presen�a de uma chama em plena �gua. Essa � uma das passagens surpreendentes do drama Chuva � cantoria na aldeia dos mortos (2018), de Jo�o Salaviza e Ren�e Nader Messora.
Produzido pelos mineiros Ricardo Alves Jr. e Thiago Mac�do Correia, o longa-metragem recebeu o Pr�mio Especial do J�ri na Mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes, e agora integra a programa��o do 46º Festival Sesc Melhores Filmes, que ser� realizado no formato on-line, em decorr�ncia da pandemia do novo coronav�rus, a partir desta quinta-feira (20).
Ao lado de outros tr�s t�tulos – Inferninho (2018), de Guto Parente e Pedro Di�genes; Torre das donzelas (2018), de Susanna Lira; e o mineiro No cora��o do mundo (2019), dos irm�os Gabriel e Maur�lio Martins –, o filme ficar� dispon�vel por sete dias no site do Sesc SP.
Chuva � cantoria na aldeia dos mortos conta a hist�ria de Ihj�c, da etnia krah�, que mora na aldeia Pedra Branca, em Tocantins. Ap�s a morte de seu pai, ele recusa o chamado para se tornar xam�, adoece e vai procurar ajuda na cidade. Longe de seu povo e da pr�pria cultura, o jovem n�o se adapta � medicina branca e enfrenta as dificuldades de ser um ind�gena no Brasil contempor�neo.
Apesar de ter sido rodado h� pelo menos dois anos, o filme guarda rela��o com a situa��o dos ind�genas no Brasil durante a pandemia.
ALDEIA Trabalhando dentro de uma estrutura de produ��o bastante reduzida, com uma c�mera 16mm em m�os, o portugu�s Jo�o Salaviza e a cineasta brasileira Ren�e Nader Messora levaram nove meses para gravar o filme. Antes disso, eles passaram longas temporadas com a comunidade, formada por 3.500 ind�genas. No filme, membros da aldeia interpretam uma vers�o de si mesmos e falam em seu pr�prio idioma.
O longa tamb�m chama a aten��o pela beleza dos enquadramentos, que ora inserem personagens em um espa�o amplo, mostrando a dimens�o do territ�rio ind�gena Pedra Branca, ora focam nos rostos e nos detalhes, como a presen�a de uma ave que dita os rumos da narrativa.
A fotografia explora a luz natural, enquanto a maioria dos di�logos ocorre com vozes over, fora do enquadramento. Quando Ihj�c conversa com a funcion�ria branca de um hospital, por exemplo, a presen�a dela nas imagens � dispens�vel e o enquadramento permanece, portanto, no �ndio, ressaltando a inten��o do filme de se colocar ao lado de seu protagonista.
CONFLITOS � interessante tamb�m a maneira como a dupla de diretores foge da representa��o distanciada dos �ndios. Neste filme, eles n�o s�o definidos pela diferen�a em rela��o aos brancos, e sim pelo modo como lidam com conflitos universais.
Em Cannes, a estreia de Chuva � cantoria na aldeia dos mortos foi marcada por protestos protagonizados pela equipe do longa. No tapete vermelho do festival, o elenco denunciou o genoc�dio dos ind�genas brasileiros. Os dois cineastas e os protagonistas do filme, Ihj�c e Koto Krah�, desfilaram de preto sustentando cartazes vermelhos em que se lia ''Parem o genoc�dio dos povos ind�genas'' e ''Pela demarca��o das terras dos povos ind�genas''.
Mais tarde, Ren�e Nader Messora levantou o punho ao receber o pr�mio entregue pelo ator porto-riquenho Ben�cio del Toro, presidente do j�ri, enquanto Salaviza afirmou: “Demarca��o j�”, referindo-se �s terras ind�genas no Brasil.
� �poca, o protesto remetia � mobiliza��o de l�deres ind�genas no Brasil, que acusavam o governo de Michel Temer (MDB) de se recusar a demarcar as terras para devolv�-las aos seus donos originais. O governo favorecia os empres�rios do setor agr�rio, acusavam os �ndios.
Atualmente, os krah�s lidam com um novo problema. Segunda etnia mais numerosa do Tocantins, eles montaram barreiras sanit�rias contra a COVID-19 e enfrentam dificuldades para custear essas medidas de preven��o.
O FESTIVAL Previsto originalmente para ocorrer em abril passado, o Festival Sesc Melhores Filmes realiza nesta quarta-feira (19) a cerim�nia virtual de premia��o dos filmes mais votados do �ltimo ano.
Em transmiss�o ao vivo, a partir das 19h30, no canal do CineSesc no YouTube, a atriz Karine Teles – que recebeu os pr�mios de melhor atriz Nacional e melhor roteiro em 2019 pelo filme Benzinho, de Gustavo Pizzi – ir� anunciar os vencedores e conversar com alguns dos premiados.
Tamb�m participam da cerim�nia os jornalistas e cr�ticos de cinema Fl�via Guerra e Thiago Stivaletti e a cineasta Viviane Ferreira, que comentam sobre os filmes mais votados, antes da premia��o.
Ap�s a cerim�nia, o p�blico poder� assistir gratuitamente � exibi��o �nica e exclusiva do filme Meu nome � Bagd�, de Caru Alves de Souza, agraciado pelo j�ri da mostra Generation, do Festival de Berlim.
At� 20 de setembro, o festival disponibiliza, ao todo, 14 filmes, agrupados em diferentes categorias: sess�es especiais (com exibi��es �nicas), dispon�veis para streaming por 24 horas, uma semana e at� um m�s, na plataforma do Sesc Digital.
Bacurau (2019), de Kleber Mendon�a Filho e Juliano Dornelles, ser� exibido em sess�o �nica no pr�ximo domingo (23), �s 20h, tamb�m pelo YouTube. J� Greta (2019), de Armando Pra�a, estrelado por Marco Nanini, ficar� dispon�vel durante 24 horas nesta quinta-feira (20).
Aclamado pela cr�tica e indicado ao Oscar em tr�s categorias (melhor filme estrangeiro, dire��o e fotografia), o polon�s Guerra fria (2018), de Pawel Pawlikowski, ficar� dispon�vel por 30 dias, assim como Rainha de copas (2019), de May el-Toukhy; Border (2018), de Ali Abassi; e Cine S�o Paulo (2017), de Ricardo Martensen.
CERIM�NIA DE PREMIA��O DO 46º FESTIVAL SESC MELHORES FILMES
Nesta quarta (19), �s 19h30, no canal do CineSesc no YouTube (youtube.com/cinesesc) com apresenta��o da atriz Karine Teles. Mais informa��es: melhoresfilmes.sescsp.org.br
CAMPANHA SALVE KRAH�
Em virtude da pandemia do novo coronav�rus, o povo krah� enfrenta dificuldades para custear as medidas de preven��o contra a COVID-19. Para isso, representantes da etnia lan�aram a campanha Salve Krah� com o objetivo de arrecadar doa��es para custear a estrutura��o e manuten��o de uma barreira sanit�ria, a produ��o de materiais informativos, o apoio ao trabalho dos agentes de sa�de ind�genas e a articula��o com organiza��es governamentais e n�o governamentais. Em parceria com os diretores Jo�o Salaviza e Ren�e Nader, a distribuidora Emba�ba Filmes ir� disponibilizar um link de acesso ao filme Chuva � cantoria na aldeia dos mortos para quem fizer uma doa��o para a campanha. Mais informa��es em salvekraho.com.
FESTIVAL VIRTUAL
Veja a programa��o do 46º Festival Sesc Melhores Filmes
» T�TULOS COM SESS�O �NICA
Meu nome � Bagd� (2020), de Caru Alves de Souza
. Quarta (19), �s 21h
(foto: VITRINE FILMES/DIVULGA��O)
Bacurau (2019), de Kleber Mendon�a Filho e Juliano Dornelles
. Domingo (23), �s 20h
» T�TULOS DISPON�VEIS POR 24 Horas
Greta (2019), de Armando Pra�a
. Quinta (20)
Elegia de um crime (2019), de Cristiano Burlan
. Sexta (21)
(foto: DESVIA/DIVULGA��O)
Divino amor (2019), de Gabriel Mascaro
. S�bado (22)
Los silencios (2017), de Beatriz Seigner
. Domingo (23)
» T�TULOS DISPON�VEIS POR 7 DIAS
De quinta (20) a quarta (26)
Inferninho (2018), de Guto Parente e Pedro Di�genes
Torre das donzelas (2018), de Susanna Lira
Chuva � cantoria na aldeia dos mortos (2018), de Jo�o Salaviza e Ren�e Nader Messora
No cora��o do mundo (2019), de Gabriel Martins e Maur�lio Martins