
A autoriza��o para que teatros e casas de espet�culos voltem a receber o p�blico foi dada pela Prefeitura de Belo Horizonte no �ltimo dia de outubro, por meio de decreto. Por�m, apesar dos protocolos sanit�rios estipulados para proteger artistas, t�cnicos e plateia, a volta aos palcos diante do espectador ainda � algo distante para algumas das principais companhias de artes c�nicas de BH. Obrigadas a se adaptar ao meio virtual para se manterem na ativa, elas vivem um momento de aprendizado e incerteza."Pensar na presen�a do p�blico n�o � realidade para n�s. Ainda estamos nos preparando"
Raquel Pedras, atriz do Armatrux
“N�o temos a perspectiva de abrir presencialmente nem em dezembro nem em janeiro. Estamos aguardando a vacina, acompanhando a evolu��o da pandemia, se vai ter segunda onda. Cansamos de reformular, plano A, plano B, plano C... Nada d� certo diante da indefini��o da pandemia. Ent�o, vamos ter muitas dificuldades em 2021. Se o poder p�blico n�o se engajar responsavelmente no apoio �s artes c�nicas, haver� um estrago maior do que o que j� vivemos”, alerta o ator e diretor Chico Pel�cio, integrante do Grupo Galp�o desde 1982 e idealizador do Centro Cultural Galp�o Cine Horto.
"Cansamos de reformular, plano A, plano B, plano C... Nada d� certo diante da indefini��o da pandemia. Ent�o, vamos ter muitas dificuldades em 2021%u201D
Chico Pel�cio, ator do Galp�o
BILHETERIA
Uma das mais longevas e reconhecidas companhias de teatro do Brasil, o Galp�o j� enfrentava situa��o complicada antes da pandemia, quadro que se agravou a partir de mar�o, com a suspens�o de espet�culos e bilheterias fechadas.
“Nunca trabalhamos tanto como neste ano. Primeiro, pelo abandono que a arte e a cultura enfrentam neste pa�s e nesta cidade. Faltam apoio, possibilidades e financiamento”, diz Pel�cio. “J� era uma crise antes da pandemia, e com a COVID tivemos de nos adaptar. A arte e a cultura reagiram de forma solid�ria, cidad�, de forma emp�tica. Nos reinventamos para estar junto do p�blico, especialmente atrav�s de plataformas virtuais, que raramente s�o remuneradas.”
Por meio da internet, o Galp�o Cine Horto transmitiu, no fim de outubro, o tradicional Festival Cenas Curtas, realizado desde 2000. Foi cobrado ingresso de R$ 5 para uma mostra espec�fica do evento. Chico Pel�cio diz que o momento � de aprendizado, de conhecer melhor como fazer e como se relacionar com o p�blico neste novo ambiente, que, segundo ele, pode ser mais inclusivo.
“H� experi�ncias bem-sucedidas, como essa do Cenas Curtas. Foi uma forma de aprender sobre o mecanismo. Al�m disso, podemos pensar em p�blicos maiores. Se no teatro cabem 200 pessoas, na internet podemos alcan�ar 1 mil, 10 mil, se houver grande qualidade art�stica. Meu sonho �, um dia, me apresentar para 100 mil pessoas”, revela.
Em abril, o grupo planejou a Mostra Reencontro de Teatro de BH para dezembro, no Galp�o Cine Horto. Seriam selecionados 16 espet�culos de 16 companhias locais com o prop�sito de promover o setor, abalado pela pandemia que ainda se iniciava.
“Imagin�vamos que em dezembro seria poss�vel um evento com p�blico e bilheteria, mas, hoje, a nossa �nica possibilidade � realiz�-lo on-line”, diz Chico Pel�cio. A mostra deve ser transmitida ao vivo na primeira quinzena do m�s que vem.
No segundo semestre, o Grupo Galp�o aproveitou o isolamento social para iniciar os estudos sobre sua pr�xima pe�a. Outros projetos tiveram de ser adaptados devido � impossibilidade de realizar sess�es com a presen�a do p�blico.
“T�nhamos um espet�culo quase pronto, que teria estreado em abril, no Festival de Teatro de Curitiba (Quer ver escuta). Ele acabou virando filme gra�as �s tentativas de continuar ensaiando a dist�ncia. Virou document�rio”, informa o ator, referindo-se a �ramos em bando, dispon�vel no canal do grupo no YouTube. “Vamos adiantando o que podemos, mas sem a perspectiva do encontro, da aglomera��o. Isso tudo est� em suspenso.”
"Os teatros est�o reabrindo com protocolos, mas temos responsabilidade com o p�blico, com os artistas e t�cnicos. H� muita gente envolvida, teatro � aglomerativo"
Cl�udio Dias, ator da Luna Lunera
RUA
O mesmo vale para o projeto P� na Rua, que selecionou espet�culos de olho na possibilidade de realizar sess�es a c�u aberto – ideia invi�vel, por enquanto. “Ele estava praticamente pronto para estrear nas ruas em dezembro, mas n�o ser� poss�vel. Vamos gravar em local fechado, para n�o perder o material, e tentar fazer a programa��o na rua em 2021”, informa o diretor.
Embora considere positivo o aprendizado sobre “a linguagem h�brida entre teatro e audiovisual” dos projetos on-line, Chico Pel�cio tem preocupa��es quanto ao futuro imediato que n�o decorrem da pandemia. “Vamos levar esse abandono completo da arte e da cultura. � a pior parte, essa persegui��o, essa ignor�ncia. O abandono por parte do munic�pio, do estado. O coronav�rus vai passar, a vacina vir�, mas isso n�o”, adverte.
“Hoje, s� o que nos sobrou foi a Lei Aldir Blanc, uma gota d’�gua no deserto”, reclama Pel�cio, lamentando o cancelamento do FIT (Festival Internacional de Teatro), inicialmente previsto para este m�s. A decis�o da prefeitura se deve � COVID-19.
Outra companhia de destaque da capital, a Luna Lunera trabalha com a hip�tese de n�o se reencontrar com o p�blico t�o cedo. Cursos de forma��o e espet�culos v�m sendo realizados no formato virtual e assim dever�o seguir em 2021.
“H� v�rias perguntas. O p�blico vai querer voltar? H� muita inseguran�a para todos n�s, artistas e t�cnicos. Todos t�m quest�es pessoais, pessoas pr�ximas no grupo de risco. � muito delicado. Achamos prudente manter a rela��o virtual com o p�blico”, argumenta Cl�udio Dias, ator, diretor e fundador do grupo, que completar� 20 anos em 2021.
H� planos para a celebra��o das duas d�cadas de atividades, entre eles uma mostra especial em 2021, cuja viabiliza��o financeira est� garantida, com projeto aprovado e captado via edital. Por�m, a Luna Lunera vai “aguardar o desenrolar da pandemia”, diz Cl�udio. O mesmo vale para outras iniciativas pensadas para o pr�ximo ano.
“Tudo est� muito incerto. Sabemos que os teatros est�o reabrindo com protocolos, mas temos responsabilidade com o p�blico, com os artistas e t�cnicos. H� muita gente envolvida, teatro � aglomerativo. Essa incerteza ainda ronda tudo”, pondera o ator.
CAMPANHA
O grupo se recusa a participar da 47ª Campanha de Populariza��o do Teatro e Dan�a de Minas Gerais, que abriu inscri��es este m�s, com temporada em janeiro e fevereiro. “Preferimos aguardar. Em reuni�o, decidimos que n�o � hora para o retorno, apesar da vontade enorme de nos relacionarmos presencialmente com o p�blico”, explica Dias.
Enquanto isso, a Luna Lunera se conecta virtualmente com o espectador por meio de eventos como o Quarta queer, realizado em parceria com a plataforma Beijo. Em breve, deve anunciar a sess�o on-line da pe�a E ainda assim se levantar, a oitava montagem da companhia, que ficou em cartaz em 2019. Por�m, Cl�udio Dias n�o esconde a preocupa��o com as bilheterias fechadas e a suspens�o das turn�s, lembrando que h� custos para sustentar o grupo.
“Temos uma sede, equipamentos, cen�rios. Como manter isso por tanto tempo sem viagens e apresenta��es? Estamos sem equipe espec�fica de produ��o, n�s mesmos cuidamos da administra��o. Muitas outras companhias est�o passando por essa situa��o. Por isso solicitamos, por meio do Movimento de Espa�os de Teatro Dan�a e Circo (Meta), planos emergenciais para o setor. Infelizmente, alguns grupos tiveram que parar ou entregar espa�os, como o Microteatro La Movida. Necessitamos de algo para j�, pois o teatro foi o primeiro a parar e ser� o �ltimo a voltar”, afirma Cl�udio Dias.
O grupo Armatrux, que completa 30 anos em 2021, vive o mesmo drama. “A gente se mant�m em quarentena. N�o paramos as atividades, continuamos as reuni�es virtuais e conversando artisticamente. Realizamos encontros para lives, mas com todos os cuidados, fazendo testes antes, pois temos familiares em grupos de risco”, conta a atriz Raquel Pedras. “Pensar na presen�a do p�blico n�o � realidade para n�s. Ainda estamos nos preparando.”
Durante a pandemia, a companhia fez duas apresenta��es ao vivo: as pe�as Armatrux, a banda, transmitida diretamente do espa�o pr�prio C.A.S.A.(Centro de Arte Suspensa & Armatrux), e Palhaceia, no palco do Sesc Palladium.
QUASE 30
Outro projeto � o audiovisual Quase 30, refer�ncia ao 30º anivers�rio do Armatrux, reunindo leituras com integrantes da companhia. “A gente se movimentaria muito em uma grande celebra��o, mas n�o sabemos se ela poder� acontecer. Ent�o, falamos do atual momento, deste quase 30 que nos colocou no lugar de muitas reflex�es, cada um em casa. � sobre a falta de encontro, essa coisa do talvez”, diz Raquel.
O v�deo j� foi disponibilizado nas redes sociais do Armatrux. O grupo prepara outras atividades virtuais para os pr�ximos meses, mas n�o revela detalhes sobre elas.
Enquanto as companhias articulam atividades alternativas, a Prefeitura de Belo Horizonte informa, em nota da Secretaria Municipal de Cultura, que est� “concluindo os preparativos para a reabertura dos teatros p�blicos municipais, com a defini��o de programa��o e finaliza��o da adequa��o ao protocolo sanit�rio vigente”.
A PBH promete anunciar as primeiras atra��es em breve. De acordo com o Executivo municipal, o decreto vigente n�o prev� a libera��o de pe�as, shows e demais espet�culos em espa�os p�blicos como pra�as e parques.