
O projeto foi dirigido pelos diretores de teatro Marcelo Castro e Vinicius de Souza, e de v�deo e cinema Pablo Lobato. O filme registra o empenho dos atores Eduardo Moreira, In�s Peixoto, Lydia Del Picchia, Teuda Bara, Antonio Edson, Paulo Andr� e J�lio Maciel, que continuaram exercendo o of�cio teatral em meio � quarentena, utilizando suporte digital.
Em exibi��o at� a meia-noite de 4 de outubro, o m�dia-metragem pode ser visto gratuitamente pelo YouTube. O nome do filme, �ramos um bando, deriva do poema Crepuscular, do poeta Paulo Henriques Britto, cujo texto diz que “nosso tempo � pouco, que toda palavra j� foi dita e h� que ser dita outra vez”.
Vinicius conta que ele e Marcelo come�aram um processo com o Galp�o para dirigir uma pe�a que j� vinha de um experimento que eles haviam feito quando selecionaram uma s�rie de poemas da nova poesia brasileira, de poetas contempor�neos vivos. “Tratava-se de levar essas poesias para cena, pensar como poderiam habit�-la. Mostramos esse experimento ao p�blico no ano passado e tivemos bom retorno. Resolvemos dar sequ�ncia ao projeto e come�amos a criar e produzir o espet�culo.”
O diretor lembra que o grupo resolveu ent�o seguir com o espet�culo e a pesquisa. “O nome dele � Quer ver escuta, fazendo refer�ncia a um dos poemas que selecionamos e estavam sendo performados em cena. No primeiro momento, procuramos entender qual era a situa��o, pois n�o sab�amos quanto tempo duraria o isolamento social.”

Ele ressalta que os diretores e atores pensaram em alguma maneira de dar sequ�ncia ao projeto. “Pensamos como poder�amos manter criativamente o trabalho, mas que n�o fosse por via presencial, utilizando elementos e recursos que j� est�vamos pesquisando em salas de ensaio. Deixamos claro para a Secretaria Municipal de Cultura, que havia nos convidado para fazer um espet�culo virtual, de que n�o se tratava da estreia de Quer ver escuta. Ent�o, resolvemos chamar o Pablo Lobato, que � diretor de cinema, porque sab�amos que ir�amos precisar de algu�m que entendesse mais de audiovisual.”
Vinicius detalha que atores e diretores come�aram ent�o uma din�mica que era fazer ensaios virtuais. “Neles, come��vamos a testar as poesias, pois era um primeiro momento no qual os atores estavam experimentando a linguagem virtual. N�o sab�amos se era teatro, cinema, videoarte ou material para a internet. Est�vamos todos entendendo um pouco essa linguagem.”

No decorrer do processo, o diretor relembra que o grupo foi entendendo que se tratava de um document�rio. “Uma esp�cie de cr�nica, um retrato do nosso tempo. Vimos que, mais do que tentar finalizar ou acabar algum trabalho a partir dos poemas, aquilo poderia estar junto de um retrato da experi�ncia real que todos n�s est�vamos vivendo. Ali�s, n�o somente n�s, mas uma s�rie de outros grupos. Fomos entendendo, ao longo do tempo, que seria feito um filme, por�m n�o sab�amos se seria curta ou longa, mas acabou como m�dia-metragem.”
�ramos um bando retrata, segundo Vinicius, o que � o grupo, que tem quase 40 anos de trabalho coletivo, presencial, uma longa hist�ria. “O filme mostra como � o Galp�o e seus atores, que t�m mais de 50 anos, como � estar frente a uma pandemia, a imposi��o de ter que se expressar e comunicar atrav�s de uma m�dia virtual que, para muitos, era algo novo, que � conversar com uma c�mera e o encontro atrav�s das plataformas.”
DESCOBERTAS
Vinicius ressalta que o forte do document�rio foi conseguir fazer um retrato desse momento. “Est� todo mundo engatinhando, descobrindo algo. E essa descoberta, obviamente, tem encantos, emo��es, mas tamb�m durezas, dificuldades e trope�os. Ent�o, � um filme que tamb�m n�o tem nenhum intuito de esconder os fracassos, surpresas e encantos deste momento que estamos vivendo, que � transit�rio e novo pra todos. Falo isso no campo da linguagem, com os atores experimentando algo novo. Estavam todos acostumados com o teatro de rua, um contato forte com as pessoas e a cidade e, de repente, t�m que trabalhar frente a uma c�mera.”
Segundo o diretor, na grava��o dos ensaios, outros temas foram aparecendo, sobretudo aqueles que n�o dizem respeito t�o somente aos artistas, mas ao contexto do mundo. Vinicius ressalta que o lan�amento do document�rio significa tanto para os diretores quanto para o Galp�o uma obra para gerar motiva��o, esperan�a e resist�ncia para o nosso tempo. “Para n�s, o filme tem esse significado, um desejo de nos mantermos de p� e desejosos da cria��o, mesmo em tempos t�o sombrios, no sentido sanit�rio, social e pol�tico. Ele � tamb�m o nosso grito de sobreviv�ncia e resist�ncia.”
�RAMOS UM BANDO
Filme document�rio com o Grupo Galp�o.
Estreia nesta segunda-feira (21), �s 19h, com transmiss�o gratuita pelo YouTube (www.youtube.com/grupogalpao).
Do desespero a novas formas de express�o e contato

Lydia lembra que o Galp�o decidiu ent�o tentar trabalhar virtualmente. “Seria um trabalho at� quando volt�ssemos, pois o espet�culo tinha que estar aquecido, para n�o come�armos novamente da estaca zero, e poder estrear o mais r�pido poss�vel. A primeira tentativa foi de nos mantermos coletivamente conectados ao espet�culo e at� mesmo para fazer algum ensaio. Ach�vamos que conseguir�amos ensaiar pela plataforma Zoom, mas n�o era t�o f�cil quanto nos parecia.”
A atriz conta que foram muitas as dificuldades. “Esse primeiro momento foi ca�tico, porque havia atores que n�o tinham a menor intimidade com o computador. Ent�o, �ramos em bando � o registro daquele momento e acho que esse � o grande m�rito dele. Ele nos pegou num primeiro contato com as plataformas, tentando ainda manter algo que ach�vamos que poderia voltar a ser normal.”
Lydia ressalta que o document�rio � um rastro do que eles estavam fazendo e uma tentativa desesperada de eles entenderem o mundo virtual. “Quando percebemos que n�o conseguir�amos fazer um espet�culo, pensamos em convidar algu�m de audiovisual para nos ajudar a finalizar, porque n�o est�vamos conseguindo ir a lugar nenhum. Foi a� que o Marcelo e o Vinicius resolveram chamar o Pablo Lobato. “Quando ele viu o material, disse: ‘Voc�s n�o t�m um espet�culo, mas t�m um material incr�vel nas m�os, um filme document�rio’. E foi a partir da� que a coisa come�ou a se configurar como um filme que, a princ�pio, era uma tentativa de espet�culo. Com a chegada de Pablo, entendemos o que poderia ser feito com aquele material.”
DESAFIOS
Para a atriz, �ramos um bando � um retrato muito pr�ximo do que toda uma gera��o est� passando. “N�o s� uma gera��o, mas acredito que toda a classe art�stica passou por esse susto, essa inabilidade neste primeiro momento, que era lidar com uma plataforma que nos assustava e que nos fazia pensar que aquilo n�o tinha nada a ver com o teatro e que n�o ir�amos conseguir fazer. Era quase que uma barreira intranspon�vel, mas fomos percebendo que, obviamente, aquilo n�o substituiria o presencial, mas ver�amos que poderiam existir possibilidades de descobrirmos formas de express�o e contato.”
Lydia conta que o filme se desenvolve nesses momentos de desafios e descobertas. “Costumo dizer que � o ensaio sobre o desespero e o fracasso, porque o que mais fizemos foi fracassar nas tentativas. Quando decidimos que quer�amos fazer o registro, que ir�amos finalizar o trabalho, foi muito bom. � um registro intenso, porque nos encontr�vamos todas as tardes com exerc�cios, est�mulos e provoca��es. O filme � um registro disso tudo.”