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Estado de Minas AUDIOVISUAL

Filme procura entender por que m�sicos ainda gravam discos

'Brasa', de Marcelo Perdido e Bruno Graziano, investiga as raz�es pelas quais se produzem �lbuns, na era do consumo de can��es avulsas. Document�rio est� no YouTube


28/08/2020 04:00

Marcelo Perdido teve a ideia de produzir o documentário quando se sentiu em crise com a perspectiva de gravar os próprios discos. Cada um dos entrevistados interpreta uma música no filme(foto: Bruno Graziano/Divulgação)
Marcelo Perdido teve a ideia de produzir o document�rio quando se sentiu em crise com a perspectiva de gravar os pr�prios discos. Cada um dos entrevistados interpreta uma m�sica no filme (foto: Bruno Graziano/Divulga��o)

H� tr�s anos, quando estava prestes a terminar a grava��o de seu quarto �lbum, Brasa, lan�ado em 2018, Marcelo Perdido, cantor e compositor carioca radicado em S�o Paulo, enfrentou uma crise criativa. 

Ao lan�ar Lenhador, seu primeiro disco, em 2014, ele determinou que trabalharia em outros tr�s registros, pelo menos. Com o final desse ciclo se aproximando, o m�sico questionou se deveria ou n�o parar por a�.

“Comecei a investigar em mim e nos artistas amigos meus o que nos leva a fazer discos. Por que a gente faz isso? Por que a gente investe tanto nesses trabalhos? O que nos motiva a criar?'', conta ele, em entrevista por telefone.

Em um determinado momento da pesquisa, Marcelo decidiu que as respostas para essas perguntas deveriam ser registradas. Ent�o, ele, ao lado do cineasta Bruno Graziano, idealizou e dirigiu o filme Brasa, com o objetivo de investigar o ato de criar discos e o processo criativo de alguns nomes da m�sica brasileira.

Entre eles est� o paulista Marcelo Jeneci, que, na �poca do depoimento ainda n�o havia lan�ado seu terceiro disco, Guaia (2019), mas j� tinha estourado a bolha da cena independente e habitava o mainstream. O filme tamb�m traz a fala da cantora e compositora Nana, que reside em Berlim, mas estava de passagem por S�o Paulo para gravar o disco CMG-NGM-PDE (2017).

“Nossa ideia era retratar artistas em diferentes momentos da carreira e que produziram discos em contextos diversos. Ao mesmo tempo, esse recorte mostra que, em todas as situa��es, seja com financiamento ou de forma independente, a maioria deles mostra um cuidado com o �lbum em si, preocupados em criar um universo particular no qual as m�sicas habitam”, diz Marcelo.

FORMATO

Maioria porque um dos entrevistados, o m�sico e produtor Rafael Castro, defende o formato single, principalmente para aqueles artistas em in�cio de carreira. Para ele, funciona muito mais lan�ar uma m�sica e trabalhar a divulga��o dela do que liberar v�rias delas de uma vez.

“Parece que a era dos �lbuns como o modelo principal teve a sua vida. Nos anos 2000, isso entra em decl�nio, o que acho natural. As pessoas gostam de trocar coisas e trocar uma m�sica � mais f�cil do que trocar um disco. Nunca mais ouvi algu�m dizendo 'ouve aquele disco daquela banda'. S� quando � essa turma da era do disco. Acho que � por isso que eu n�o quero mais fazer discos”, afirma Rafael, durante seu depoimento no filme. Ironicamente, ele acabou gravando outro �lbum.

J� o cantor e compositor Tat� Aeroplano, que j� lan�ou 12 discos de est�dio, entre eles Del�rios l�ricos, neste ano, conta que, ao longo da carreira, desenvolveu uma estrat�gia para autossustentar a produ��o de seus trabalhos. O dinheiro que ele ganha com shows e discotecagens vai direto para uma conta que ele batiza de “conta disco”.

“Hoje eu me organizo de uma tal maneira que vendo os discos pelo meu site. As pessoas entram no site, compram os discos e sou eu quem faz a distribui��o das c�pias f�sicas nas lojas. E tamb�m vendo nos shows que fa�o. �s vezes, demora um tempo para esgotar as unidades, mas a gente precisa trabalhar a ansiedade, porque o lance hoje � diferente”, pontua ele.

Contemplada por um edital de incentivo para produzir o disco Taurina (2018), Anelis Assump��o conta que, pela primeira vez desde que iniciou sua carreira na m�sica, com o �lbum Sou suspeita estou sujeita n�o sou santa (2011), p�de pagar todos os profissionais que trabalharam no projeto.

Brasa ouve artistas em diferentes fases da carreira. Marcelo Jeneci (foto), Tatá Aeroplano e Anelis Assumpção são alguns dos entrevistados(foto: Bruno Graziano/Divulgação)
Brasa ouve artistas em diferentes fases da carreira. Marcelo Jeneci (foto), Tat� Aeroplano e Anelis Assump��o s�o alguns dos entrevistados (foto: Bruno Graziano/Divulga��o)

GUERRILHA

“Os meus primeiros discos foram bem mais guerrilha. O artista independente, na verdade, depende da boa vontade, do amor, do carinho e da dedica��o das pessoas que trabalham com ele por prazer ou por acreditar. N�o tem dinheiro, n�o tenho como pagar. � uma rede em que dependemos uns dos outros mesmo para poder existir como mercado”, afirma a cantora e compositora.

“Todos eles responderam �s mesmas perguntas”, conta Marcelo Perdido. “Quer�amos captar essa vis�o geral do tema a partir de olhares diferentes. Durante a grava��o, a coisa enveredou muito para uma conversa, al�m de todos eles terem uma afinidade po�tica comigo, j� que eu tamb�m sou m�sico.”

O que tamb�m colaborou para quebrar o gelo foi Marcelo e Bruno pedirem, antes de iniciar a entrevista, que cada um cantasse, a capela, uma m�sica de seu repert�rio. A cantora e compositora carioca B�rbara Eug�nia canta um trecho de Eu vim saudar, m�sica presente no �lbum Tuda (2019). O maranhense Negro Leo – que neste ano lan�ou Desejo de lacrar (2020) –, canta A cobrar, n�o registrada em disco.  

“Eu canto para construir o mundo”, entoa Luiza Lian, trecho e t�tulo de m�sica in�dita composta pela cantora e compositora paulista. Na �poca do depoimento, ela se despedia de seu segundo �lbum, Oy� tempo (2017), para come�ar a trabalhar no premiado Azul moderno (2018).

Suave, po�tico e, �s vezes, surreal, Brasa � a estreia de Marcelo Perdido como diretor. Bruno Graziano, que dirigiu anteriormente filmes como A primeira vez no cinema brasileiro (2013) e Baderna (2018), � respons�vel pela est�tica do filme, que adota imagens em preto e branco com o objetivo de tornar-se atemporal.

Questionado sobre a similaridade de Brasa com As can��es (2011), de Eduardo Coutinho (1933-2014), Marcelo assume a influ�ncia. “Gosto de todos os filmes dele e, sem d�vida, ele me influenciou como documentarista. Mas o filme tamb�m presta homenagem a Glauber Rocha (1939-1981) e ao [seriado infantil] Castelo r�-tim-bum (1994-1997). Todos eles s�o meio an�rquicos e trazem uma abordagem de que eu e Bruno gostamos muito.”

CARNAVAL

A anarquia, de forma imag�tica, est� nos detalhes da montagem. Como numa cena, ainda na primeira metade do filme, em que aparece, em destaque, a palavra “Fim”; ou na entrevista informal que Marcelo Perdido realiza com foli�es no carnaval de S�o Paulo.
      
A cena, inclusive, impediu que o filme fosse lan�ado nas plataformas de streaming. Segundo o m�sico, as empresas exigiam um documento assinado pelas pessoas entrevistadas, autorizando o uso de sua imagem. Por isso e por causa da pandemia do novo coronav�rus, o filme est� dispon�vel gratuitamente no YouTube.

Passada a crise e a produ��o do filme, Marcelo Perdido se encontrou – com o perd�o do trocadilho – na necessidade de produzir um quinto disco de est�dio. N�o t� aqui para te influenciar (2020) chegou �s plataformas digitais na �ltima semana de junho.

Enxuto, com oito faixas curtas – apenas duas delas, Santa Clara de Troia e Voc� n�o est� aqui para me influenciar, t�m mais de 3 minutos de dura��o –, o trabalho desdobra-se num indie rock com letras confessionais sobre lutos, perdas e mem�rias. Sonoramente, assemelha-se bastante ao rock triste mineiro.

“Eu me coloco na categoria de artistas para os quais lan�ar discos � uma coisa inevit�vel. No momento atual, de pandemia e crise pol�tica, as pessoas parecem mais preocupadas em sobreviver. Lan�ar m�sica � ir na contram�o, mas a arte tem esse papel de trazer um afeto que talvez as pessoas estejam precisando mais do que nunca. Ent�o, todas as coisas que a gente enxerga como empecilhos, o coronav�rus, a crise econ�mica e o governo que n�o investe na arte, na verdade s�o motivos para produzir cultura.” 

BRASA – O FILME
De Marcelo Perdido e Bruno Graziano. Com depoimentos de Luiza Lian, Anelis Assump��o, Marcelo Jeneci, Tat� Aeroplano, Negro Leo, Rafael Castro, B�rbara Eug�nia, Nana e Jo�o Erbetta. Dispon�vel no YouTube (youtube.com/marceloperdido). Mais informa��es: marceloperdido.com.br/brasa-filme.


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