
Desde 2013, a produ��o, a venda e o consumo da Cannabis sativa e seus derivados s�o legais e regulamentados pelo governo no Uruguai. O pioneirismo do pa�s platino na Am�rica Latina – j� visto em outras quest�es sociais hist�ricas, como o voto feminino –, desperta olhares curiosos nos pa�ses vizinhos, onde o enfrentamento policial �s drogas gera graves consequ�ncias h� d�cadas.
Atra�da pelo assunto, a cineasta mineira Bruna Piantino aproveitou sua estada em Montevid�u no ano passado para filmar o document�rio Xeque-mate, que procura abordar a complexidade da nova legisla��o relacionada � maconha, tra�ando um comparativo com um jogo de xadrez.
O filme estreou na 44ª Mostra Internacional de Cinema de S�o Paulo, na competi��o Novos Diretores, e pode ser visto na plataforma do evento, realizado em formato virtual neste m�s de outubro.
“H� muita complexidade na implanta��o de uma lei desse tipo. Primeiro, por causa da opini�o p�blica, da forma que uma sociedade se comporta. Depois, pelas lideran�as, por como um governo pode proporcionar esse tipo de abertura e usar isso estrategicamente, amparado por aspectos cient�ficos e sociol�gicos. O Uruguai deu um ‘xeque-mate’ na Am�rica Latina e no mundo ao mostrar que isso pode ser feito em muitos pa�ses. � uma discuss�o que vem desde os anos 2000. No Brasil, por exemplo, estamos 20 anos atrasados”, diz a diretora, estreante em document�rios, depois de lan�ar os curtas ficcionais 44 e Moths anteriormente.
Xeque-mate nasceu em uma oficina de realiza��o audiovisual da qual Bruna Piantino participou na capital uruguaia. Inicialmente, tamb�m seria um curta-metragem, mas o volume de informa��es resultou em um filme de pouco mais de uma hora de dura��o.
A diretora fez entrevistas com diversas pessoas envolvidas na cria��o da nova legisla��o, com produtores e outros envolvidos com a ind�stria can�bica. O filme tamb�m aborda a rela��o milenar da humanidade com a planta e suas possibilidades medicinais, recreativas e tamb�m as proibi��es e restri��es ao seu consumo.
EFEITOS
"A ideia � contar como essa regulamenta��o foi implantada, quais os efeitos para a popula��o, as dificuldades, e como isso aconteceu, para usar o Uruguai como um estudo de caso", diz Piantino.Figuras estrat�gicas como Edu- ardo Blasina, investidor can�bico e diretor do Museo del Cannabis Montevideo; Christian Scaffo, diretor do clube can�bico Golden Leaf; Julio Calzada, ex-diretor da Junta Nacional de Drogas; Mart�n Rodriguez, diretor-executivo IRCCA (Instituto de Regulaci�n y Control de Cannabis); al�m de profissionais da medicina, ci�ncias sociais, agricultura e farmac�utica oferecem seu ponto de vista. No entendimento da cineasta, eles s�o agentes que atuaram no processo da regulamenta��o do consumo da droga em seu pa�s como pe�as de um jogo de xadrez.
“Al�m de gostar de jogos e preferir um formato de document�rio que n�o seja muito fixado numa realidade, pensei que o xadrez teria uma grande rela��o com esse universo da Cannabis e das drogas em geral. O tabuleiro representa bem esse simulacro de uma guerra, com jogos de poder impl�citos. No xadrez, o mais importante � o que voc� n�o v�; os interesses por tr�s de cada movimento. O mesmo acontece com as for�as no tabuleiro geopol�tico relacionado �s drogas”, argumenta Bruna Piantino.
Dos depoimentos que ouviu, surgem aspectos como as dificuldades no cultivo da planta, as rela��es empresariais, o controle do governo uruguaio sobre os pre�os, o vi�s ligado ao canabidiol e outros medicamentos e ainda cr�ticas que ativistas da cultura can�bica t�m sobre a legisla��o do pa�s, considerada elitista e ineficaz contra o narcotr�fico por alguns.
A variedade de perspectivas tamb�m jogou luz em quest�es at� ent�o desconhecidas pela diretora. “Existe muita desinforma��o, mesmo com milhares de ONGs, empresas, m�es e crian�as que sofrem de dor cr�nica e conseguiram uma cura (com o uso do canabidiol). S�o muitas conquistas, mas o que falta, �s vezes, � mais aten��o da m�dia.”
Ela cita a mudan�a da opini�o p�blica uruguaia em rela��o ao tema. “Assim como outros casos ligados � liberdade individual, o projeto surgiu no Parlamento, com a popula��o inicialmente contra em sua maioria. Mas depois houve uma mudan�a. Hoje � algo naturalizado no pa�s.” Sobre um eventual paralelo com a situa��o brasileira, ela diz: “S�o pa�ses muito diferentes, incompar�veis em dimens�o, em mentalidade e em governan�a”.
DEBATE ABERTO
A Mostra de SP promove nesta sexta-feira (30), �s 18h, o debate “A maconha e seu uso medicinal”, com a participa��o de Bruna Piantino, do cineasta Beto Brant, diretor de La planta, e da m�dica Carolina Nocetti. A transmiss�o ser� pelo canal da Mostra no YouTube (www.youtube.com/user/mostrasp/videos). J� o filme Xeque-mate pode ser assistido na plataforma de exibi��o do evento (www.44.mostra.org/filmes/xeque-mate) at� o pr�ximo dia 4. O ingresso custa R$ 6.