
Al�m da entrevista de Bueno com o jornalista Jos� Eduardo Gon�alves, criador do projeto, haver� leitura de textos de Nava pelo ator Odilon Esteves. Os eixos selecionados foram trabalhados pelo professor em sua tese de doutorado “V�sceras da mem�ria”, defendida na Faculdade de Letras da universidade e publicada pela Editora UFMG em 1997.
S�CULO 20
Considerado o grande memorialista brasileiro, Nava publicou, a partir de 1972, sete volumes (o �ltimo deles p�stumo), que acompanham n�o somente sua vida e a dos que lhe eram pr�ximos, mas tamb�m o ambiente social, pol�tico e cultural do Brasil na primeira metade do s�culo 20. “Ele trabalha muito com o espa�o, Juiz de Fora (onde nasceu), Belo Horizonte (onde se graduou e come�ou a exercer a medicina) e Rio de Janeiro (onde viveu a maior parte da vida)”, diz Bueno.
No primeiro livro, Ba� de ossos (1972), Nava fala, de acordo com o professor, “do pobre homem dos matos das Minas Gerais”, a narrativa se concentra em seus ancestrais. Ch�o de ferro (1976), t�tulo tirado do verso do amigo Carlos Drummond de Andrade, � tamb�m sobre Minas. “A primeira palavra de Beira-mar (1978) � 'ponto'. Em entrevista a Geraldo Magalh�es publicada no Estado de Minas, Nava disse: ‘Sou um sujeito do Bar do Ponto’. Ou seja, era um sujeito definido pelo espa�o”, observa Bueno.
O corpo, na an�lise do professor, tem rela��o com sua atividade na medicina. “Nava � um m�dico que passou a escrever sobre a mem�ria n�o porque se cansou da medicina, mas porque a medicina o deixou. Quando os sentidos do corpo come�aram a perder for�a, ele partiu para a escrita. Como m�dico, ele s� adiava a morte um pouquinho. J� a escrita tem perenidade maior, hoje vemos como a obra vence a morte.”
Por sua vez, a figura��o vem de outra natureza. “Ele foi pintor e um caricaturista fant�stico”, comenta Bueno, que se encontrou quatro vezes com Pedro Nava. Em uma delas, durante uma aula na Faculdade de Letras, Nava revelou que tinha dois arrependimentos. “Um era ter deixado a cl�nica m�dica para se tornar reumatologista. O segundo, ele disse, ‘era ter deixado a minha cidade, onde deveria ter crescido e envelhecido’”, acrescenta Bueno, referindo-se a Belo Horizonte.
“Na verdade, ele tem tr�s cidades. Belo Horizonte � a dos anos decisivos, ele chega aqui aos 17 anos. Quando voltou, nos anos 1970, ele foi catando a cidade do tempo dele. Mas quando volta para o passado, n�o � para uma coisa morta. Ele quer manter o passado vivo. Existe um conceito em pintura que se chama pentimento, ele � interessante para pensar a rela��o de Nava com Belo Horizonte. Pentimento, que vem de arrependimento, � quando se pinta outra coisa em cima da anterior. Tem v�rias camadas de cidades superpostas na obra de Pedro Nava”, conclui Ant�nio S�rgio Bueno.
LETRA EM CENA
Nesta ter�a-feira (1º/9), �s 20h, com o professor de literatura Ant�nio S�rgio Bueno, no canal do YouTube do Minas T�nis Clube (youtube.com.br/minastcoficial)