
Tom Holland, o Homem-Aranha no universo cinematogr�fico da Marvel, e Robert Pattinson, famoso pela saga Crep�sculo e dono do papel principal no aguardado The Batman, s�o duas das figuras mais populares da nova gera��o de astros de Hollywood.
Em O diabo de cada dia, que estreia na Netflix nesta quarta-feira (16), eles aparecem juntos em uma trama na qual her�is e bons mo�os n�o t�m vez. Sob dire��o e roteiro de Antonio Campos, filho do jornalista brasileiro Lucas Mendes Campos, o filme � uma adapta��o do romance O mal nosso de cada dia, de Donald Ray Pollock, lan�ado em 2011. Morte, viol�ncia e f� s�o os principais ingredientes do roteiro.
Com narra��o do pr�prio Pollock, a hist�ria se passa em 1965, no interior dos estados de Ohio e Virg�nia, nos Estados Unidos. A escolha dos lugarejos � fundamental para ressaltar a din�mica das conex�es sociais entre popula��es pouco numerosas, nas quais todo mundo se conhece ou tem alguma liga��o familiar. S� que aqui isso se d� de maneira tr�gica.
A figura central � Arvin Russell, personagem de Holland. Ele � um jovem que terminou a educa��o b�sica h� pouco tempo e tenta se virar enfrentando a falta de perspectivas na regi�o. A narrativa, na verdade, recua at� alguns anos antes, quando seu pai (interpretado por Bill Skarsg�rd), um veterano da Segunda Guerra Mundial, atormentado por uma experi�ncia traum�tica no campo de batalha, retorna ao pa�s e conhece aquela que seria sua m�e.
Desde esse momento inicial, f� e morte se cruzam sistematicamente, especialmente para o protagonista, que convive duramente com as duas desde cedo.

ROTINA
Em 1965, sua rotina se divide entre ajudar a av� a pagar as contas da casa onde vive e proteger a irm� mais nova e de cria��o Lenora (Eliza Scanlen) do violento bullying dos colegas de escola. Sua fam�lia est� inserida em um contexto social extremamente religioso no qual aparece o personagem de Pattinson, o Reverendo Preston, um pastor charlat�o e ped�filo que assume a igreja local.
Apesar de sua alta dose de perversidade, Preston n�o � o �nico vil�o da hist�ria. Nessa mesma regi�o atua o serial killer Carl Henderson (Jason Clarke), que ataca suas v�timas ao lado da esposa, a prostituta Sandy Henderson (Riley Keough), que, por sua vez, � irm� do xerife Lee Bodecker (Sebastian Stan). O homem da lei, no entanto, � envolvido com g�ngsteres e pretende se eleger a um cargo pol�tico na regi�o.
Com todas esses personagens de alguma forma conectados, a trama mostra o que pode haver de pior nos seres humanos, tanto movidos pela f� quanto pelo �dio e o desejo de vingan�a. Pattinson, que aparece apenas em um trecho do filme, apesar de sua import�ncia no desenrolar dos acontecimentos, j� foi visto em pap�is sombrios anteriormente, como em Bom comportamento (2017) e O farol (2019).
J� Holland encontrou em Arvin seu papel mais soturno at� aqui. Ele at� tenta viver em paz, mas acaba consumido por essa configura��o m�rbida estabelecida ao seu redor. “Ele � definitivamente o lampejo de luz neste filme, no sentido de que est� sempre tentando fazer a coisa certa. Acontece que, neste longa, fazer a coisa certa significa matar algu�m”, afirmou o ator de 24 anos ao di�rio brit�nico The Guardian.
Holland comentou tamb�m sobre sua rela��o com o diretor, nascido nos EUA, mas de fam�lia brasileira. “Tive que confiar muito em Antonio, porque esse n�o � o tipo de filme que eu costumava fazer no passado.” Ele admitiu que o ineditismo da experi�ncia o deixou “muito nervoso e com medo de ir ao set pela primeira vez”.
Por tr�s desses sentimentos, havia a inseguran�a em rela��o a um papel t�o dram�tico. “Eu n�o sabia que tinha condi��es de interpretar esse tipo de personagem. Tive muita sorte de ter o elenco que tive para me apoiar e ter Antonio como diretor e capit�o do navio. Tive que ir a lugares mentalmente que eu n�o sabia que poderia ir ou acho que nunca iria querer ir novamente”, comentou o ator.
Ainda que n�o seja “uma pessoa ruim”, como diz acreditar em uma das cenas mais importantes, o protagonista, que convive com brutalidades desde a inf�ncia, � capaz de matar a sangue-frio e ser extremamente violento para defender sua irm�.
Apesar disso, n�o se trata de um filme de terror ou de grandes tens�es para quem assiste. A explora��o da mis�ria humana ao extremo tem um contorno mais dram�tico, com trilha sonora alegre e agrad�vel em alguns momentos, o que abriu precedente para uma parcela da cr�tica internacional avaliar que o filme aborda a viol�ncia de maneira problem�tica.
Tim Grierson, do Screen, escreveu que “o thriller sombrio de Campos para a Netflix � uma cavalgada de mau comportamento disfar�ado como coment�rio sobre masculinidade t�xica e moralidade ‘fa�a-o-que-deve-ser-feito”.
J� Owen Gleiberman, da Variety, disse que “O diabo de todo dia nos mostra muitos comportamentos ruins, mas o filme n�o est� realmente interessado no que faz os pecadores agirem. E sem aquela curiosidade sinistra, � apenas uma s�rie de aulas da Escola Dominical: um noir que quer limpar a escurid�o”.
GERA��ES
O cineasta, contudo, defende a proposta cinematogr�fica que come�a e termina com algum tipo de refer�ncia � participa��o dos EUA em guerras. Em entrevista � Esquire, Antonio Campos afirmou: “Para mim, � uma hist�ria geracional sobre a maneira como passamos tantas coisas aos nossos filhos. Arvin tinha um pai que sofria de PTSD (s�ndrome de estresse p�s-traum�tico) e nunca foi diagnosticado ou tratado. Ent�o, ele herdou essa rela��o muito complicada com a religi�o e dependia da viol�ncia para resolver seus problemas”.
O diretor citou ainda que, no desenrolar do filme, “voc� entende que a personagem Sandy est� ligada ao xerife Lee Bodecker e que seu pai os abandonou cedo, deixando-os com uma vis�o de mundo muito sombria. Lenora � um produto da rela��o de sua m�e e seu pai com a religi�o, e por isso � essa ideia de uma hist�ria geracional, mas no g�nero do g�tico sulista e noir”.
Antonio Campos, que anteriormente dirigiu Depois da escola (2008), Simon assassino (2012) e Christine (2016), dividiu a adapta��o do roteiro com o irm�o Paulo Campos. O filme ser� exibido com exclusividade no cat�logo da Netflix.
O diabo de cada dia
De Antonio Campos. Com Tom Holland e Robert Pattinson. EUA (2h18). A partir desta quarta (16), na Netflix.