
As lives musicais fizeram sucesso durante uma parte da pandemia e arrebataram audi�ncias de milh�es de pessoas quando artistas famosos aderiram ao formato das transmiss�es ao vivo. No entanto, n�o foram o principal item do consumo cultural digital da popula��o brasileira durante o per�odo do isolamento social imposto pela chegada da epidemia do novo coronav�rus ao pa�s.
Segundo pesquisa realizada pelo Ita� Cultural e o instituto Datafolha, 84% dos entrevistados revelaram que ouvir m�sica na rede foi a principal atividade no per�odo de suspens�o dos eventos presenciais, enquanto 73% declaram assistir a filmes e s�ries. Shows, englobando os ao vivo e os gravados, apareceram em terceiro lugar, com 60% das respostas.
O levantamento ouviu, por telefone, 1.521 indiv�duos, de 16 a 65 anos, de todas as classes sociais, em todas as regi�es do pa�s, entre 5 e 14 de setembro passado. Na pergunta estimulada sobre que atividades culturais foram realizadas virtualmente, em casa, a leitura de livros digitais ainda foi mencionada por 38%, mesmo �ndice dos que mencionaram cursos livres como atividade realizada no per�odo.
Jogos eletr�nicos foram apontados por 34%, seguidos por webinars (32%), atividades infantis (28%), podcasts (26%), espet�culos de teatro (21%) e visitas a museus e exposi��es (17%), sendo que 5% n�o responderam.
Embora as lives, mesmo com o apelo que chegaram a ter, sobretudo nas apresenta��es dos grandes artistas sertanejos, n�o tenham liderado, Paulo Alves, gerente de pesquisa de mercado do Datafolha, destaca que o n�mero � bem significativo dentro da amostragem.
REVERBERA��O
Eduardo Saron, diretor do Ita� Cultural, ressalta ainda “uma correla��o entre aquilo que as pessoas consomem presencialmente e o quanto isso reverbera no mundo da internet”. Ele lembra que os dados s�o pr�ximos de amostragens sobre as atividades preferidas do p�blico fora da pandemia.
“Interessante � que, quando vamos para o consumo presencial, o item mais citado � o cinema. Natural, a meu ver, que esse h�bito do consumo presencial reverbere para o consumo na internet naquele eixo maior”, afirma Saron, que destaca tamb�m "a import�ncia da atividade presencial para alavancar a on-line, mas a for�a da on-line para alavancar a presencial no futuro”, j� que os novos resultados tamb�m mostram que o consumo digital “pode ter agu�ado e motivado essa possibilidade de volta com maior interesse por parte de quem n�o acessou atividade cultural nos �ltimos 12 meses”, segundo ele.
Contudo, em rela��o � inten��o de manter o consumo de cada atividade em formato virtual ap�s o fim da pandemia, os shows s�o o segmento que apresenta maior queda, de sete pontos percentuais.
Em rela��o a filmes e s�ries, por exemplo, a diferen�a foi de quatro pontos, lembrando que muitos t�tulos desse segmento s� podem ser assistidos em casa, por n�o serem lan�ados no cinema, como � o caso das atra��es originais da Netflix.
A necessidade de equipamentos e conex�o de qualidade para acessar atividades culturais digitais tamb�m escancara os abismos socioecon�micos do Brasil, mas est� claro tamb�m que a difus�o pela internet pode democratizar a cultura no pa�s.
“O que observamos foi que, ainda que o gap (de consumo entre as classes) n�o tenha sido apagado, de alguma forma entendemos que houve, pela pr�pria opini�o das pessoas, uma democratiza��o. Foi poss�vel para pessoas das classes C e D ter acesso a atividades culturais a que elas n�o tinham antes e talvez isso tenha aberto os olhos para essas possibilidade de acesso”, comenta Paulo Alves, sobre o fato de 67% dos entrevistados concordarem que houve democratiza��o do consumo cultural durante a pandemia para a popula��o de baixa renda.
Al�m disso, 56% declararam ter crescido seu interesse no consumo de atividades culturais, sendo que o �ndice de interessados em continuar a consumir cultura no p�s-pandemia praticamente � equivalente entre as classes.
Al�m disso, 56% declararam ter crescido seu interesse no consumo de atividades culturais, sendo que o �ndice de interessados em continuar a consumir cultura no p�s-pandemia praticamente � equivalente entre as classes.
SOLID�O
Em linhas gerais, o trabalho mostrou que 71% da popula��o brasileira acessou a internet todos os dias na pandemia, enquanto 7% n�o t�m acesso � rede mundial de computadores. Outro dado interessante � que 90% acessam a internet pelo telefone e apenas 10% por computador. “Isso denota tamb�m essa necessidade de o pa�s encarar um problema estrutural que n�o � s� acessar a internet, mas o acesso � banda larga, para que o desejo de continuar fazendo essas atividades, que est� evidente, possa ser acolhido”, observa Saron.
Al�m dos n�meros e indicativos relacionados ao consumo da cultura no pa�s, as estat�sticas revelam tamb�m a import�ncia do setor cultural para a sa�de mental da popula��o, sobretudo nesse momento t�o delicado. Para 58% dos en- trevistados, o consumo de programa��o cultural na web melhorou o relacionamento com as outras pessoas da casa, sendo que para 54% ajudou a diminuir a sensa��o de solid�o.
“O triste maior legado da pandemia no campo da sa�de s�o as doen�as de ordem mental. Com essas poucas perguntas, fica evidenciado o quanto a arte e a cultura devem cumprir um papel de acolhimento, de fazer pessoas se encontrarem com a arte e, a partir disso, se conectarem consigo mesmas e reconhecer seu entorno, sua fam�lia. Ficamos muito satisfeitos sobre como a arte melhora essas rela��es neste momento t�o cr�tico”, afirma Eduardo Saron.