Mineira Mariana Ruggiero conquista trof�u em Los Angeles

Com sua primeira atua��o em um longa-metragem – Piedade, do pernambucano Cl�udio Assis –, a belo-horizontina Mariana Ruggiero, de 39 anos, levou o pr�mio de melhor atriz coadjuvante no Los Angeles Brazil Festival, no �ltimo dia 25. 

Ela se formou em teatro no Centro de Forma��o Art�stica e Tecnol�gica (Cefart) da Funda��o Cl�vis Salgado, em 2004, quando o cinema em Belo Horizonte ainda estava 'engatinhando', conforme diz.  

“O que me levou muito para o audiovisual foi uma paix�o pelo cinema e o fato tamb�m de ter me formado em jornalismo”, conta. Como rep�rter, ela diz que j� fez a cobertura de diversos festivais de cinema do pa�s e pr�-estreias de filmes para o Canal Brasil.

Mariana come�ou a trilhar seu caminho no cinema participando de curtas-metragens em Belo Horizonte. Seu primeiro trabalho foi com a diretora Silvia Godinho, em Debaixo d'�gua (2010), cujo roteiro foi premiado pelo programa Filme em Minas. Ela participou tamb�m de Lunarium (2010), de Elza Cataldo, e Sobre os restos do dia (2011), de Alexandre Baxter e Luiz Felipe Fernandes. 

Foi na Mostra de Cinema de Tiradentes que a jornalista e atriz conheceu o cineasta Cl�udio Assis. Depois de assistir a Febre de rato (2011), ela decidiu escrever para Assis, expressando seu desejo de atuar em filmes dele. “O e-mail pode ser um pouco ousado para uma atriz que estava s� come�ando, mas eu fiquei t�o tocada pelo filme que falei: Cl�udio, vou estrear numa s�rie no Canal Brasil. Queria que voc� assistisse ao meu trabalho, adoraria trabalhar com voc�.’ Acho que ele escutou isso”, conta. 

A s�rie era Meus dias de rock (2015) e, pouco depois, o cineasta entrou em contato com Mariana, dizendo que tinha uma personagem em seu pr�ximo filme que se parecia com ela. Trata-se de F�tima, filha de Dona Carminha, interpretada por Fernanda Montenegro. Ap�s alguns testes e conversas com o diretor, Mariana conquistou o papel.

Ela recebeu a not�cia de que interpretaria a filha da personagem vivida por Fernanda Montenegro quando estava num �nibus, a caminho de seu trabalho em um Bistr� em S�o Paulo. “Na hora em que entendi, conversando com a Fernanda (Montenegro), que aquilo tamb�m era um desafio para ela, falei: olha, somos feitos da mesma mat�ria”, conta.

Na trama de Piedade, a rotina dos moradores da fict�cia cidade do t�tulo � abalada pela chegada de uma grande empresa petrol�fera, que decide expulsar todos de suas casas e empreendimentos para ter melhor acesso aos recursos naturais. 

Tamb�m est�o no elenco Cau� Raymond e Irandhir Santos, que interpretam os outros filhos de Dona Carminha. Matheus Nachtergaele vive o empres�rio paulista que tentar� desalojar a famil�a. 

Para viver a personagem, Mariana foi para Recife um m�s antes do �nicio das grava��es, no princ�pio de 2017. “Foi um trabalho de me distanciar completamente da minha realidade de Minas Gerais. Parei de ligar para todas as pessoas que conhecia, porque tinha que aprender o sotaque (pernambucano). Eu n�o podia conversar com minha m�e, sen�o me lembrava de como eu falava. Era conversar, desde a hora em que acordava, com as pessoas de Pernambuco.”

Pelo papel, a atriz concordou em descolorir os cabelos e, pela primeira vez, ficou loira. “Acredito que essa transforma��o f�sica � fundamental para ir ao encontro dos nossos personagens”, diz. 

As grava��es de Piedade foram realizadas no Porto de Suape, litoral sul de Pernambuco, e no Centro do Recife, onde Mariana come�ou a estabelecer rela��o com o elenco. Cl�udio Assis fazia quest�o de que a atriz sempre almo�asse com Fernanda Montenegro no set e criasse v�nculo com o n�cleo familiar do filme. 

Sendo assim, Mariana passou a ir � praia, cozinhar e ensaiar os textos com Fernanda Montenegro, Irandhir Santos e Francisco Moraes, cujo personagem tamb�m se relaciona com o n�cleo familiar. “A rela��o era muito trabalhada fora do set para que, na hora em que a gente estivesse ali em cena, essa intimidade chegasse para o espectador.”

Para Mariana, Cl�udio Assis � um diretor capaz de “demonstrar uma realidade crua, rasgada e cheia de poesia, contradi��o e arte”. Ela conta que o cineasta incentivava o elenco de diversas maneiras, como, por exemplo, ao interromper as grava��es para mostrar um �udio da Fernanda Montenegro cantando. 

“Ele n�o tem esse limite burocr�tico de diretor e atores. � um cara muito generoso e que absolutamente n�o liga para exposi��o. O Cl�udio vai te contar onde � a dor dele. Ele quer que voc� entenda essa dor e essa poesia, mas, ao mesmo tempo, te provoca quando acha que precisa de mais.”

A pr�-estreia de Piedade ocorreu no fim de 2019, no Festival de Cinema de Bras�lia. O cronograma de lan�amento foi afetado pela pandemia do novo coronav�rus. O filme ainda n�o tem previs�o de estreia nas salas de cinema ou plataformas de streaming e vem fazendo pr�-estreias no formato on-line em alguns festivais, como o Los Angeles Brazil Festival. 

Para Mariana, a pr�-estreia nesse cen�rio at�pico foi “um presente”. “A pandemia est� estabelecida, n�o tinha como a gente fugir dela. De repente, a gente driblar essa situa��o e Piedade surgir de uma forma on-line acho que � quase uma resist�ncia.”

Ela diz que o pr�mio no 13º Los Angeles Brazil Festival a pegou de surpresa, obrigando-a a improvisar um discurso de agradecimento. “Esse pr�mio talvez seja pela minha entrega ou por ser um personagem completamente diferente de mim”, diz. 

Al�m de Mariana, Fernanda Montenegro, Matheus Nachtergaele e Cau� Reymond foram premiados pela atua��o em Piedade. 

“N�o tinha a expectativa de ganhar o pr�mio, justamente por estar com aqueles nomes todos ali. Meu papel � muito importante no filme, ele est� no n�cleo principal da hist�ria, mas as personagens femininas n�o t�m tantas cenas assim. O protagonismo � masculino. Ent�o, fico muito feliz. Se eles olham para mim e enxergam o meu trabalho, � tudo de que um ator precisa.”