
Cinco meses ap�s a data prevista, o Fliarax� – Festival Liter�rio de Arax� d� in�cio nesta quarta-feira (28) � sua nona edi��o e o faz no “modelo pandemia”, ou seja, em ambiente digital. At� domingo (1º), o evento vai apresentar, seja em transmiss�es ao vivo ou em encontros pr�-gravados, cerca de uma centena de autores, n�o s� brasileiros e portugueses, como de praxe, mas tamb�m de Cabo Verde, Timor Leste, S�o Tom� e Pr�ncipe, Guin�-Bissau, Angola e Mo�ambique.
Diferentemente das outras, a l�ngua portuguesa � a que mais reflete as contradi��es de seus pa�ses. Cada pa�s que fala a l�ngua tem uma caracter�stica social pr�pria”, afirma Afonso Borges, idealizador e curador do evento.
Dessa maneira, al�m de autores internacionais que j� estiveram no Fliarax� – o mo�ambicano Mia Couto, os portugueses Valter Hugo M�e e Gon�alo M. Tavares, o angolano Jos� Eduardo Agualusa, um dos homenageados desta edi��o – outros nomes internacionais se juntam ao time, como o romancista timorense Lu�s Cardoso e o cabo-verdiano Germano Almeida.
Do time brasileiro, destacam-se grandes nomes, como os acad�micos N�lida Pi�on e Ign�cio de Loyola Brand�o, Concei��o Evaristo (outra homenageada do festival), Milton Hatoum, Marina Colasanti, bem como autores mais jovens, como Raphael Montes e Joca Terron. H� ainda um elenco diverso, que vai da fil�sofa Djamila Ribeiro, hoje um dos nomes mais relevantes no combate ao racismo, a Ailton Krenak e Monja Coen.
Os dois patronos desta edi��o s�o Clarice Lispector e Jo�o Cabral de Melo Neto, ambos autores da terceira gera��o de modernistas, cujo centen�rio est� sendo celebrado em 2020. E tamb�m como nas vers�es anteriores do festival, h� uma ampla programa��o para crian�as e outra com autores araxaenses.
A promessa � de um festival com programa��o 24 horas. E diretamente de Arax�, diga-se de passagem. “� uma equipe de malucos. Se as pessoas pensam que fazer um festival virtual � s� sentar atr�s de um computador, est�o completamente enganadas. A mec�nica � alucinada e de dif�cil execu��o”, diz Borges, que est� no Grande Hotel de Arax� com uma equipe de 30 pessoas para realizar as transmiss�es. Muitas delas ser�o realizadas diretamente do Teatro Tiradentes, no Grande Hotel de Arax�. Sem p�blico, obviamente.
9º FLIARAX� – FESTIVAL LITER�RIO DE ARAX�
Desta quarta (28) a domingo (1º) pelo www.youtube.com/fliarax�, facebook.com/fliaraxa e no site www.fliaraxa.com.br

“A gl�ria bafeja um de
cada vez”, diz N�lida Pi�on
Das grandes amigas de Clarice Lispector (1920-1977), somente tr�s est�o vivas: a artista Maria Bonomi, de 85 anos, e as escritoras N�lida Pi�on e Marina Colasanti, ambas com 83. “Sendo que eu tive a tristeza imensa de acompanh�-la nos seus �ltimos 40 dias no hospital, at� na hora da despedida”, diz N�lida. No pr�ximo s�bado (31), N�lida e Marina se re�nem para celebrar a literatura e a amizade com Clarice em uma conversa que ser� transmitida �s 17h pelos canais do Fliarax�.
Em O livro das horas (2012), a senhora escreveu sobre como do�a falar em Clarice. Ainda d�i?
Muito menos. � engra�ado, durante anos, muita gente come�ou a falar em Clarice, gente que n�o a conheceu. Eu me refugiei na dor e na reserva, pois n�o quis fazer de Clarice um pretexto de ascens�o liter�ria. Quase n�o falava, nem em entrevistas, n�o pude dar entrevista nem para o Benjamin (Moser, autor de Clarice, uma biografia, de 2009). Agora j� posso falar, claro, guardando reservas e preservando a intimidade. � como se, de repente, a pr�pria imortalidade dela suavizasse a minha dor.
A senhora ia muito com Clarice ver a cartomante Nadir (que inspirou Madame Carlota, personagem de A hora da estrela), n�o?
Muito, at� que chegou o momento em que n�o fui mais. Chegamos a ir a uma cerim�nia de umbanda e levamos duas amigas, uma delas a famosa Carmen Balcells, a grande agente liter�ria. A Clarice tinha um lado maravilhosamente astuto. No hospital (N�lida a acompanhou at� a hora da morte, em 9 de dezembro de 1977, em decorr�ncia de c�ncer), ela me disse: ‘Engra�ado, N�lida, a Nadir n�o previu o que est� acontecendo?’. Ela queria saber sobre o estado dela. Eu disse: ‘Clarice, ela s� lhe diria se fosse uma coisa muito grave’. Ela ficou contente, jogou aquilo para ver se eu confirmava a suspeita dela.
Nos anos 1960, no in�cio de sua carreira, houve quem a comparasse a Clarice, ent�o uma escritora j� consagrada.
Houve por parte de um cr�tico que foi de uma grosseria imensa comigo, o Esdras do Nascimento. Teve o L�o Gilson Ribeiro, foram v�rios. Em compensa��o, outros me consagraram muito cedo. Uma mulher jovem que estreava na literatura era sempre relacionada com outra madura, nunca com um homem. A mulher estava marginalizada nas avalia��es est�ticas. � uma coisa terr�vel e que, ainda hoje, de certo modo, persiste. Ainda h� um espa�o maior reservado para o homem do que para a mulher. H� uma condescend�ncia em rela��o � produ��o liter�ria masculina e maior severidade com a mulher.
� impressionante como Clarice se tornou um fen�meno na internet e alcan�ou gera��es muito jovens. A senhora acompanha esse movimento?
Eu previ isso porque a gl�ria vai se depurando com o tempo. As pessoas v�o se dando conta da import�ncia de um escritor mais ou menos depois de sua morte. Se � que ele n�o cai num certo desterro. � muito impressionante o jogo de avalia��o liter�ria, oscila muito. Outra coisa que percebo, pelo menos no Brasil, mas acho que � um fen�meno geral, a gl�ria bafeja um de cada vez enquanto vivo. Aquele morre e um outro vai substitu�-lo. � como se um pa�s n�o abra�asse dois ou tr�s grandes nomes. Agora, tenho a impress�o de que h� frases que vejo citadas e n�o me parecem de Clarice. A Clarice n�o era piegas, e h� frases absolutamente piegas atualmente na internet atribu�das a ela.
MARCADOR DE LEITURA
Confira os destaques da programa��o do festival
Nesta quarta (28)
» 18h: Arte e cultura no Brasil em tempos de pandemia (Danilo Miranda e Afonso Borges)
» 19h: Paci�ncia – um dia de cada vez (Monja Coen)
» 20h: Ant�nio Fagundes e Valter Hugo M�e
Quinta(29)
» 16h: A l�ngua para contar: hist�rias de um povo e de um lugar (Bruno Vieira Amaral, Paulo Scott e Luiz Ruffato)
» 17h: Literatura e hist�ria (Lira Neto e Ign�cio de Loyola Brand�o)
» 18h: Que g�nero �: conto e cr�nica (S�rgio Rodrigues, Rodrigo Lacerda e Gon�alo Tavares)
» 19h: Literatura, identidade e pertencimento (Elisa Lucinda, Olinda Beja e Abdulai Sila)
» 20h: Gripe espanhola e pandemia hoje (Heloisa Starling e Lilia Schwarcz)
Sexta (30)
» 16h: Que g�nero �: poesia (Jo�o Lu�s Barreto Guimar�es, Adriana Lisboa e Mbate Pedro)
» 17h: Escrever em l�ngua portuguesa (Milton Hatoum, Teolinda Gers�o e Ronaldo Correia de Brito)
» 18h: Fic��o hoje (Noemi Jaffe, Jos� Lu�s Peixoto e Joca Terron)
» 19h: Filosofia e literatura (On�simo Teot�nio de Almeida e S�rgio Abranches)
» 20h: Cultura, cren�a e preconceito (Djamila Ribeiro e Afonso Borges)
S�bado (31)
» 16h: Literatura e cr�tica social (Germano Almeida e Jeferson Ten�rio)
» 17h: Patrona Clarice Lispector (N�lida Pi�on e Marina Colasanti)
» 18h: Patrono Jo�o Cabral Melo Neto (Antonio Carlos Secchin e Schneider Carpeggiani)
» 19h: Autor homenageado: Jos� Eduardo Agualusa
» 20h: Autora homenageada: Concei��o Evaristo (foto)

Domingo (1º/11)
» 16h: Romance policial (Santiago Nazarian, Raphael Montes e Eliana Alves Cruz)
» 17h: Entrelinhas da viol�ncia: escrever e denunciar (Ungulani Ba Ka Khosa e Itamar Vieira J�nior)
» 18h: O futuro das almas e do planeta (Mia Couto e Ailton Krenak)
» 19h: Que g�nero �: romance (Afonso Cruz, Ondjaki e Lucrecia Zappi)
» 20h: A mesma l�ngua, novos registros: g�nero e identidade (T�nia Ganho e Yara Monteiro)