
Nos �ltimos meses, Paulinho da Viola anda mais apegado ao viol�o e afastado de seu cavaquinho. Comp�e, mas tamb�m tem recuperado can��es do ba�, algumas inacabadas, outras esquecidas. E h� tempos n�o pisa na pequena marcenaria que mant�m no quintal de sua casa, no Rio de Janeiro, onde gosta de reparar instrumentos e outros objetos de madeira. Como se, neste per�odo de pandemia, o processo de cria��o – e de literalmente colocar a casa em ordem – se mostrasse mais urgente.
Mesmo sem parar de compor – a seu modo, sem pressa, geralmente estimulado por algum momento ou alguma ideia –, o m�sico de 77 anos ainda n�o tem data para lan�ar seu aguardado disco de in�ditas. O �ltimo foi o cl�ssico Bebadosamba, de 1996.
Elifas
Mas, em tempos tamb�m de resgates, a grava��o ao vivo de shows que ele apresentou durante quase um m�s no Teatro Fecap, em S�o Paulo, em 2006, deu origem ao disco Sempre se pode sonhar, que acaba de chegar �s plataformas digitais. A capa leva a assinatura de Elifas Andreato, que ilustrou 14 �lbuns ao longo da carreira de Paulinho.
O m�sico conta que demorou para ouvir as grava��es, porque elas estavam em um tipo de arquivo que n�o era f�cil acessar. Assim, s� ap�s a convers�o para outro suporte � que p�de ouvi-las – e diz ter se surpreendido com a qualidade dessas grava��es. Nesse processo, Jo�o Rabello, seu filho, o ajudou a selecionar a melhor vers�o de cada uma delas para o novo �lbum.
Foi uma sequ�ncia de shows impec�veis, em S�o Paulo. Logo na estreia, Paulinho mostrou um repert�rio que pouco mudaria ao longo das demais apresenta��es, mesclando cl�ssicos, como Nervos de a�o, Timoneiro, Cora��o leviano e Dan�a da solid�o; m�sicas que n�o cantava ao vivo havia tempos, como N�o quero voc� assim; e novas can��es em sua interpreta��o, como Para mais ningu�m (que j� tinha sido gravada por Marisa Monte), Sempre se pode sonhar (parceria com Eduardo Gudin) e Ela sabe quem eu sou, in�dita at� agora e que, no novo disco ao vivo de Paulinho, ganha a primeira grava��o.
Ainda nesta safra de novidades estava o samba Talism� (gravado depois, em 2007, no �lbum Ac�stico MTV de Paulinho), que foi fruto da parceria com Marisa Monte e Arnaldo Antunes.
Em meio � pandemia, Paulinho n�o cogita fazer shows antes da vacina, mesmo com a recente flexibiliza��o e a reabertura de casas de shows seguindo protocolos de seguran�a. “N�o h� a menor possibilidade disso agora”, diz.
O mesmo ele enfatiza ao comentar sobre o adiamento do carnaval em 2021 por conta do novo coronav�rus. “Enquanto n�o tiver uma vacina, uma seguran�a mesmo, acho que isso n�o volta. Como voc� vai fazer carnaval, que � uma coisa que re�ne milhares, milh�es de pessoas num determinado bloco, como tem hoje no carnaval de rua de S�o Paulo?”, questiona.
Um dos grandes nomes da m�sica brasileira que ainda n�o aderiu �s lives, ele tem pensado sobre o assunto e recebido convites para fazer apresenta��o nesse formato.
ROTINA
Por ora, Paulinho prefere manter sua rotina em casa, dedicando aten��o especial � m�sica. E diz que, sim, h� can��es para fazer um novo �lbum de in�ditas. “Tenho guardadas muitas letras, tenho at� melodias de amigos e parceiros que n�o consegui ainda colocar letra”, afirma. “Por exemplo, este per�odo agora que estou em casa, peguei mais o viol�o, mas, em vez de fazer sambas, vinha m�sica de viol�o, choros, uma valsa para viol�o. N�o sei explicar como isso acontece. Mas tenho muitas letras tamb�m de parceiros, e tem at� letras minhas que eu n�o consegui musicar. Se for fu�ar mesmo, poderia fazer um disco. Tenho um samba que eu fiz para o Elton (Medeiros) que n�o gravei”, conta.
Sobre a pandemia e se acha que as pessoas podem sair melhores dela, Paulinho acredita que “n�o necessariamente”. “Talvez saiamos diferentes. A gente n�o sabe o que vai acontecer. Voc� v� agora, por exemplo, na Europa, onde muita coisa estava liberada, foram obrigados a fechar muita coisa de novo. Ent�o, a gente n�o sabe o que vai acontecer depois. Imagino que, como temos visto no mundo, esperamos que haja consci�ncia em rela��o a isso, que � uma coisa que depende da gente, da ci�ncia. Como as pessoas v�o se comportar em rela��o a isso, como nossos dirigentes v�o se comportar em rela��o a isso? Ningu�m sabe. N�o h� certeza de nada.” (Estad�o Conte�do)
SEMPRE SE PODE SONHAR
.De Paulinho da Viola
.Sony Music
.22 faixas
.Dispon�vel nas plataformas digitais