
Com seis romances publicados, todos entre 1941 e 1964, Walter Campos de Carvalho (1916 - 1988) n�o figura entre os autores de obras mais extensas na literatura brasileira. Por�m, seus romances guardam aspectos bem peculiares, que ser�o assunto de encontro virtual na noite desta ter�a-feira (13), como parte do ciclo Letra em Cena, promovido pelo Centro Cultural Minas T�nis Clube.
"Quando recebi o convite, achei que seria bastante oportuno tratar de um autor n�o t�o conhecido, mas que merece uma releitura, pelo menos. Isso n�o significa que eu ache que ele � mais ou menos importante, mas que merecia esse olhar", afirma Rufatto.~
Dizendo-se apenas um leitor, e n�o um especialista na obra de Campos de Carvalho, Rufatto destaca a import�ncia de se deixarem de lado alguns r�tulos que, historicamente, associam ao surrealismo o autor de Banda forra (1941), Tribo (1954), Vaca de nariz sutil (1961), A chuva im�vel (1963), O p�caro b�lgaro (1964), al�m do mais conhecido, A lua vem da �sia, de 1956.
GAVETA
"Sinceramente, acho que quando se tenta colocar determinado autor numa determinada gaveta, como surrealismo ou naturalismo, empobrece-se a leitura. Esse conceito de que a ideia dele seja surrealista � bastante discut�vel, no meu ponto de vista. N�o sei quais par�me- tros poder�amos usar para de- terminar isso. A quest�o � que, pelo fato de a obra dele ser um tanto quanto estranha, quase sem nenhum parentesco com o resto da literatura brasileira, isso, sim, a fez ser mal compreendida, mal lida talvez."
Para Rufatto, "muito melhor do que cham�-lo de surrealista seria chamar a aten��o para que a obra dele seja lida sem nenhuma pr�-leitura ou preconceito, pois ela � importante justamente por abrir muitas possibi- lidades de interpreta��o".
Embora seja alvo de admira��o, tendo alguns de seus t�tulos sido adaptados para o teatro, como � o caso de A lua vem da �sia, que ganhou montagem capitaneada pelo ator Chico Diaz, em 2011, Campos de Carvalho sempre despertou m�ltiplas rea��es no p�blico e na cr�tica por sua escrita pouco convencional.
DESESPERO
"Talvez, o mais interessante nele hoje � a lite- ratura de desespero. � uma lite- ratura que n�o dialoga com a esperan�a. Ela tem um certo olhar de estupefa��o frente � realidade. � preciso lembrar que � uma obra escrita logo ap�s a Segunda Guerra Mundial, ap�s o advento da bomba at�mica e durante a Guerra Fria, quando n�s todos est�vamos sob a possibilidade imensa de que o mundo, de uma hora para ou- tra, acabasse", aponta o escritor convidado, que tra�a paralelos entre essa tem�tica e os acontecimentos atuais.
"� uma obra muito centrada nessa ideia de fim, de fim coletivo, que � um pouco o que vivemos hoje. Em 2019, ela seria contempor�nea, mas em 2020 � ainda mais. N�o s� pela COVID-19, que � uma circunst�ncia, mas porque novamente estamos experimentando essa conjun��o de for�as armamentistas, novamente vendo grandes pot�ncias redefinirem o mundo, sem que n�s, meros espectadores, saiba- mos o que vir�. Essa desespe- ran�a, descren�a e desespero s�o a t�nica da literatura dele."
O ator Glic�rio do Ros�rio far� leitura de textos de Campos de Carvalho. A conversa com Rufatto ser� conduzida por Jos� Eduardo Gon�alves, curador do Letra em Cena.
SEMPRE UM PAPO COM HUMBERTO WERNECK
O jornalista e escritor Humberto Werneck e o cronista Altamir Barros, idealizador do Memorial Carlos Drummond de Andrade, em Itabira, s�o os convidados do projeto Sempre um Papo, �s 18h desta ter�a-feira (13) . O tema da conversa � “Poesia de Drummond e Itabira”. Na quinta (15), no mesmo hor�rio, o convidado � Frei Betto, que apresenta o seu Di�rio de quarentena – 90 Dias em fragmentos evocativos, editado pela Rocco. A transmiss�o dos eventos � feita ao vivo, nos canais do Sempre um Papo no YouTube, Instagram e Facebook. O acesso � gratuito.