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Estado de Minas LITERATURA

Pequenas editoras brilham em pr�mios, mas lutam para sobreviver

Patu� tem cinco t�tulos no Oceanos, mas corre o risco de fechar sua livraria. Reformat�rio faz 'vaquinha' para fechar contas. Jorge Viveiros, da 7Letras, destaca 'resist�ncia heroica'


29/08/2020 04:00

"Vi 80% das minhas receitas ca�rem, a campanha (de crowdfunding) foi uma sa�da para quitar d�vidas e seguirem frente"

Marcelo Nocelli, s�cio-editor da Reformat�rio

Dedicado � literatura em l�ngua portuguesa, o Pr�mio Oceanos divulgou os54 semifinalistas da edi��o deste ano. Trinta e sete livros s�o brasileiros, comprovando novamente a relev�ncia da produ��o de autores do maior pa�s lus�fono do mundo. A lista revela um outro detalhe: apesar da crise e das dificuldades impostas sobretudo pela pandemia da COVID-19, as editoras menores se destacaram com grande n�mero de indica��es.

Fundada h� 11 anos, a paulista Patu�, por exemplo, teve cinco livros indicados: As solas dos p�s de meu av�, de Tiago D. Oliveira (poesia), Cerra��o, de Alexei Bueno (poesia), Contos de antes, de Ana Vargas (contos), Monstru�rio de fomes, de Ruy Proen�a (poesia), e V�spera: debris, de Pedro Mohallen (poesia). Apenas um a menos do que a gigante Companhia das Letras, que concorre com Essa gente, de Chico Buarque, entre outros t�tulos, e dois a mais do que a Record, estabelecida desde os anos 1940 como um dos principais grupos editoriais da Am�rica Latina.

Respons�vel pela Patu�, Eduardo Lacerda diz que livro “� um trabalho de longo prazo”. De acordo com ele, lan�ar obras � mais importante do que a indica��o a grandes premia��es – a presen�a nelas � apenas consequ�ncia do trabalho benfeito, acredita.

"Com pequenas livrarias e editoras fazendo vendas diretamente, � poss�vel encontrar a poesia contempor�nea, o autor ainda desconhecido. Esse tem sido o caminho"

Jorge Viveiros, editor da 7Letras


POTENCIAL 
Lacerda destaca que al�m dos cinco t�tulos indicados ao Oceanos, h� 145 lan�amentos recentes da Patu� com grande potencial de conectar literatura e p�blico. Observa que, simbolicamente, participar de pr�mios � um reconhecimento importante e inspirador sobre o trabalho da editora, especialmente em um momento complicado para o setor.

Lidar com adversidades sempre fez parte da rotina de editoras de menor porte, lembra Eduardo Lacerda. “Mesmo antes da crise das grandes livrarias, como a Saraiva e a Cultura, eu j� achava a forma de trabalho injusta. Antes de a Amazon aparecer, a Patu� j� tinha seu e-commerce. Por ser pequena, temos custos baixos, selecionamos melhor os livros e por isso conseguimos crescer no meio da crise. Come�amos com 12 t�tulos por ano, em 2011, e agora s�o 150, com 1.100 em cat�logo”, informa.

A crise mercadol�gica n�o afeta a qualidade do que � lan�ado, afirma. “O Brasil sempre teve produ��o liter�ria muito rica. Somos criativos, e isso a crise n�o abala. Crise abala a capacidade de acesso, frui��o de bens culturais. Menos gente vai ao teatro e menos gente compra livro, mas os artistas continuam produzindo”, argumenta Lacerda.

Por�m, o momento complicado para a economia pode afetar o empreendimento que a Patu� mant�m em S�o Paulo, o Patuscada Bar e Livraria. “Estamos fechados desde mar�o e conseguimos segurar at� dezembro. Se n�o tiver solu��o depois, vamos fechar e focar na venda digital, mas n�o seria o ideal. O presencial faz muita falta. Durante a pandemia, a venda on-line aumentou, mas a venda total fica menor sem as opera��es presenciais”, afirma Lacerda

A impossibilidade do “corpo a corpo” trouxe cen�rio ainda mais grave para outras editoras, como a paulista Reformat�rio, fundada em 2013. Com trajet�ria consolidada em grandes premia��es, ela emplacou o romance A casa das aranhas, de M�rcia Barbieri, entre os t�tulos semifinalistas do Oceanos. A empresa pede ajuda ao p�blico para se manter, por meio de campanha de financiamento coletivo.

Marcelo Nocelli, s�cio-editor da Reformat�rio, destaca que a atividade nunca foi f�cil, mas a suspens�o de eventos presenciais, como lan�amentos e feiras liter�rias, impactou o neg�cio a ponto de amea�ar seriamente sua continuidade.

“J� hav�amos nos afastado das grandes livrarias, optando por trabalhar com as menores. Dependemos muito dos eventos, que n�o est�o acontecendo na pandemia. Um lan�amento on-line, em live, n�o vende como o presencial, pois quem vai ali se sente quase na obriga��o de comprar. Muitas livrarias pequenas est�o em dificuldades neste per�odo. Vi 80% das minhas receitas ca�rem, a campanha foi uma sa�da para quitar d�vidas e seguir em frente”, explica.

A campanha Reformat�rio de port�es abertos, dispon�vel na plataforma Benfeitoria (www.benfeitoria.com/
reformatorio), recolhe doa��es em troca de recompensas proporcionais. J� foram arrecadados R$ 33,6 mil, diz Nocelli.

“A campanha mostrou o quanto somos queridos, tanto pelo apoio financeiro quanto pelos compartilhamentos. � o reconhecimento do nosso trabalho de apresentar novos nomes da literatura brasileira. Come�amos em 2013 e sempre estamos nos grandes pr�mios”, afirma, citando o romance A imensid�o �ntima dos carneiros, de Marcelo Maluf, vencedor do Pr�mio S�o Paulo de Literatura em 2016.

“� o meu livro mais vendido at� hoje. O Marcelo Maluf, na �poca, tentou lan��-lo nas grandes (editoras) e n�o conseguiu. N�s apostamos nele. Esse tipo de aposta s� as pequenas fazem”, destaca.
Se as editoras menores t�m reconhecimento por parte das premia��es, Nocelli lamenta a concorr�ncia da gigante multinacional do com�rcio virtual. “A Amazon vende meus livros mais baratos do que eu. Tem gente que vai � livraria, pede o sinal de wi-fi, escolhe na estante de l�, mas compra on-line pela Amazon”, reclama.

Impostos
 De acordo com o editor, propostas de aumento de impostos sobre os livros, como a apresentada pelo governo Jair Bolsonaro, dificultam a atividade das pequenas editoras.

“A margem que temos j� � muito pequena, e as pessoas acham o livro muito caro, pois n�o � considerado produto de primeira necessidade. A taxa��o proposta de 12% tornaria o nosso neg�cio invi�vel, essa margem � o que sobra atualmente para a gente”, argumenta Marcelo Nocelli.

Ele defende o projeto de lei que estipula pre�o fixo para o livro, parado no Congresso desde 2014, como uma forma de equilibrar a concorr�ncia, ao estabelecer valor m�nimo para cada t�tulo no mercado.

Criada nos anos 1990, a carioca 7Letras teve cinco indica��es entre os semifinalistas do Pr�mio Oceanos. Jorge Viveiros, que comanda a editora, come- mora. “� sempre legal ter esse aval. � um reconhecimento do trabalho, que envolve escolha dos t�tulos, curadoria, tudo feito com muito cuidado e muita dificuldade, com tantas livrarias fechando. Sempre procuramos trabalhar com a poesia nacional, com artistas iniciantes, e � importante essa visibilidade”, afirma.

Viveiros destaca que, mesmo enfrentando dificuldades comerciais, o papel fundamental das pequenas de projetar novos autores e autoras faz com que elas sobrevivam.

“As crises s�o circunst�ncias de transforma��o. Antes, era preciso uma editora enorme e com grande tiragem para entrar nas grandes livrarias, que configuravam o principal canal de distribui��o. Mas elas quebraram. Hoje, h� a venda pela internet direto com a editora, h� a possibilidade, por meio da tecnologia, de tiragens m�nimas bem menores. Livros menos comerciais se tornaram mais vi�veis hoje em dia”, detalha Jorge Viveiros.

APOSTA 
O experiente editor afirma que a crise provocada pela pandemia � a mais grave de todas, exigindo intensos esfor�os para super�-la. A aposta em produ��es que n�o interessam �s grandes editoras � o que mant�m o neg�cio, explica.

“Talvez a crise tenha acelerado uma transforma��o que j� estava em andamento, a abertura de espa�o para livrarias de nicho. As grandes livrarias, os modelos tradicionais, s� viam n�meros, n�o viam literatura”, comenta. “Com pequenas livrarias e editoras fazendo vendas diretamente, � poss�vel encontrar a poesia contempor�nea, o autor ainda desconhecido. Esse tem sido o caminho. Para fazer um livro comercial, eu n�o sou necess�rio. O que procuro � ser �til para a literatura”, afirma o coordenador da 7Letras.

“Nossa resist�ncia � heroica, � uma luta grande, nem sempre reconhecida. Os pr�mios ajudam a destacar isso, mas nosso grande pr�mio � fazer o novo autor chegar ao leitor”, conclui Jorge Viveiros.

Cinco  mineiros no oceanos

Entre os semifinalistas do Pr�mio Oceanos, cinco autores s�o de Minas Gerais: Bruno Brum, com Tudo pronto para o fim do mundo (Editora 34, categoria romance); Pedro Mohallen, com V�spera: Debris (Patu�, poesia); Jos� Rezende Jr., com A cidade inexistente (Editora 7Letras, romance); Luiz Ruffato, com O ver�o tardio (Companhia das Letras, romance); e Ana Vargas, com Contos de antes (Patu�, contos).

Concorreram 1.872 livros de autores de 11 nacionalidades. A lista de semifinalistas tem 22 romances, 22 livros de poesia, cinco de contos e cinco de cr�nicas.

O J�ri Intermedi�rio, que, entre agosto e novembro, vai analisar os semifinalistas para eleger os 10 finalistas, � composto pelos portugueses Clara Rowland (escritora e professora), Gustavo Rubim (professor e cr�tico liter�rio) e Isabel Pires de Lima (professora e cr�tica liter�ria); pelo mo�ambicano Nataniel Ngomane (professor e cr�tico liter�rio); e pelos brasileiros Ana Paula Maia (escritora), Edimilson Pereira de Almeida (poeta e professor) e Jos� Castello (escritor e cr�tico liter�rio).

O J�ri Final vai analisar os 10 finalistas, entre novembro e o in�cio de dezembro, para eleger os tr�s vencedores. Ele re�ne os portugueses Joana Matos Frias (professora, escritora e tradutora) e Carlos Mendes de Sousa (professor); o angolano Ondjaki (escritor); a santomense Inoc�ncia Mata (professora e cr�tica liter�ria); e os brasileiros Ang�lica Freitas (poeta), Jo�o Cezar de Castro Rocha (professor) e Viviana Bosi, professora.

Os jurados trabalhar�o em sistema remoto, por causa do confinamento social imposto pela pandemia. O primeiro colocado receber� R$ 120 mil, o segundo, R$ 80 mil, e o terceiro, R$ 50 mil.  


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