
Procurar uma defini��o �nica que explique Ana Frango El�trico � uma tarefa ingrata. Multifacetada, ela hoje veste a camisa de cantora e compositora, mas j� atuou em outras �reas, como as artes pl�sticas. Aos 22, ignorando esses r�tulos, para ela j� ultrapassados, Ana Frango El�trico inaugura uma nova seara de sua produ��o art�stica com a chegada do livro Escoliose: paralelismo mi�do, pelo selo Edi��es Garupa.
H�brida, a obra traz posf�cio da ensa�sta e escritora Helo�sa Buarque de Holanda e projeto gr�fico de Daniel Rocha. No recheio, apresenta uma sele��o de poemas, ilustra��es e gravuras autorais, que ajudaram Ana a se aprofundar no pr�prio processo de cria��o.
“Eu tenho um racioc�nio muito conjunto entre os campos em que atuo. Quando penso no meu trabalho musical, tenho um pensamento gr�fico, subjetivo e conceitual, por exemplo”, diz ela. “Gosto que as esferas se complementem. Dentro da minha poesia tem muito de m�sica, de ritmo, de cor. O meu objetivo talvez seja alcan�ar uma sinestesia entre todas essas �reas.”
Ao longo das 88 p�ginas, concebidas nos �ltimos quatro anos, a artista oferece uma nova perspectiva sobre um trabalho baseado em percep��es cotidianas e explora o “paralelismo mi�do”, subt�tulo que se encaixa tamb�m na po�tica bastante particular presente em seu disco de estreia, Morma�o queima (2018).
“� a minha maneira de entender e de brincar com a poesia”, afirma. “Acontecimentos paralelos e rela��es insuspeitas norteiam toda a minha produ��o. Ent�o eu tento observar esses opostos, essas luzes e essas sombras”, ela explica, mas acrescenta que, para entender o conceito, � preciso ler o livro.
SOM
M�sica e literatura tamb�m se misturam, de certa forma, naquilo que motiva Ana Frango El�trico a escrever: “O som das palavras”, conforme diz. Ela conta que nunca foi uma leitora voraz. Na inf�ncia, “gostava de bola de futebol'”. Mas, num determinado momento, viu-se diante de um livro do poeta Salgado Maranh�o e se encantou pelos versos de Doidonauta.
“Ali eu pensei: 'Acho que posso gostar de poesia'. Gostava muito do verso em que ele diz 'galo sideral a zen milhas milharando estrelas doidonauta'. Esse poema me marcou muito, e eu descobri que a poesia poderia ser o meu tipo de literatura. N�o leio muito, porque acabo me distraindo. Mas poesia � o que eu mais leio, ent�o me vi motivada a escrever.”
Foi com essa mesma imprecis�o e despojamento que Ana lan�ou, h� aproximadamente um ano, o disco Little electric chicken heart (2019), que a al�ou a um outro patamar na m�sica autoral brasileira. Surreal e ecoando tropicalismo, o trabalho rendeu � artista o pr�mio APCA na categoria Revela��o da m�sica popular.
RELEV�NCIA
Olhando em perspectiva, ela entende que a repercuss�o que o disco teve � fruto de um esfor�o particular que ela dedicou a ele. “Eu tinha a inten��o de que esse trabalho fosse relevante. E o fiz ao lado de muitas pessoas incr�veis que j� estavam comigo em outros momentos da minha carreira. Tenho muito orgulho dele, mas tamb�m quero fazer outras coisas depois dele, explorar novos terrenos.”
Pouco antes de ter a agenda suspensa em raz�o da pandemia do novo coronav�rus, ela se apresentou em Belo Horizonte, no palco do Sesiminas, em 12 de mar�o passado. Na ocasi�o, Ana Frango El�trico subiu ao palco sozinha para interpretar as can��es de seu trabalho mais recente.
“Estive em BH duas vezes, uma com banda e outra sozinha. Da �ltima, foi muito colado com o in�cio de todo esse caos que a gente est� vivendo hoje. As lembran�as que tenho desse show s�o �timas, principalmente porque era um formato mais intimista, ent�o � interessante acompanhar a rea��o das pessoas de perto.”
Desde ent�o, Ana fincou ra�zes no Rio de Janeiro e tem conseguido dar vaz�o � sua criatividade. At� o fim do ano, ela pretende lan�ar dois singles feitos durante a quarentena. “S�o m�sicas que criei diante das dificuldades da quarentena. � um momento dif�cil para todo mundo, ent�o tenho pensado neste ano como uma esp�cie de portal.”
Portal para onde ela deve se transportar num pr�ximo trabalho, revelando um pouco mais do “DNA geracional” apontado por Helo�sa Buarque de Holanda no posf�cio de Escoliose.
TRECHO
se eu roubei
o creme de ruga de minha m�e
foi porque
ainda n�o descobrimos os males do wifi
4g ou internet
o biscoito fedorento
e a depila��o a laser
kids
don’t like
poems
and i don’t know
se teremos �gua no calor
ou
brigas
no supermercado
pelo pre�o da batata
ou
tamanho do chuchu
a on�a pintada e o
lobo
guar�
v�o ser clonados no sert�o
sou jovem e sobrevivi a dois mitos
rom�nticos
e um tes�o conex�o

ESCOLIOSE: PARALELISMO MI�DO
• Ana Frango El�trico
• Edi��es Garupa
• R$ 40
• Mais informa��es: leiagarupa.com/anafrangoeletrico