
Para enfrentar o monumento representado pelas Varia��es uma das pe�as mais dif�ceis do repert�rio pian�stico, por sua grande variedade de estilos, Lang Lang se aproveitou de seu passado de crian�a prod�gio.
"Toquei muito Bach quando era pequeno", lembra, apoiado em um Steinway, em um grande hotel em Pequim. Lang Lang j� tocava as 30 Varia��es "aos 10 anos" e as sabia de cor sete anos mais tarde. "Memoriz�-las n�o foi t�o dif�cil, porque comecei cedo", comenta. Mas da� a ousar grav�-las...
"Levei 27 anos para estar preparado", diz, rindo. "Nunca trabalhei em uma pe�a por tanto tempo." � que t�cnica � uma coisa, mas apropriar-se da m�sica, torn�-la sua, � outra. "Esperei anos para conhecer melhor a pe�a. Quando comecei a grav�-la, morria de medo e gravava outra coisa. Se eu n�o sinto que uma obra se torna parte de mim, se eu n�o a entendo completamente, n�o me sinto confort�vel em grav�-la."
O �lbum, distribu�do pela Deutsche Grammophon � composto de duas partes. Uma vers�o de est�dio e uma vers�o de concerto, gravada em mar�o passado, na Igreja de St. Thomas em Leipzig, feudo de Johann Sebastian Bach, onde o compositor alem�o est� sepultado. Dura��o recorde do concerto (tocado sem partitura, � claro): 95 minutos.
Nascido em Shenyang (Nordeste da China) em 1982, Lang Lang fez seu nome com os grandes compositores rom�nticos. Mas, para ele, Bach (1685-1750) � o mais adequado para o nosso tempo, abalado pela epidemia do coronav�rus.
REM�DIO
"A m�sica � um bom rem�dio nestes tempos particulares. Bach, comparado a outros grandes compositores, tem um poder de cura ainda maior", afirma. Lang Lang conta que durante a pandemia, voltou a estudar “algumas das grandes pe�as rom�nticas que n�o tocava h� algum tempo: Rachmaninov, Tchaikovsky” e conclui: “Minhas m�os n�o ficaram geladas".
Ele n�o revela o valor do seguro por suas m�os. "� rid�culo, muito caro", diz. "Aquilo de que mais sinto falta s�o os palcos", comenta o pianista, que fazia pelo menos 90 concertos por ano, em todo o mundo. Neste 2020, teve que cancelar mais de 70 apresenta��es. "Espero a vacina, para tomar e viajar."
O menino que ensaiava entre seis e 10 horas por dia hoje n�o toca piano por mais de duas horas, e o divide com sua esposa, a pianista alem� Gina Redlinger. O casal celebrou seu casamento no ano passado, no Pal�cio de Versalhes, e comprou uma casa em Paris.
"Amo essa cidade. Pode n�o ser a mais importante para a m�sica cl�ssica, em compara��o com Berlim ou Viena, mas Paris tem um sentido art�stico maior", afirma. "Um dia, estava tocando Chopin olhando para sua casa na Place de Vend�me e disse a mim mesmo: � aqui que ele comp�s algumas m�sicas, � o mesmo ambiente, a mesma lua...", conta.
Lang Lang, como milh�es de crian�as chinesas, foi pressionado pelos pais para se tornar um �s do piano. Agora, promete n�o repetir a experi�ncia com os filhos. Embora possa acabar fazendo isso... "Se ele ou ela quiser ser pianista, vai ter que trabalhar duro. N�o sei se vou for��-los a fazer isso ou n�o. N�o quero briga", diz.
Mas fora de cogita��o que toquem outro instrumento. "Eu tamb�m gosto de violino, mas o piano � o melhor que h�." Comparado a atletas de alto n�vel, o artista diz que tem sorte de ainda estar longe da aposentadoria: "Quando vejo (o italiano Maurizio) Pollini (de 78 anos) ou (o argentino Daniel) Barenboim (de 77), que continuam tocando... Sou s� um beb�!"