Existem in�meras formas de lidar com a separa��o. Deixar se levar pela tristeza � uma delas. Nesse caso, os artistas saem em vantagem: podem transformar a dor pessoal em algo universal como, por exemplo, a m�sica. No �lbum Por a�, que chega nesta quinta-feira (19) �s plataformas digitais, o mineiro Marcus Lopes revisa suas perdas amorosas e mostra uma percep��o poeticamente agu�ada sobre o que elas significam.
“Quando esses relacionamentos acabaram, deixei partes de mim com as pessoas com quem namorei. E n�o s� nas pessoas, tamb�m nos momentos e nos lugares. � por isso que o verso 'tem um peda�o meu por a�' abre e fecha o disco. O grande tema das m�sicas � esse”, explica o cantor e compositor.
''Minhas m�sicas sempre foram meio tristes, ent�o podemos dizer que sou dessa gera��o meio desencantada''
Marcus Lopes, cantor e compositor
ANTIGAS
Entre as nove faixas est�o composi��es escritas h� quase uma d�cada e outras que coincidem com o lan�amento do �lbum de estreia, Despedida, em 2018. Na �poca, Marcus avaliou que elas n�o condiziam com o repert�rio daquele trabalho, mas j� sabia que o material era suficiente para um pr�ximo disco.“As m�sicas n�o conversavam com a tem�tica do �lbum, mas naquele momento entendi que poderia fazer outro trabalho sobre um tema que juntasse essas outras can��es. Por isso, a faixa mais antiga do novo disco foi composta em 2012. O repert�rio foi crescendo com o tempo. A produ��o do meu primeiro �lbum foi meio problem�tica, ent�o parti de um lugar de desconforto para criar o novo trabalho”, conta Marcus.
A grava��o, realizada no est�dio Frango no Bafo, em BH, come�ou em 2019. Portanto, Por a� n�o � um disco que reflete sobre a pandemia, ainda que algumas can��es possam ser interpretadas assim. Em Feliz ano novo, por exemplo, ele canta “te encontrar � proibido” e “feliz ano novo perdido”, frases que poderiam ter sido escritas em 2020, durante o isolamento social. No entanto, a letra remonta � separa��o vivida em 2013.
“A letra fala sobre o fim de um relacionamento com uma mo�a que foi morar longe por conta do Ci�ncias sem Fronteiras. Ela ia se mudar em janeiro e n�s passamos o ano-novo juntos, por isso digo que foi 'perdido'. Era uma �poca muito boa, mas ao mesmo tempo muito triste”, lembra.
Para ele, n�o h� problema se as pessoas interpretarem a letra de acordo com o contexto atual. “� daquelas coisas que t�m um significado para quem fez, mas quando ganha o mundo passam a significar outra coisa. Gosto dessa interpreta��o, n�o acho que seja for�ada.”
Produzido Marcus, Henrique Matheus e Thiago Corr�a, integrantes da banda Transmissor, o disco traz arranjos minimalistas e ecoa o folk norte-americano. Por a� desenha um caminho bastante linear, cheio de letras confessionais, como � o caso de T�o maior, em que o autor parece se conformar com uma das separa��es que enfrentou.
Arranjos simples revelam can��es delicadas como Imagino eu e Fosse som. Apesar de muito parecidas, Redemoinho e Podemos errar percorrem caminhos contr�rios. Enquanto a primeira ganha corpo com um riff de guitarra, a segunda cresce com a inser��o de uma esp�cie de coro. O �nico detalhe que falta s�o vocais agudos, o que a voz afinada do m�sico deixa entender que � capaz de fazer.
Marcus brilha na s�tima faixa, Por enquanto, cujo instrumental � marcado por piano, guitarra e trompete. A qualidade se mant�m em Despedida, a �nica em que a bateria aparece.
“Minha inten��o era criar uma atmosfera lo-fi, com menos cara de banda”, conta Marcus. Aos 29 anos, ele se divide entre a m�sica e a publicidade. Para 2020, planejava dedicar aten��o especial � carreiraart�stica, o que teve que ser adiado por conta da pandemia.
“Como me considero mais compositor do que cantor, n�o cumpria agenda de shows. Mas tinha planos de fazer shows com esse disco. Perdemos completamente o norte de como e quando lan�ar, foi um tremendo banho de �gua fria. Mas em 2021 vamos poder retomar. Pelo menos � o que espero”, torce.
MELANCOLIA
Grata surpresa deste ano cheio de bons lan�amentos na cena autoral de BH, Por a� est� de acordo com a melancolia que paira sobre os discos de 2020, o que j� virou tra�o geracional da cena mineira.“Com tudo o que a gente vem vivendo nos �ltimos anos no Brasil, � natural que essa tristeza apare�a. Mas, na real, minhas m�sicas sempre foram meio tristes, ent�o podemos dizer que sou dessa gera��o meio desencantada”, confirma Marcus.
Uma gera��o que, apesar de tudo, tem produzido bons frutos.
POR A�
• De Marcus Lopes
• Nove faixas
• Sentinela Discos
• Dispon�vel nas plataformas digitais